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22/Nov/2021

Brasil terá pior desempenho entre os emergentes

A economia brasileira deve ter o pior desempenho dentre todos os países emergentes no próximo ano. Foram apuradas as projeções de crescimento de cinco grandes consultorias e bancos, além dos dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), e as estimativas apontam que o Brasil desacelerará a ponto de ter a atividade mais fraca entre os países da América Latina, da Ásia, África e Europa emergente. A percepção é de que um conjunto de fatores prejudica um crescimento mais robusto da economia brasileira. Por um lado, a inflação global e os efeitos da retirada de estímulos nos Estados Unidos e da desaceleração da China afetam os emergentes de forma geral, ainda que em proporções diferentes.

Por outro, o Brasil já elevou juros a um nível superior ao pré-Covid (em um ciclo que promete se estender ao menos até o início de 2022), tem um alto nível de endividamento, grande pressão por mais gastos e um risco político que só deve crescer até as eleições do ano que vem. Assim, as projeções para o PIB brasileiro em 2022 vão de 2%, caso do banco japonês Nomura (1,8%) e da área de análise da Fitch Ratings (1,9%), até algo em torno de 1%, caso de Capital Economics (1,3%), Bradesco (0,8%) e Goldman Sachs (0,8%). O FMI estima que o Brasil crescerá 1,5% em 2022. A Capital Economics aponta que, de forma geral, todos os emergentes sofreram com as consequências da pandemia e sentem os efeitos da alta inflação e do consequente aumento de juros. Mas, no Brasil, tudo isso parece um pouco mais extremo. O aumento na inflação, por exemplo, o pico nos preços de energia já está afetando o consumo da população.

Somado a isso, pode-se citar a exposição da economia brasileira ao consumo chinês de commodities, especialmente as vendas de minério para o setor de construção, fortemente afetado pela crise da Evergrande. Além dos problemas cíclicos, o Brasil tem problemas estruturais que não vão desaparecer, mesmo quando os efeitos da pandemia estiverem já no retrovisor, como a fragilidade fiscal. Em 2021, o desempenho econômico dos emergentes foi muito atrelado ao tamanho dos estímulos dados pelos governos na contenção aos efeitos da pandemia. Para 2022, a atividade parece voltar aos níveis pré-Covid, o que também é uma realidade para o Brasil, mas o desempenho de cada país ainda responde a resquícios de estímulos, que têm sido retirados em compassos diferentes, e ao tamanho da agressividade em relação à normalização monetária.

Na Ásia emergente, por exemplo, os bancos centrais têm conseguido segurar o ritmo de elevação nos juros por terem sentido, de forma geral, um menor impacto da inflação, realidade que parece estar sendo revertida em países como a Índia. No Brasil, contudo, a decisão do Banco Central de levar a Selic a um patamar mais alto, bem maior do que antes da pandemia, e fazê-lo mais rapidamente deve prejudicar o crescimento em níveis que o mercado ainda tenta entender. A decisão do Banco Central de alterar o ritmo de alta dos juros ocorreu após uma percepção de aumento dos riscos fiscais, com as mudanças negociadas pelo governo no cálculo do teto de gastos. Segundo o Bradesco, o objetivo é trazer a convergência para a meta de inflação para 2022 e só se faz isso restringindo crescimento.

A projeção do banco é de que a Selic chegue a 11,75% no fim do ciclo de alta. Para a Fitch, o atual nível dos juros pode comprometer mesmo o crescimento deste ano. Apesar de ter deixado a nossa previsão para o Brasil (para 2021) inalterada em 4,7%, o aperto monetário e um recente 'sell-off' de ativos estão aumentando os riscos de queda. A América Latina vai crescer no ano que vem, apesar da performance das maiores economias da região, Brasil e México. Para o Bradesco, há uma frustração recente com a agenda de reformas do País, agravada pelo imbróglio envolvendo o teto de gastos. Além disso, os entraves logísticos e as disfunções no fornecimento de componentes prejudicaram um dos setores mais importantes da indústria brasileira, o automotivo.

Por outro lado, uma recuperação sustentada do mercado de trabalho parece ser uma notícia positiva. Comparando o Brasil relativamente, parece que haverá uma recuperação mais modesta, mas há uma recuperação importante no mercado de trabalho, que é o mercado consumidor. Um dos grandes desafios do Brasil e dos emergentes de forma geral, sobretudo na região da América Latina, será lidar com o aumento da dívida causado pela alta nos gastos para conter a pandemia. Ainda que esse movimento de avanço no endividamento tenha ocorrido no mundo todo, o momento político vivido no Brasil não deve favorecer um enxugamento de gastos. Isso porque, com eleições no radar, não deve haver vontade política para austeridade. O mesmo se aplica a vários países da América Latina, que viram o risco político aumentar nos últimos meses.

No caso brasileiro, uma eleição que promete ser extremamente polarizada e que deixa incógnitas importantes sobre o rumo da política econômica tende a travar o fluxo de investimentos. É um momento em que não parece haver disposição por parte dos governos em retirar os estímulos fiscais. Para 2022, o que se vê é uma política fiscal mais contracionista (à medida em que os estímulos vão sendo gradualmente diminuídos), mas isso não significa que tem austeridade fiscal, no sentido de reestruturação para corte de despesas. O desafio é que essa dívida contraída na pandemia será digerida num período mais dilatado. E a convergência vai levar tempo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.