ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

29/Out/2021

Dólar segue avançando com o risco fiscal no radar

Renovadas preocupações com a política fiscal, após o malogro na quarta-feira (27/10) na votação da PEC dos Precatórios pela Câmara dos Deputados, e a leitura predominante de que o Comitê de Política Monetária (Copom) não foi duro o suficiente, tanto no grau de aperto monetário (1,5%, para 7,75%) quanto em seu comunicado, levaram investidores a manter uma postura defensiva no mercado de câmbio doméstico nesta quinta-feira (28/10). Diante da incerteza sobre qual será, afinal, o desenho orçamentário para acomodar os precatórios e emplacar o Auxílio Brasil de R$ 400,00, avalia-se que a política monetária deve ser ainda mais restritiva para ancorar as expectativas de inflação e dar o mínimo de credibilidade à política econômica. Nem mesmo a divulgação de superávit de R$ 303 milhões do governo central em setembro arrefeceu os temores de degringolada fiscal em meio ao abandono informal do teto de gastos. A fotografia das contas públicas pode ser boa, mas a história que o filme conta caminha para um final muito ruim, dizem analistas.

O dólar já abriu a sessão em alta e ultrapassou a marca de R$ 5,60 na primeira hora de negócios. O pior momento veio no início da tarde, quando a moeda norte-americana correu até a máxima de R$ 5,63 (+1,45%), em meio a rumores de que, dadas dificuldades para a aprovação da PEC dos Precatórios, o governo estudaria a possibilidade de decretar estado de calamidade pública, abrindo espaço para despesas fora do teto de gastos e renovação do auxílio emergencial, por meio da aprovação de créditos extraordinários. Logo em seguida, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-R), afirmou que não vai haver prorrogação do auxílio emergencial e nem decretação do estado de calamidade porque a PEC dos Precatórios será aprovada na próxima quarta-feira (03/11), em sessão presencial da Câmara. Na mesma linha, o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o governo está focado na aprovação da PEC dos Precatórios e não "há plano B".

O subsecretário de Planejamento Estratégico da Política Fiscal do Ministério da Economia, David Rebelo Athayde, disse que não tem possibilidade de a equipe econômica defender a ideia de que haja um novo decreto de calamidade pública. Depois da debandada de parte da equipe econômica na semana passada, cresceram as dúvidas sobre a capacidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, de se contrapor ao desejo da ala política do Planalto por ampliação das despesas. Após orbitar ao redor de R$ 5,60 na maior parte da tarde, o dólar voltou a acelerar na última hora de negócios, em conjunto com a virada do Ibovespa para o campo negativo, e encerrou cotado a R$ 5,62, em alta de 1,26%, o pior desempenho entre as divisas emergentes, em dia de perdas também para o peso mexicano e o rand sul-africano, tidos como pares do Real. A moeda norte-americana caiu, contudo, em relação a outras divisas de países exportadores de commodities e na comparação com seus pares fortes. Com o avanço nesta quinta-feira (28/10), as perdas do dólar na semana foram praticamente apagadas (-0,04%).

No acumulado do mês, a moeda norte-americana avança 3,29%. Para a Acqua-Vero Investimentos, a tese de que uma taxa Selic maior daria sustentação ao Real não é verdadeira, uma vez que a curva de juros já embute bastante prêmio e, mesmo assim, o dólar segue em ascensão. O problema é a percepção de risco elevada com essa incerteza sobre a política fiscal. Mesmo com a aprovação da PEC dos Precatórios, permanecerá a desconfiança sobre a âncora fiscal do País, já que o Congresso teria chancelado uma "manobra" para contornar o teto de gastos. Se a PEC não vingar, é quase certo que o governo arrumará um jeito de bancar o Auxílio Brasil, do qual Bolsonaro disse não abrir mão. Com esse populismo fiscal, no curto prazo, não há como o dólar recuar para abaixo dos R$ 5,50. Deve ficar numa faixa entre R$ 5,50 e R$ 5,70 no curto prazo. A volatilidade deve aumentar nesta sexta-feira (29/10), dia da formação da última taxa Ptax de outubro. O Banco Ourinvest vê a alta do dólar nesta quinta-feira (28/10), a despeito da elevação da Selic, como uma reação ao aumento do risco fiscal extrateto, após o adiamento da votação da PEC dos Precatórios e os rumores de extensão do auxílio emergencial.

Além disso, o IGP-M de outubro veio acima das expectativas. É mais um número de inflação assustando o mercado (IGP-M avançou 0,64% neste mês). No exterior, o índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes) operou em queda firme, na casa de 93,300, sobretudo por conta do fortalecimento do euro, na esteira de declarações mais duras da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. Cresce a percepção de que os bancos centrais das economias desenvolvidas vão acelerar a normalização da política monetária, o que, é claro, respinga nas moedas emergentes. O resultado abaixo do esperado da primeira leitura do PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre (crescimento de 2% ante projeção de 2,5%) ajudou a tirar um pouco de força do dólar ante divisas fortes, mas não alterou a expectativa para início da retirada de estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a partir do mês que vem. O índice de preços de gastos com o consumo (PCE) subiu à taxa anualizada de 5,3% no terceiro trimestre, enquanto o núcleo (sem alimentos e energia) avançou 4,5%. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.