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22/Out/2021

Dólar sobe com ameaça à regra do teto de gastos

O mercado doméstico de câmbio foi atingido nesta quinta-feira (21/10) pelo que analistas costumam chamar de tempestade perfeita. Aos sinais inequívocos de que o governo Jair Bolsonaro está disposto a usar expedientes para driblar o teto de gastos, na tentativa de se cacifar para a corrida eleitoral, somou-se uma onda de fortalecimento global da moeda norte-americana que castigou divisas emergentes. Em meio ao aumento do risco fiscal, o dólar já iniciou o dia em forte alta, rompendo o teto de R$ 5,65 logo nos primeiros minutos do pregão. Era evidente o mau humor com declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo pode pedir um "waiver", uma "licença para gastar" além do que o teto permite para bancar o Auxílio Brasil. Tido outrora como fiador da austeridade fiscal, Paulo Guedes disse que a "política é quem decide", admitindo a perda da queda de braço dentro do Palácio do Planalto.

Para a Acqua-Vero Investimentos, Paulo Guedes perdeu a credibilidade do mercado com uma série de decisões, como a taxação de dividendos, o aumento do IOF, a questão dos precatórios, que representa um calote, e agora o rompimento do teto. Ele já não tem mais condições de ancorar as expectativas do mercado. O ministro da Economia também deixou disse que o governo trabalhava com uma mudança no cálculo do teto de gastos (uma manobra com cheiro de contabilidade criativa). As alas política e econômica haviam chegado a um acordo para alterar a fórmula do teto, o que, aliada à limitação do pagamento de Precatórios, abriria uma folga de R$ 83,6 bilhões no Orçamento. Foi o que bastou para que o dólar, que havia arrefecido um pouco o ímpeto altista, voltasse a acelerar. A situação piorou ainda mais com declarações do presidente Jair Bolsonaro de que atenderia a demanda de caminhoneiros autônomos de auxílio para compensar a alta do diesel.

A tal ajuda aos caminheiros poderia ser de R$ 400,00 por mês (de dezembro deste ano a dezembro de 2022), em custo total estimado em cerca de R$ 4 bilhões. Em resposta a mais um sinal de que o governo está disposto a abrir os cofres, o dólar chegou a superar a casa de R$ 5,69 (+2,33%). A moeda norte-americana desacelerou o ritmo de alta em meio à divulgação de detalhes do novo texto da PEC dos Precatórios, amenizando um pouco o nível de incerteza sobre os planos do governo. A intenção é mudar, de fato, as regras do teto. Criado em 2016 e implementado em 2017, o teto prevê correção do limite de gastos pela inflação acumulada em 12 meses até junho. A proposta é alterar a correção para inflação de janeiro a dezembro, recalculando os limites desde 2016. Essa mudança proporcionará uma folga orçamentária e R$ 40 bilhões, que aliada à limitação do pagamento de precatórios, joga o espaço fiscal em 2022 para R$ 83,6 bilhões.

No fim da sessão, o dólar era negociado em alta de 1,92%, a R$ 5,66, maior valor desde 14 de abril (R$ 5,67). O dólar acumula valorização de 3,90% nesta semana e de 4,07% em outubro. Na B3, o giro com o contrato futuro de dólar para novembro, termômetro do apetite para negócios, era robusto, de mais de US$ 19 bilhões. O Travelex Bank observa que aumento de gastos cogitado até agora não altera de forma relevante a relação dívida/PIB, principal indicador da saúde fiscal do País. O que assusta o mercado é a incerteza em relação à magnitude das despesas e à manutenção da âncora fiscal. A solução menos ruim seria colocar despesas pontuais extrateto. Não tem que mudar a regra do teto. O problema é que não se sabe quanto vai ser gasto. Falam de auxílio de R$ 400,00, mas pode ser R$ 500,00 ou R$ 600,00, e podem inventar outras despesas, como, por exemplo, a notícia de que o governo pretende subsidiar o diesel para os caminhoneiros.

Não bastassem as pressões internas, o dia no exterior foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda norte-americana, com investidores adotando uma postura defensiva em meio aos problemas de solvência da incorporadora chinesa Evergrande. Também dava fôlego ao dólar o aumento das apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode começar a subir os juros ainda no início do segundo semestre de 2022. A onda de inflação global não mostra sinais de arrefecimento e pode ensejar uma mudança na política monetária nos países desenvolvidos mais cedo do que se imaginava. O índice DXY (que mede a variação da moeda norte-americana frente a seis divisas fortes) operou em alta firme ao longo desta quinta-feira (21/10), na casa dos 93. O dólar subiu com força também em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Entre os pares do Real, a valorização era de 1,60% ante o rand e superior a 0,40% frente ao peso mexicano.

A maior valorização se dava na comparação com a lira Turca (+3%), reflexo da decisão do Banco Central Turco de cortar a taxa os juros (de 18% para 16%), após o presidente ordenar a demissão de três dirigentes da autoridade monetária. O ambiente externo é de alta do dólar. A aversão ao risco aumentou novamente com preocupações de desaceleração da economia chinesa, que enfrenta crise energética e no setor imobiliário. Além disso, o Fed deve começar o tapering em novembro. A Acqua-Vero Investimentos não vê espaço para o dólar voltar a ser negociado abaixo de R$ 5,50 no curto prazo. Se as condições se deteriorarem, o dólar pode bater em R$ 5,70. O Banco Central não entrou nesta quinta-feira (21/10), com todo o estresse. Isso mostra que ele vai atuar apenas para dar liquidez no momento em que houver fluxos relevantes de saída. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.