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17/Dez/2021

Grãos: custos de produção com tendência de alta

No Brasil, os preços da soja e do milho têm se mantido em patamares fortalecidos, mesmo com o potencial de safra recorde no ciclo 2021/2022. Por outro lado, os custos de produção apresentam tendência de forte alta. Citando Mato Grosso como exemplo, desde o início deste ano, os custos de produção de soja e milho já avançaram cerca de 48% e 36%, respectivamente, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), com destaque para o aumento do peso dos fertilizantes no total. No Paraná, o comportamento dos custos foi na mesma linha, com avanços de mais de 50% em 2021 para a primeira safra, segundo acompanhamento do Departamento de Economia Rural (Deral/Seab). Quanto aos fertilizantes, desde janeiro até o início de dezembro, os preços dos produtos internalizados no Brasil mais do que dobraram, com os valores de alguns nutrientes, como nitrogenados e potássicos, crescendo mais de 200% no período.

Com isso, as relações de troca da soja e do milho passaram para patamares muito elevados, sendo necessário um número bem maior de sacas de 60 Kg dos grãos para fazer frente à compra de 1 tonelada de adubo. Esses custos elevados têm trazido questionamentos quanto a potenciais impactos negativos sobre as lavouras, como uma diminuição de aplicação ou mesmo uma redução de área. De qualquer forma, para a safra em andamento, não se espera que os custos mais elevados resultem em prejuízos importantes, uma vez que, os produtores, em geral, se planejam com antecedência e os insumos para o ciclo atual foram garantidos a preços mais favoráveis. Mesmo para a 2ª safra de milho, que só será plantada no começo de 2022, existe uma antecipação, além da aplicação de fertilizantes ser menor, com a cultura, que é mais arriscada, se aproveitando do que já foi utilizado para a soja, no verão.

Assim, as preocupações ficam concentradas nas próximas safras, mesmo que os indicativos para a margem do produtor (diferença entre a receita por hectare e os custos totais) continuem mostrando resultados positivos, inclusive superiores aos alcançados em safras no passado, já que os preços sustentados da soja e do milho conseguem garantir bons retornos, diante dos custos elevados. Apesar das margens continuarem positivas, os custos mais altos aumentam os riscos da atividade. A agricultura já está sujeita a uma elevada incerteza porque o plantio é realizado num momento e o resultado só é obtido tempos depois, estando sujeito a questões climáticas, por exemplo. No caso da soja e do milho, o intervalo entre o plantio e a colheita é de em torno de três/quatro meses, com variedades mais precoces reduzindo o período e, consequentemente, os riscos, mas, usualmente, sacrificando parte da produtividade.

Num cenário de custos mais elevados, em caso de haver algum tipo de diminuição do potencial produtivo nas lavouras ou uma quebra de safra mais considerável, o produtor acabará registrando uma perda financeira ainda maior. Com isso, os custos mais elevados podem limitar o crescimento de área, que tem sido uma constante nos últimos anos para a soja e para o milho, ou mesmo resultar em queda de área, dependendo da região. Além do mais, pode se optar por realizar um investimento menor nas plantações, com possibilidade de afetar o resultado final. É importante lembrar que nem sempre um investimento menor impacta a produtividade das lavouras de maneira proporcional. Outros fatores atuam em conjunto para determinar qual será o resultado de um ciclo, como o clima, a qualidade do solo, o tratamento que foi feito anteriormente etc.

De qualquer forma, a preocupação com possíveis impactos negativos dos custos mais elevados sobre as lavouras vai continuar no centro das atenções nesses próximos meses, e mesmo nos próximos anos, já que os produtores compram os insumos com antecedência. Ademais, um outro fator que pode mudar ao longo do tempo é a evolução dos preços da soja e do milho. Eventualmente, um enfraquecimento dos preços tende a pressionar a margem do produtor, que poderia cair para níveis até negativos, situação com ainda mais possibilidade de trazer prejuízos para as lavouras, com a necessidade de se economizar nos insumos, além de travar a expansão de área, uma vez que áreas novas, no geral, exigem maiores investimentos. Fonte: Ana Luiza Lodi. Agência Estado.