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08/Nov/2021

Carbono Zero necessita de pesados investimentos

O mundo precisa de US$ 4 trilhões por ano para fazer a transição para uma economia de carbono zero. A cada ano, o sistema financeiro global direciona trilhões de dólares de pessoas que têm capital para pessoas que precisam de capital sem nenhuma dificuldade. Fazer o mesmo para atingir a emissão de carbono zero até 2050 está dentro de suas possibilidades. É preciso apenas ter algo em que investir. Segundo o Bank of America, se existe fonte de receita, o financiamento é infinito. Que o interesse de Wall Street pelas finanças sustentáveis seja motivado pelo lucro não é bom nem ruim: é necessário. A conversão de uma grande fatia do capital instalado da economia de combustíveis fósseis para energia renovável não pode ser feita por meio de obras públicas ou atos de caridade. O governo não tem esse dinheiro, ele precisa vir do setor privado. O papel do governo é criar fontes de receita ou sinais de demanda, ou, ainda, determinações que permitam a abertura dos mercados, para que o dinheiro possa entrar. Vale prestar atenção ao que diz o banco, que tem participação considerável nessa transição e também porque ele apresenta a situação com a linguagem própria de banqueiro, metódica e desprovida da retórica alarmista que permeia o debate sobre o clima. O resultado final é surpreendente e encorajador. Em primeiro lugar, o montante envolvido não é tão grande assim, feitas as devidas considerações. Em segundo lugar, embora a ação governamental seja fundamental, o setor privado, com seu compromisso de atingir emissão de carbono zero, pode criar as fontes de receita necessárias para mobilizar o capital.

Com relação ao montante de US$ 4 trilhões, isso é quanto o mundo precisa investir de 2026 até 2030 em energias de baixo carbono, eficiência e eliminação de carbono para atingir a emissão zero até 2050, segundo relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia (IEA). Quando ajustado pelo PIB mundial estimado, esses US$ 4 trilhões se tornam bem menos assustadores, representando 2% ou 3% do PIB. Subtraindo o que o mundo já investe em energia e o que vai deixar de investir em combustíveis fósseis, o montante do novo investimento cairá ainda mais, para cerca de 1% a 2% do PIB. Para os Estados Unidos, o crescimento líquido em investimentos é de cerca de 1%. É bastante, mas não é nada inédito. Empresas e o governo já investem aproximadamente 17% do PIB. Nos anos 1850, os investimentos no transporte ferroviário totalizaram, em média, 2% do PIB. O crescimento tecnológico do final dos anos 1990 e o boom imobiliário de meados dos anos 2000 tiveram investimentos da ordem de 1% do PIB. Tudo isso foi financiado com entusiasmo por Wall Street. Esses gastos não representam custo, como uma guerra, por exemplo, mas investimento no sentido real: produzirão um fluxo quantificável de benefícios futuros. De acordo com o cenário da IEA, tais benefícios virão na forma de um gasto mundial de 2% do PIB a menos em energia até 2050, e da redução das contas anuais de energia das residências nos países ricos em cerca de US$ 1.000. Agora, as advertências. A IEA desenhou esse cenário - um roteiro estreito, mas alcançável - para atingir a emissão líquida zero pressupondo que tudo saia conforme o planejado.

