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17/Nov/2021

Entrevista: ministra da Agricultura Tereza Cristina

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirma que o governo está se antecipando para evitar que as sanções econômicas contra a Belarus, de onde sai 20% do potássio usado no campo brasileiro, provoquem novo aumento no preço dos alimentos e venham a prejudicar o fornecimento de fertilizantes para a próxima safra de verão (1ª safra 2022/2023).

O presidente está preocupado com o fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Como evitar impacto na produção de alimentos no Brasil?

Tereza Cristina: Existe uma preocupação, porque importamos de 20 países, entre eles 20% de Belarus, que vai sofrer sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia no dia 8 de dezembro (por causa da crise de imigração na fronteira com a Polônia). Não é que vamos ter problemas de fornecimento, mas vamos ter problemas quanto ao pagamento, mais ou menos o que já acontece com o Irã e que traz alguns transtornos na hora do pagamento. Estamos nos antecipando a isso, conversando com outros parceiros para que a gente tenha um porcentual nas exportações de produtos, para que a gente tenha segurança que nossos fertilizantes vão chegar a tempo.

Quando poderia ter impacto?

Tereza Cristina: Não temos problemas nesta safra; esta safra já está garantida, inclusive está plantada mais de 70%. Já temos produtos chegando para a 2ª safra de 2022, não há também problemas maiores, mas estamos nos antecipando para a safra de verão (1ª safra 2022/2023), que vem daqui a um ano, em setembro, outubro e novembro.

É possível adotar uma solução similar à do Irã, de trocar produtos, com Belarus?

Tereza Cristina: Sim, é uma solução. É um limitador que o Brasil tenta compensar. No caso do Irã, a gente entrega milho, eles trocam por fertilizantes (ureia). A gente já conversou com Belarus, eles nos procuraram na semana passada no Ministério da Agricultura. Agora, estamos indo à Rússia ver se a gente consegue uma entrega um pouco maior do que a gente já tem para, caso precise compensar, a gente tenha compensações.

Isso vai impactar o preço dos alimentos no Brasil agora?

Tereza Cristina: Tudo impacta, mas a gente está trabalhando antecipadamente para que não aconteça.

Qual a situação do embargo da carne na China?

Tereza Cristina: Estamos aguardando, fornecendo todos os esclarecimentos porque, infelizmente, irresponsavelmente, deram uma notícia de que teríamos dois casos de BSE (“mal da vaca louca”) em humanos, o que não é verdade. Foi logo esclarecido, mas tudo isso causa algum tipo de desconfiança, de novas informações que a gente precisa passar. Já passamos todas as informações à China e agora aguardamos a resposta deles sobre mais essa informação desencontrada.

É possível estimar um prazo?

Tereza Cristina: Não dá ainda para saber. Eles precisam analisar as informações passadas, checar e aí sim a gente terá. Espero que essa semana. A gente aguarda agora uma resposta dos chineses sobre o embargo sobre nossa carne.

O que a senhora leva dos Emirados Árabes Unidos de novidade para o agronegócio?

Tereza Cristina: Estamos assinando um termo de cooperação com os Emirados para a Embrapa, recursos para pesquisa em horticultura, dessalinização de água para uso na agricultura. E também o frango. É muito importante essa conversa para que aqui seja um hub de distribuição, não só para os países árabes, mas também para os países africanos. A conversa foi boa. Tem muitas indústrias aqui, a Seara, a BRF e outras. Tive contato com as duas, que estão discutindo um aumento do nosso mercado. Aqui é mais fácil, não tem que discutir muito a sanidade. É mais fácil com países árabes, então a gente espera que os negócios sejam feitos.

Qual a preocupação do agro com o acordo para redução de gás metano em 30%, assinado na COP 26?

Tereza Cristina: Não vejo preocupação, porque já temos muita coisa feita. Agora é medir e ver qual o tamanho das entregas que podemos fazer. Outra coisa: não é 30% que o Brasil tem que reduzir, é até 30%. Pode ser menos.

O governo não tem um compromisso mínimo a atingir?

Tereza Cristina: Isso que vamos ver. Agora, cada país vai dizer o que pode entregar até 2030 e na composição geral é a redução de 30% no mundo. Não é uma meta do Brasil, é 30% de redução global.

Se o Brasil vai contribuir com 1% ou 2% ainda será calculado?

Tereza Cristina: O Brasil vai entrar com uma contribuição. Eu não sei ainda quanto. A Embrapa vai fazer esse cálculo na pecuária. E não é só, temos a parte urbana, lixões, saneamento, a Petrobras, que queima metano. Será uma composição dos vários segmentos na emissão do metano para vermos o que o Brasil pode reduzir.

Que práticas na pecuária contribuiriam?

Tereza Cristina: A eficiência da nossa pecuária. Se você reduz o tempo que o animal fica no pasto. Antigamente para fazer um boi gordo você levava 36, 38 meses. Hoje leva 30 meses. Já é uma redução. As vacas que não produzem todo ano bezerro, precisam ser abatidas, você reduz. Tem uma série de coisas da eficiência da pecuária que teremos de medir agora e ver quanto está reduzindo.

Como a senhora avalia os acordos da COP 26?

Tereza Cristina: Muito bons. O Brasil pode cumprir perfeitamente tudo que assinou. Não é verdade que não temos responsabilidade com esses números. Temos sim. Agora vamos fazer um levantamento, temos muita coisa feita. E o desmatamento nós temos que reduzir e acho que vamos reduzir sim.

Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.