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20/Out/2021

Argentina: cautela com o congelamento de preços

O governo da Argentina dialoga com empresas locais para conseguir o congelamento de preços de 1.650 produtos. Mas, não é uma negociação: a Secretaria de Comércio indica o produto e o preço que deseja. Há relatos de conversas tensas nesse contexto, com reclamações das companhias. Com essa estratégia, o governo amplia as restrições já existentes aos preços de produtos de consumo massivo, do programa chamado "Precios cuidados". Analistas acreditam que a estratégia pode ajudar a conter a inflação no curto prazo, mas não pode ser vista como solução definitiva. A mais recente investida para reforçar o controle de preços coincidiu com o resultado ruim dos governistas nas primárias para a eleição legislativa de 14 de novembro. Ao mesmo tempo, a inflação ao consumidor tem acelerado, ficando em setembro em 52,5%, na comparação anual. Como o restante do mundo, a Argentina ainda enfrenta os impactos da pandemia de Covid-19. Mesmo que a emergência de saúde esteja bem melhor do que no seu auge, não está totalmente sob controle, enquanto indicadores de pobreza e fome aumentam.

No segundo trimestre, a taxa de desemprego estava em 9,6%, mas o Observatório da Universidad Católica Argentina chama a atenção para o aumento nos últimos anos do trabalho informal, argumentando no fim de setembro que a taxa de desemprego real no país seria de 27%. A taxa de pobreza estava em 40,6% no primeiro semestre, último número disponível. O governo tenta amenizar o quadro e culpa em parte a dívida "impagável", e busca novo pacote de ajuda com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A taxa de popularidade do governo tem recuado, o que se refletiu nas primárias. A votação de meados de setembro resultou ainda na demissão de alguns ministros ligados à vice-presidente, Cristina Kirchner, em uma mostra do racha na administração. O esforço de controlar preços duraria 90 dias, cobrindo, portanto, o período até a eleição legislativa. Enquanto isso, o país segue enfrentando dificuldades nos mercados: nesta terça-feira (19/10), o risco-país atingia máximas no ano, segundo o jornal local Cronista. A Eurasia comenta em relatório que a estratégia pode reduzir a inflação no curto prazo, mas manterá distorções.

O governo ameaça impor sanções contra empresas que elevem preços descumprindo o combinado, mas ainda não está claro como isso funcionará. "A inflação elevada foi uma das razões por trás do desempenho eleitoral fraco da coalizão governista Frente de Todos, mas o governo não tem uma estratégia para além dos acordos sobre preços, para evitar uma desvalorização do câmbio oficial e as pressões sobre as companhias. Com aumento no gasto fiscal e a incerteza política crescente, a inflação não deve desacelerar muito. O Bank of America avalia que o avanço atual da inflação argentina é em parte fruto de efeitos da base da comparação. A inflação desacelera lentamente, graças à depreciação também lenta do peso argentino, de cerca de 1% ao mês, e aos preços regulados. Mas, as correções salariais e expectativas de desvalorização cambial impedirão mais ganhos. A estratégia do governo de congelar preços até o fim do ano pode ser um sinal negativo para as conversas com o FMI. O BofA projeta inflação de 50% em 2021 e de 42% em 2022 no país, com crescimento de 7,3% do PIB neste ano.

O governo argentino projeta 8,0%. Também depois das primárias, surgiu a notícia na imprensa local de que o presidente Alberto Fernández teria dito a empresários que o acordo com o FMI ficaria apenas para 2022. O presidente foi então ao Twitter para desmentir o relato, dizendo que almeja esse pacto o quanto antes. O Inter-American Dialogue resume alguns dos impasses atuais da Argentina. O país está "preso em um curto prazo eterno", com PIB per capita atual igual ao dos anos 1970. A coalizão peronista diz querer distribuir a riqueza, mas não sabe como gerá-la. Enquanto isso, a oposição aponta para liberalizar a economia, mas não parece ter resposta para o custo social que isso implicaria. A prioridade de Fernández é chegar ao final de seu mandato da maneira que for, e adiar qualquer reforma profunda. Agora, não é possível saber quem pode vencer a eleição presidencial de 2023, mas é muito provável que até lá o país tenha desperdiçado mais quatro anos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.