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29/Out/2021

Agronegócio seguirá captando crédito a taxas livres

Apesar de as taxas de juros de mercado estarem atualmente bem mais altas do que há um ano e da previsão de novas elevações na taxa básica, a Selic, nos próximos meses, os principais bancos privados do País com atuação no agronegócio mantêm expectativa de procura aquecida por recursos com juros livres até o fim da safra 2021/2022. Um dos principais fatores apontados por executivos para sustentar tal perspectiva é a ainda alta rentabilidade da atividade agropecuária, garantida pelo câmbio e pelos preços das commodities, bem como o aumento dos custos de produção, que exige a contratação de empréstimos maiores só para cultivar a mesma área. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê um aumento de 3% área plantada com grãos no País e de 13,2% da produção, para recorde de 288,61 milhões de toneladas, conforme o mais recente levantamento. Segundo o Santander, o agronegócio não é diferente de outros mercados: anda melhor quando tem margem de lucro e consumo, que trazem crescimento e rentabilidade.

Quando tem isso, o produtor faz a conta e pensa que seria melhor se o crédito fosse mais barato; mas ainda compensa tomar, e segue em frente. Na quarta-feira (27/10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acelerou o ritmo de elevação da Selic (a taxa básica de juros), com alta de 1,50%, de 6,25% para 7,75% ao ano. A última vez que o Copom tinha aumentado a Selic em mais de 1% foi em dezembro de 2002, quando a taxa passou de 22% para 25%. Nas cinco reuniões anteriores deste ano, o Banco Central havia subido a taxa em 0,75% em três ocasiões e em 1% nos encontros de agosto e setembro. Com a decisão, a Selic está no maior nível desde outubro de 2017. Desde julho, quando teve início a safra 2021/2022, bancos como o Santander e o Bradesco vêm priorizando linhas do Plano Safra, alimentadas por dinheiro de depósitos à vista e com taxas de juros controladas ou subsidiadas pelo Tesouro Nacional, para atender produtores.

Mas, quase a totalidade desse dinheiro já foi comprometida. No Santander, os cerca de R$ 5,9 bilhões que obrigatoriamente deveriam ser emprestados a produtores em 2021/2022 com taxas controladas já foram contratados. O montante se destinou majoritariamente ao custeio da safra de verão (1ª safra 2021/2022), por meio dos programas Pronaf (agricultura familiar) e Pronamp (médios produtores). No concorrente Bradesco, dos cerca de R$ 12,5 bilhões com teto de taxa disponíveis para a temporada, a maior parte também está emprestada. Ainda haverá recursos até novembro. A partir do esgotamento destas linhas, os agricultores encontrarão uma nova realidade de juros nos bancos. Tanto os que se enquadravam nos programas Pronaf e Pronamp, que tinham taxas de 3% a 6,5% ao ano, quanto produtores de maior porte, que pagavam taxa de 7,5% ao ano em linhas de custeio, terão de se financiar a partir de agora com custo bem superior, de 12% em diante. Isso porque, com a alta da Selic e da taxa DI pré-fixada, aumenta também o custo de captação dos bancos para emprestar ao setor.

A taxa Selic, hoje em 7,75% ao ano, estava em 2,25% em junho de 2020, quando foi anunciado o Plano Safra passado, de 2020/2021. A taxa DI pré, que também norteia o custo de captação de recursos pelos bancos, a partir de março passou a subir consideravelmente. Em abril, estava em 5,74% ao ano, acima dos 3,22% de março de 2020. Em setembro, chegou a 8,77%, muito acima dos 2,63% ao ano de igual mês do ano passado, conforme dados da curva média do mercado publicada pela B3, compartilhados pelo Itaú BBA. Será muito difícil achar, a partir de agora, uma operação com taxa abaixo de 12% ou 13% ao ano, pondera o Itaú BBA. Apesar disso e da perspectiva de novas elevações da Selic pelo Copom neste ano, as instituições financeiras não revisam para baixo, até o momento, as expectativas de crescimento de suas carteiras de crédito rural livre.

No Itaú BBA, que atende clientes do setor majoritariamente com recursos de Tesouraria (apenas 10% da carteira corresponde a dinheiro emprestado com taxas controladas), o montante liberado de janeiro a setembro exclusivamente para produtores rurais foi 80% maior do que em igual período do ano passado. Para a agroindústria, o incremento é da ordem de 30%, acompanhando o maior custo das matérias-primas. O banco não está freando a liberação de recursos. Os produtores vieram de uma safra com margens muito positivas, em virtude do câmbio e de custos favoráveis, então estão capitalizados e com desejo de investir em uma área de cultivo maior que a anterior. Esta safra de verão (1ª safra 2021/2022) deve ter margens de lucro mais baixas, por causa do aumento dos custos dos defensivos. Mas, se combinar a desvalorização do Real ante o dólar com os preços internacionais de commodities agrícolas, as margens ainda são bastante interessantes e tornam viáveis o pagamento de taxas de juros um pouco mais altas que na safra anterior.