Mais importante, conta com a implementação de tecnologias que hoje estão em fase de teste, como a produção de aço baseada em hidrogênio e a captura de carbono para armazenamento no cimento. A adoção de novas tecnologias exige um efeito contínuo de redução de custos que estimule a demanda, possibilitando economias industriais de escala e inovação, que derrubem ainda mais os custos. Pelo cenário da IEA, as novas tecnologias terão de atingir viabilidade comercial de 20% a 40% com maior velocidade do que no passado - tarefa bastante difícil. Para dar início a esse efeito contínuo, os governos precisam agir. Graças a créditos tributários e tarifas preferenciais, o uso de energia eólica e solar vem crescendo significativamente desde 2009 e os custos já caíram 72% e 90%, respectivamente. Sem subsídios, essas energias hoje são mais baratas do que o carvão e quase tão baratas quanto o gás natural. Colocar um preço no carbono ajudaria imensamente e determinações como a exigência da eliminação gradual dos combustíveis fósseis por parte concessionárias, também seria de grande valor. Os dois objetivos são difíceis, do ponto de vista político; ambos foram rejeitados pelos Democratas na agenda de projetos de lei do presidente Joe Biden. No entanto, determinações privadas podem ter grandes resultados. A grande mudança dos últimos cinco anos são os compromissos de zero emissão líquida que criam demanda em torno das empresas do setor privado. Isso trará enormes recursos. Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF) feitos a partir de resíduos de alimentos, como óleo de cozinha, produzem uma pegada de carbono muito menor do que o combustível de aviação tradicional, mas custam três vezes mais.

Como resultado, a demanda é muito pequena, como também é o investimento na produção, o que faz com que o diferencial de custo permaneça grande. Uma determinação exigindo que as companhias aéreas usassem uma determinada porcentagem do SAF abriria de imediato as portas para o investimento. Meses atrás, uma coalizão empresarial organizada pelo príncipe Charles, da Inglaterra, pediu que os líderes das sete nações mais industrializadas do mundo aprovassem uma determinação de 10% de SAF, mas não tiveram sucesso. Enquanto isso, o Bank of America está adquirindo SAF para sua própria aeronave e para as viagens de seus funcionários. É uma das 60 empresas participantes do Fórum Econômico Mundial que têm como meta 10% de SAF até 2030. A Airlines for America, associação que representa as companhias aéreas dos EUA, também está agindo a favor da meta de 10%. O Bank of America e a American Airlines Group são alguns dos parceiros principais do Breakthrough Energy Catalyst, programa liderado por Bill Gates destinado a investir em quatro tecnologias de baixo carbono em estágio inicial, incluindo o SAF. O Bank of America está determinado a aumentar os custos operacionais para atingir a neutralidade de carbono, segundo Moynihan. Se todas as grandes empresas fizessem o mesmo, a demanda resultante poderia ser capaz de virar o jogo. Fora dos EUA, no entanto, o cenário é mais desafiador. A IEA estima que 70% dos investimentos adicionais estão nas economias emergentes. Nesses países, mercados financeiros subdesenvolvidos e riscos políticos desestimulam os investidores privados.

Uma solução possível seria que os credores multilaterais assumissem a parte mais arriscada do investimento, da mesma forma que os investidores juniores em um título lastreado no financiamento imobiliário assumem a maior parte do risco de inadimplência. Em um esforço semelhante, o Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB) afirmou que está analisando a viabilidade de um mecanismo de transição energética para substituir fábricas movidas a carvão por energias renováveis. Sem uma intervenção ativa para retirar essas fábricas do sistema energético, elas não serão substituídas pelas renováveis até que atinjam o final de ciclo de vida útil natural, segundo a ADB. O ADB facilitaria 20%, em termos de concessão, de um fundo para a construção de usinas de energia renovável e de outro para compra e operação de usinas de carvão na Indonésia e nas Filipinas e, em seguida, aposentá-los mais cedo do que o previsto. Isso seria feito de forma gerenciada para manter a confiabilidade da rede à medida que as energias renováveis forem entrando em operação e para treinar os trabalhadores afetados. O ABD investirá sob a forma de concessão, com investidores privados entrando com o valor restante com base em condições de mercado. Não há escassez de capital, mas há escassez de bons negócios. Com o capital de concessão do ADB, a natureza de baixo risco dos acordos de aquisição de energia pode atrair um capital muito competitivo do setor privado. CEOs são, por natureza, pessoas otimistas. É difícil subestimar os riscos inerentes ao déficit atual de investimentos na transição para a energia limpa, segundo a IEA. No entanto, se os líderes políticos conseguirem pôr em prática os incentivos necessários, vão descobrir que o setor privado está mais do que à altura da tarefa. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.