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25/Jan/2022

A deterioração do mercado de trabalho brasileiro

O mercado de trabalho no Brasil estará pior no fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro do que estava no início. O total de desempregados, de 12,2 milhões de pessoas em dezembro de 2018, deverá alcançar 14 milhões no fim de 2022. A despeito de celebrações estrepitosas do presidente da República e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, com a geração de empregos formais nos últimos meses, o mercado de trabalho nacional, fortemente marcado pelo crescimento da informalidade, vem tendo recuperação muito lenta e vem perdendo qualidade. A pandemia responde por boa parte da deterioração e do atraso na redução do desemprego. Mas o fato de que, também nessa questão, como na do crescimento e do controle da inflação, o Brasil está pior do que os demais países é sinal de que há problemas específicos. Erros, omissões, despreparo e incompetência do governo Bolsonaro nos campos econômico e social são os mais óbvios deles. Mais uma vez, o Brasil apresentará um dos piores resultados entre os países da América Latina, de acordo com relatório da Organização Mundial do Trabalho (OIT) sobre o mercado de trabalho em 2022.

E a América Latina é, entre todas as regiões do mundo, a que enfrenta problemas mais graves para a recuperação de seu mercado de trabalho. São preocupantes as projeções para o emprego em todo o mundo ao longo deste ano. A OIT revisou para baixo sua previsão para a recuperação do mercado do trabalho no mundo. Aumentou sua previsão de déficit de empregos em tempo integral no ano e estendeu para depois de 2023 sua projeção para o retorno do desemprego aos níveis observados antes da pandemia. Por terem buscado ocupação por períodos longos sem consegui-la, muitos trabalhadores desistiram da procura, razão pela qual, do ponto de vista estatístico, deixaram de fazer parte da força de trabalho. É um fenômeno mundial decorrente da pandemia. A OIT estima que, no fim deste ano, a força de trabalho mundial continuará menor do que a de 2019. Outro problema que a pandemia causou foi o aprofundamento das desigualdades dentro de um país e entre os países, o que enfraqueceu o tecido social, econômico e financeiro de quase todos eles.

E esse mal levará anos para ser reparado, com consequências duradouras sobre a força de trabalho, a renda do trabalho, a coesão social e até na política. Após dois anos de crise, as perspectivas permanecem frágeis e o caminho para a recuperação é lento e incerto. No caso do Brasil, o impacto negativo da Covid-19 não foi apenas sobre a força de trabalho e a taxa de desocupação. Outro efeito da pandemia, mais sério e de duração mais longa, foi a perda de qualidade do emprego. O mercado de trabalho brasileiro já enfrentava a tendência de aumento da informalidade e do emprego temporário. Esse último tipo de ocupação representava 22% do emprego no País em meados de 2020 e subiu para 37% no primeiro trimestre do ano passado. Essa mudança afeta a produtividade do trabalho e pode comprometer o desenvolvimento futuro. A taxa de desocupação, de 12,6% no terceiro trimestre de 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), praticamente voltou ao nível do primeiro trimestre de 2020, início da pandemia.

Mas, há uma piora da qualidade da ocupação. Entre o primeiro trimestre de 2020 e o terceiro de 2021, o total de desempregados há mais de um ano cresceu 37%: de 4,758 milhões para 6,508 milhões. Quanto mais tempo uma pessoa fica sem emprego, torna-se mais difícil para ela se recolocar, e foi isso que a pandemia provocou. Depois de ficar desocupado por um longo período, quando o trabalhador se recoloca, provavelmente a qualidade da vaga é ruim. A recuperação dos postos se concentra em ocupações com rendimentos de até um salário-mínimo. No mesmo período, os ocupados com essa renda passaram de 28,476 milhões para 33,635 milhões. São 5 milhões a mais ganhando até um salário-mínimo, é assustador. A recuperação dos postos de trabalho tem sido cada vez mais concentrada em ocupações com rendimentos menores também no emprego formal. Por seis meses seguidos o salário médio real, descontada a inflação, de admissão do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) está em queda, assim como o rendimento médio real medido pela da Pnad, que engloba também a informalidade.

Ao mesmo tempo, desde o início da pandemia, os números da Pnad indicam redução de 8% na quantidade de ocupados com rendimentos superiores a dois salários-mínimos. O mercado de trabalho mal tinha se recuperado da forte crise de 2015 e 2016 quando chegou a segunda crise, provocada pela pandemia. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), quando a pandemia começou, o mercado de trabalho brasileiro estava fragilizado e a recuperação dos postos ocorria por meio da informalidade. Além disso, já existiam problemas estruturais para preencher vagas mais qualificadas que foram agravados pela maior demanda por profissionais voltados para tecnologia, que se intensificou com o isolamento social. A baixa remuneração e qualidade dos empregos que estão sendo gerados está atrelada à incapacidade de o brasileiro médio se inserir em um posto que exija mais habilidades. O movimento das empresas de intensificar o uso de capital e de tecnologia e utilizar menos mão de obra já vinha acontecendo antes da pandemia. Isso já tinha levado muitos trabalhadores a buscar ocupação na informalidade.

Com a pandemia, o quadro se agravou. A grande questão do mercado de trabalho hoje é não só olhar para a recuperação na quantidade de postos, que, de fato, está acontecendo, mas também para a qualidade do emprego, que piorou. Uma conjugação negativa de fatores leva as pessoas a aceitarem uma remuneração menor. Existe um grande contingente fora do mercado, o desalento é elevado, a inflação alta consome boa parte dos rendimentos e o poder de barganha dos trabalhadores para obter reajustes é cada vez menor. No ano passado, 47,7% das negociações salariais ficaram aquém da inflação. Foi o pior resultado desde 2018. Reajuste abaixo do custo de vida é resultado de uma combinação de inflação alta com recessão. Quando a desocupação está muito elevada, os sindicatos não têm poder de barganha nas negociações. É o pior cenário para os trabalhadores. Para romper esse círculo vicioso de desemprego alto e precarização do trabalho, a saída é o País voltar a crescer 2,5% ao ano de forma sustentável por um longo período. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.