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19/Jan/2022

Auxílio Brasil terá um efeito limitado na economia

Segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). o aumento do endividamento da população brasileira a patamares recordes ao longo da pandemia de Covid-19 deve subtrair do varejo e dos serviços mais de um quarto dos recursos que serão injetados na economia pelo Auxílio Brasil. O pagamento do benefício começou a ser liberado pelo governo nesta terça-feira (18/01). Dos R$ 84 bilhões que serão liberados pelo programa a aproximadamente 17,5 milhões de pessoas ao longo de 2022 (considerando o benefício mensal de R$ 400), 70,43% serão revertidos em consumo imediato, o equivalente a R$ 59,16 bilhões: R$ 28,04 bilhões gastos no varejo e outros R$ 31,12 bilhões no setor de serviços. Outros R$ 21,62 bilhões serão destinados ao pagamento de dívidas, 25,74% do total de recursos liberados pelo programa, enquanto R$ 3,21 bilhões irão para a poupança, apenas 3,83% de todo o montante a ser transferido aos beneficiários.

Apenas uma parcela muito pequena da população tem condições de poupar. O consumo imediato depende de fatores como massa de rendimentos, nível de preços e grau de endividamento da população. Quanto maior o grau de endividamento das famílias, maior tende a ser a parcela do orçamento doméstico destinada ao pagamento de dívidas. A cada 1% de comprometimento da renda, o estímulo ao consumo é reduzido em 0,71%. O último dado divulgado pelo Banco Central, referente a setembro de 2021, mostrava 30,33% da renda das famílias comprometidos com dívidas. No pré-Covid, na média do ano de 2019, esse percentual era de 24,7%. Em quase dois anos, avançou mais de 5%. A projeção é de que 35,9% da renda das famílias brasileiras estará comprometida com dívidas na média do ano de 2022.

O levantamento considera todas as contas a pagar, tanto as que estão ainda por vencer como as que já estão em atraso. A perspectiva de piora é explicada pelas condições ainda difíceis do mercado de trabalho, pela inflação elevada e pela alta na taxa básica de juros, que encareceu o crédito para pessoas físicas. Se o patamar de endividamento recuasse ao nível pré-Covid (24,7%), o total de recursos do Auxílio Brasil destinados ao consumo de bens e serviços seria maior, de R$ 65,91 bilhões. Haveria uma injeção de recursos no comércio bem maior. O consumo deixará de receber um aporte da ordem de R$ 6 bilhões por conta desse aumento do endividamento. Para a Wealth High Governance (WHG), o Auxílio Brasil deve ter impacto restrito na economia em 2022. O programa deve contribuir com 1,3% para a variação real da massa salarial ampliada, que congrega rendimentos do trabalho e benefícios sociais e previdenciários, este ano.

Mas, esse número é insuficiente para compensar o impacto negativo de 2,7% do fim dos pagamentos do auxílio emergencial. Não vai fazer grande diferença no resultado final, primeiro por causa da inflação alta, que acaba corroendo parte dos rendimentos, e não é nada parecido em termos de escopo com o que foram as medidas de meados de 2020. Em termos reais, a massa salarial ampliada deve subir 0,5% este ano, o que não é uma injeção de dinheiro a ponto de levar a uma expansão do consumo. Da mesma forma, a LCA Consultores observa que o impacto do Auxílio Brasil sobre a economia deve ser limitado este ano. A participação do novo programa na massa total de renda da população deve atingir um pico de 2,6% em junho de 2022 e se manter em uma média de 2,0% ao longo do ano. Não é um impulso significativo. É um cenário difícil e de pouco impacto.

Por mais que tenha dobrado o valor do Bolsa Família, é um programa mais político do que econômico, do ponto de vista de como isso deve afetar o PIB. Com o efeito restrito do Auxílio Brasil na massa salarial ampliada, a WHG, enxerga um baixo impacto do novo programa sobre a aprovação do presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano das eleições. Quando se pensa em traduzir esse efeito para a popularidade presidencial, obviamente não é grande o suficiente para compensar outros fatores. O levantamento da CNC considera dados das Contas Nacionais, da inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares, todos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da série histórica do nível de endividamento de pessoas físicas iniciada em 2005 pelo Banco Central. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.