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28/Set/2021

Desperdício de alimentos no Brasil e no mundo

Em 29 de setembro se comemora o Dia Internacional da Conscientização sobre o Desperdício Alimentar, e, em função disso, chamar a atenção sobre os desafios para a minimização de perdas e desperdícios nas cadeias produtivas de alimentos vem a calhar. Segundo dados projetados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 a produção de alimentos precisará crescer de 60% a 70% para atender a uma população de 9,8 bilhões de pessoas. Diante desse cenário, foram levantados questionamentos relacionados à capacidade de a cadeia produtiva de alimentos suprir essa demanda. Os incrementos tecnológicos no campo resultaram em maior produtividade. Entretanto, segundo levantamento realizado pela FAO, um terço do alimento produzido mundialmente é desperdiçado. Acredita-se que, com a redução de perdas e de desperdícios na cadeia, o aumento na produção de alimentos para suprir a demanda projetada para 2050 não precise ocorrer em grande escala.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2013 a 2018 houve um aumento na insegurança alimentar no Brasil. Ainda segundo pesquisas realizadas pela VigiSAN, vigilância sanitária, de 2018 a 2020 esse aumento se deu de maneira ainda mais expressiva. Em 2020, no Brasil, apenas 44,8% da população se encontrava em situação de segurança alimentar, ou seja, grande parcela da população não tinha acesso a alimentos seguros. Em 2015, a ONU propôs, para os países membros, uma agenda estabelecendo metas para um desenvolvimento sustentável até 2030. Alguns dos objetivos foram desenvolvidos para que todos tenham acesso a alimentos seguros, para que se reduza pela metade o desperdício de alimentos per capita, e haja redução das perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento.

Combater o desperdício de alimentos é um atalho para atingir a oferta de alimentos que será consumida futuramente, concomitantemente com os objetivos de desenvolvimento sustentável. As perdas associadas ao processo produtivo estão presentes em toda a cadeia, com os envolvidos até mesmo antes do processo de plantio. Um relevante gargalo observado no campo está associado à aptidão agrícola. A falta de conhecimento técnico para uso e manejo adequado do solo resulta em menor produtividade e baixo rendimento. E a falta de capacitação da mão de obra tem como consequência elevadas perdas, resultantes das dificuldades em se adequar às técnicas de colheita e ao manuseio excessivo e inadequado de produtos, entre outros fatores. Após a colheita, destacam-se as questões associadas ao armazenamento e embalagem. O armazenamento em temperatura e umidade inapropriadas, armazenagem simultânea de produtos incompatíveis com os alimentos e uso de embalagens inapropriadas resultam em danos e perdas.

Outro ponto de impacto é o transporte. A falta de logística, estradas mal pavimentadas, transportes rudimentares, sem refrigeração ou com superlotação de carga, afetam a qualidade final do alimento. Portanto, informar todos os elos da cadeia, estabelecendo conexão e interação entre eles, resultará em menores perdas no processo produtivo. A evolução da agroindústria 4.0, com soluções tecnológicas inteligentes, também validam e asseguram a qualidade do produto, mas, para se obter êxito, qualificar e treinar a mão de obra é essencial. Perdas e desperdícios do mercado atacadista ao consumidor. Segundo estudo realizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) sobre as perdas no varejo brasileiro, em 2014 as perdas sobre o faturamento se equiparavam com o lucro líquido das empresas. Em 2020, houve uma evolução nesse sentido e as perdas foram reduzidas. No entanto, estima-se, ainda representam R$ 7,6 bilhões.

Para esse elo da cadeia, as maiores perdas estão relacionadas às embalagens e ao manuseio dos produtos. Em um comparativo realizado entre a produção tradicional e a de produtos orgânicos, foi possível avaliar que, na produção tradicional, 5,5% das vendas foram perdidas, e para os produtos orgânicos esse número foi de 1%. Isso ocorreu porque os produtos orgânicos estavam adequadamente embalados e manuseados minimamente. Um segundo ponto de atenção está na validade de vencimento dos produtos. Em levantamento realizado pela Abras, foi observado que 37,4% das perdas para produtos perecíveis e 42,5% das perdas para produtos não perecíveis aconteceram por causa de prazo vencido. Nesse sentido, um dos trabalhos citados para ser feito junto ao governo é o de buscar alternativas na legislação para que, embora o produto esteja vencido, se não está impróprio para o consumo, esteja liberado para o aproveitamento humano.

Um exemplo citado é o modelo best before, que aborda o "consumir antes de", onde o produto até certa data pode ter perdido algumas características nutricionais e sensoriais, mas ainda é seguro para ser consumido. Nesse cenário, o consumidor também desempenha papel fundamental. A compra e o consumo consciente geram redução no desperdício de alimentos e geração de resíduos. Bancos de alimentos. Em 2020 os bancos de alimentos alimentaram aproximadamente 3 milhões de brasileiros, por meio da distribuição de cestas básicas e refeições prontas. A origem dos alimentos distribuídos para a população tem diferentes doadores. Os bancos de alimentos precisam, no entanto, ser fortalecidos para continuarem prestando esse serviço, e, para isso, são necessárias mais ações e políticas públicas voltadas a esse fim.

A lei 14.016, sancionada em 24 de junho de 2020, regulamenta a doação de alimentos e fundamenta o trabalho realizado pelos bancos de alimentos. Ainda, fortalecer a cultura da doação e responsabilidade social corporativa também influencia na destinação adequada de produtos aptos ao consumo e que seriam condenados ao descarte. Assim, o trabalho a ser desenvolvido para a redução das perdas e desperdícios na cadeia de alimentos deve ser atribuído a todos os elos. A conscientização sobre o impacto e o papel desempenhado por cada parte na produção sustentável de alimentos e segurança alimentar tem papel fundamental na melhoria do cenário atual. Conjuntamente, o estabelecimento de propósitos de toda a cadeia, maiores investimentos em pesquisa, políticas públicas e conselhos curadores, são fundamentais para desenvolver e perenizar estratégias de redução da perda e desperdício de alimentos. Fonte: Alcides Torres. Agência Estado.