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07/Fev/2022

Dólar avança com payroll e PEC dos Combustíveis

O dólar subiu no mercado doméstico de câmbio e se firmou acima do patamar de R$ 5,30 na sexta-feira (04/02), em meio a uma onda de valorização da moeda norte-americana frente a divisas emergentes. Dados surpreendentes da geração de empregos nos Estados Unidos levaram a um aumento das apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai promover, a partir de março, uma alta mais forte e extensa da taxa de juros. Aos ventos externos negativos somou-se a volta do temor de recrudescimento do risco fiscal doméstico. O senador Carlos Fávaro (PSD-MT) apresentou uma versão da PEC dos Combustíveis que, além de permitir redução de tributos sobre combustíveis em 2022 e 2023 sem compensação fiscal, traz uma série de bondades, como auxílio-diesel a caminhoneiros, subsídio ao transporte público e aumento da cobertura do vale-gás. Segundo cálculos iniciais da equipe econômica, essa proposta teria impacto fiscal de mais de R$ 100 bilhões, enquanto o texto apresentado na Câmara dos Deputados implicaria renúncia entre R$ 52 bilhões e R$ 54 bilhões.

Não por acaso, a proposta teria sido apelidada nos bastidores do Ministério da Economia de "PEC Kamikaze". Na abertura dos negócios, o dólar até ensaiou uma nova rodada de queda, descendo até a mínima de R$ 5,28 (-0,27%), mas virou ainda pela manhã, com a divulgação do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos, e não apenas rompeu o nível de R$ 5,30, como passou a ser negociado na casa de R$ 5,34. O momento de maior pressão sobre o Real se deu no início da tarde e coincidiu com a informação sobre o impacto fiscal da PEC dos Combustíveis apresentada no Senado. Foi quando o dólar furou pontualmente o patamar de R$ 5,35. Com a desaceleração do ritmo de alta da moeda norte-americana no exterior e a virada do Ibovespa para o campo positivo, o dólar perdeu parte do fôlego no Brasil e fechou a R$ 5,32, avanço de 0,50%, emendando o terceiro dia seguido de alta. Mesmo assim, o dólar encerra a semana em queda de 1,26%. No ano, a desvalorização acumulada é de 4,55%.

O contrato de dólar futuro para março subiu 0,75%, a R$ 5,35, com giro de US$ 12,3 bilhões. No exterior, o índice DXY (que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas) chegou a tocar os 95,700 pontos, mas desacelerou para a casa de 94,400, operando em leve alta. O dólar subiu em bloco frente a divisas emergentes e de exportadores de commodities, como raras exceções, como o rublo. O payroll mostrou criação líquida de 467 mil empregos em janeiro, bem acima da expectativa do mercado (150 mil vagas). Mais: o salário médio por hora aumentou 0,73% em relação a dezembro, superando a previsão de alta de 0,50%. Esses dados ofuscaram o fato de a taxa de desemprego ter passado de 3,9% em dezembro para 4% em janeiro. Além da surpresa com o número de postos de trabalho criados no mês passado, houve revisão de geração vagas em dezembro (de 199 mil para 510 mil) e em novembro (de 249 mil para 647 mil).

Segundo a RB Investimentos, pensando em política monetária, o payroll sacramenta a alta de juros nos Estados Unidos em março e ainda dá espaço para parte do mercado pensar que o Fed pode começar com 0,50%, embora a grande aposta ainda seja de 0,25%. É preciso, contudo, relativizar parte da surpresa com o payroll, já que, no início da semana passada, as expectativas haviam sido reduzidas. Na sexta-feira (04/02), não só a moeda brasileira, mas outros emergentes saíram perdendo. O dólar tem alta mais forte em relação a pares (da moeda brasileira), como o rand sul-africano. Embora o diferencial entre juros internos e externos tenda a continuar elevado mesmo com uma alta mais pronunciada da taxa nos Estados Unidos, é natural que haja um ajuste de posições no mercado doméstico de câmbio em dia de fortalecimento global do dólar e de elevação das taxas dos Treasuries. Nunca é demais lembrar que o Real, visto como muito depreciado até o fim do ano passado, foi um dos grandes vencedores na onda recente de apreciação de divisas emergentes, graças ao fluxo positivo para a Bolsa brasileira e ao aumento da atratividade das operações de "carry trade".

A JF Trust observa que, além do payroll forte, o dólar é pressionado pela "flexibilização fiscal" no Congresso brasileiro, com apresentação de PECs que representam perda de arrecadação. Existe um movimento da base política do governo para aumentar gastos e reduzir impostos, o que piora o fiscal. A entrada robusta de recursos para a Bolsa local, com consequente melhoria do fluxo cambial, já foi absorvida pelo mercado. O fluxo para economias emergentes, como o Brasil, ainda é favorável no curtíssimo prazo, mas o movimento mais expressivo ocorreu em janeiro. E o ajuste mais relevante da posição vendida dos bancos também já é retrovisor. O novo posicionamento do Banco Central, que sinalizou redução do ritmo de alta da Selic e proximidade do fim do ciclo de aperto, também contribui para um retorno da taxa de câmbio ao patamar de R$ 5,30. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.