A expectativa do Itaú BBA é encerrar 2021 com uma carteira próxima de R$ 60 bilhões, incluindo produtores rurais e empresas do setor. O banco fechou o segundo trimestre de 2021, em junho, com uma carteira de crédito rural de R$ 49,1 bilhões, 24% maior do que em igual período de 2020. No Santander, serão os recursos com taxas de juros de mercado que garantirão um aumento de 20% a 25% de sua carteira rural na safra. O valor estava próximo de R$ 25 bilhões em meados do ano. Se considerar que os recursos próprios de depósitos à vista (emprestados com taxas controladas ao setor) aumentaram 12% e a previsão é crescer de 20% a 25%, a diferença virá do recurso livre. Só os empréstimos por CPR (Cédula de Produto Rural) crescem mais de 50% ao ano, todos os anos. É o título que mais avança e tem juros livres. A demanda por mais crédito levou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a lançar, no dia 19 de outubro deste mês, uma linha de custeio para pequenos e médios produtores, com taxas de juros de mercado, dentro de seu programa BNDES Crédito Rural.

Desde março do ano passado, o programa já vinha ofertando crédito para investimentos. A previsão inicial é liberar até R$ 500 milhões no ciclo 2021/2022 com o BNDES Crédito Rural Custeio. As taxas de juros, naturalmente, serão bem mais elevadas do que as praticadas no Pronaf Custeio (3% e 4,5% ao ano) e Pronamp Custeio (R$ 5,5% ao ano). Os produtores poderão escolher uma taxa pós-fixada, atrelada à Selic, estimada em 11% a 12% quando a Selic estava em 6,25% ao ano, ou pré-fixada, vinculada à Taxa Fixa do BNDES (TFB), de 14% a 15% ao ano. Bradesco e Santander concordam que a maior parte dos recursos obrigatórios com taxas controladas foi concedida para produtores plantarem a safra de verão (1ª safra 2021/2022) e que a safra de inverno (2ª safra de 2022) tende a ser financiada a um custo mais alto. A 2ª safra de milho de 2022 será custeada com recurso próprio do produtor ou dinheiro dos bancos com taxa de mercado. Até maio, junho do ano que vem, só haverá recurso livre (sem teto de taxa).

Uma parte dos negócios os produtores farão com taxa de 7,5% ao ano e outra, de 12,5%, 13%, 15%, dependendo do prazo. O Bradesco lembra que sazonalmente, no segundo semestre do ano (o primeiro semestre da safra), os produtores rurais tomam recursos para comprar insumos agrícolas mais para as culturas de verão (1ª safra), enquanto os empréstimos para a safra de inverno (2ª safra) se concentram em janeiro e fevereiro. O montante concedido para as culturas de inverno representa ao redor de 35% do total emprestado pelo Bradesco. Mesmo com a alta das taxas de juros, o aumento dos custos de produção, estimado por ele em 30% na média, deve levar produtores a gastar 30% a mais, para garantir a mesma área plantada. Se desses 30%, os produtores fizerem 10% com recursos próprios, a carteira de recursos livres deve aumentar 20%.

O produtor vai continuar plantando, porque os preços das commodities estão longe de não trazerem uma remuneração interessante. A carteira de crédito rural do Bradesco atualmente soma cerca de R$ 40 bilhões, dos quais quase a metade de recursos concedidos com taxas de juros de mercado, em linhas com dinheiro de tesouraria ou por meio de CPRs. A carteira de CPRs aumentou ao menos 35% na safra 2020/2021, em comparação com a anterior. Para a safra vigente, 2021/2022, espera-se que esta carteira cresça menos, mas ainda avance de 25% a 30%. Até o fim da safra, a CPR será o grande produto para financiar a atividade agrícola. Tanto a CPR quanto as linhas de Tesouraria têm hoje taxas de juros variando entre 12% e 15%, aproximadamente. Pelos custos de registro, as CPRs atendem mais aos grandes produtores, em empréstimos superiores a R$ 1 milhão. Os financiamentos menores, de R$ 100 mil, R$ 200 mil, são concedidos por linhas comuns. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.