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14/Dez/2021

Chuvas abaixo da média impactam no PIB do País

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), seca, reservatórios de hidrelétricas em baixa, conta de luz mais cara e choque nos preços dos alimentos. Essas imagens, que se tornaram corriqueiras ao longo de 2021, apontam para um dado impactante: o Brasil perde, em média, R$ 80 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto) por ano devido à falta de chuvas (já considerando os efeitos da inflação no período). Embora o quadro de chuvas tenha se revelado especialmente dramático em 2021, com graves meses de seca e ficando 26% abaixo da média (1980-2019), desde 2012, as chuvas no Brasil têm sido abaixo do esperado, em todos os anos exceto em 2013, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A baixa intensidade das chuvas é um dos ingredientes que contribuíram para a década perdida do PIB, mas que costumava ser ignorado. Geralmente, os maiores destaques são fatores internacionais e problemas de política econômica doméstica, como a nova matriz econômica.

O Brasil foi de um extremo ao outro em um intervalo de tempo curto: na década anterior, entre 2002 e 2011, o saldo foi inverso, com as chuvas acima da média histórica em nove dos dez anos. Ao se considerar os efeitos diretos e indiretos da escassez de chuva, o impacto acumulado no PIB no período de 2012 a 2021 é de 17%, em termos reais. Caso a situação fosse outra, a inflação no período seria menor, e o PIB nominal deste ano, maior. A projeção atual é que chegue a R$ 8,7 trilhões, mas sem os choques que ocorreram, poderia estar indo para R$ 9,5 trilhões. Trata-se de uma diferença de R$ 800 bilhões ou de R$ 80 bilhões por ano, na média, para o período. Dos R$ 80 bilhões perdidos por ano, R$ 50 bilhões são pelos efeitos diretos da falta de chuvas, como no caso da produtividade da atividade agropecuária e da energia mais cara, que provoca um choque de custos para a economia como um todo. Esses efeitos sobre a economia são como uma “bola de neve”: com a falta de chuvas reduzindo a produtividade agrícola e tornando a energia mais cara, o PIB cresce menos, gerando esse choque.

De forma indireta, a energia mais cara também reduz a renda das famílias, sobretudo por ser um gasto mais difícil de contornar, e elas acabam podendo consumir menos outros itens. A falta de chuvas afeta, ainda, o turismo e as hidrovias. As empresas também perdem fôlego e capacidade de investimento, a energia impacta na inflação e a política monetária acaba ficando mais restritiva, com a alta dos juros. Projeções do Banco Mundial trazem um cenário preocupante sobre as precipitações em diferentes países, a partir de cenários para emissões de gás de efeito estufa. Na maior parte deles, o Brasil vai continuar mais seco pelos próximos anos, com chuvas 10% abaixo da média. Além disso, um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) deste ano aponta que, enquanto a intensidade das chuvas deve crescer em algumas regiões, aumentos de seca são esperados em outras, como o sudoeste da América do Sul. Isso só reforça a prescrição de reduzir a dependência da hidroeletricidade, que deve acontecer a passos largos, para tirar essa restrição da frente e para que o País possa crescer com menos risco de suprimento de energia.

A matriz hidrelétrica representa hoje cerca de 63,5% do total, segundo o Ministério de Minas e Energia. As energias eólica e fotovoltaica têm custos cada vez mais próximos da hidrelétrica. É preciso caminhar no sentido de que a matriz fique em um terço para hidrelétricas, o outro para eólica e sola e o restante para termelétricas. Isso vai acontecer naturalmente, já que os principais pontos para instalação de hidrelétricas estão ocupados. A expansão se dará na margem em outros tipos de usina, e o impacto da seca vai estimular mais ainda esse movimento. Do ponto de vista do agronegócio, os impactos da seca e da geada se fizeram sentir na queda de 8% do PIB do terceiro trimestre, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de fatores sazonais, os choques climáticos prejudicaram o plantio. Segundo o WRI Brasil, a realidade do agronegócio em todo o mundo, e especialmente no Brasil, vai ser produzir mais com cada vez menos água e impactos ambientais. Não é algo para o futuro, mas para agora.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) destaca que não tem governança das águas, mas diz acompanhar o cenário meteorológico para análise e estimativa de safras agrícolas. Em outubro, o Ministério lançou o Programa Nacional de Manejo Sustentável do Solo e da Água em Microbacias Hidrográficas, o Águas do Agro. A meta é promover o desenvolvimento sustentável no meio rural, por meio da adoção de tecnologias e práticas de conservação de solo e água. Além de iniciativas pontuais, o País deveria adotar um pacote de investimentos verde, nos moldes dos países desenvolvidos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima que o Brasil poderia gerar até 7 milhões de empregos da transição energética. Seria um caminho para contornar o problema da falta de chuvas e da recuperação da economia após a pandemia, mas é preciso liderança e coordenação para atrair capitais. Mas, o que se vê hoje, infelizmente, é negacionismo na agenda climática. Fonte: Folha de São Paulo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.