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23/Set/2021

Estudo sugere produção sustentável de alimentos

Das prateleiras dos supermercados para o campo. A mudança na cadeia produtora de alimentos para uma forma ambiental e socialmente sustentável deve partir daí, segundo relatório da Fundação Ellen MacArthur. O caminho e as oportunidades para transformar o modelo atual passarão pela economia circular, pelas marcas e consumidores. Grandes marcas de alimentos e supermercados têm o poder de fazer com que a produção sustentável e positiva para natureza se torne a nova norma geral. Ao repensar os ingredientes que usam e como são produzidos, eles podem oferecer escolhas que são melhores para os clientes, para os agricultores e para o clima. É um sistema que já não está dando certo e que já tem sinais de perdas econômicas também. A estiagem é um exemplo. As safras de grãos já foram afetadas. Segundo o mais recente relatório do IPCC, o painel científico sobre mudanças climáticas da ONU, a queda na capacidade de produção agrícola é apenas um dos efeitos que o Brasil sofrerá com o aumento da temperatura 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

O aquecimento global é resultado direto da emissão de gases do efeito estufa. Também segundo a ONU, a extração e processamento de materiais, combustíveis e alimentos representam cerca de metade das emissões globais de gases de efeito estufa e mais de 90% da perda de biodiversidade e estresse hídrico. A produção de alimentos é a principal fonte mundial de emissões de gases como o metano, na criação de gado, e o óxido nitroso, com uso de fertilizantes. Ao lado do dióxido de carbono, ambos são também geradores do efeito estufa, o que ajuda a dar uma ideia do tamanho do problema. No Brasil, segundo os dados mais recentes do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as mudanças de uso da terra e a agropecuária representaram 72% das emissões do País em 2019. O redesenho do sistema de produção é mais do que necessário. O estado atual é alarmante e é preciso velocidade.

O conceito de economia circular, já aplicado pela fundação nas cadeias de produção de plástico e da moda, se estrutura em três pilares: a eliminação de resíduos e poluição, a manutenção dos materiais em uso e regeneração dos sistemas vivos. O relatório aponta que a relação das marcas (de produtos alimentícios e supermercados) com os produtores agrícolas pode ser um catalisador desse processo movido pela urgência e pela demanda da opinião pública. Para isso, aponta caminhos. A diversificação das culturas é a primeira delas. Três alimentos hoje são responsáveis por cerca de 60% das calorias consumidas no mundo: arroz, milho e trigo, segundo a FAO, a agência da ONU para a segurança alimentar. Apenas 4% das espécies de plantas conhecidas são comestíveis, e apenas 200 delas são usadas por humanos. O açúcar, por exemplo, não precisa ser derivado apenas da cana-de-açúcar, beterraba ou milho, mas também de safras perenes, como a tamareira, a alfarroba e o coco, além do uso de adoçantes naturais de alta intensidade, como a estévia.

A preferência por ingredientes de menor impacto também faz parte da lista. A substituição da proteína animal por vegetal, que vem avançando em produtos até mesmo de redes de fast-food, é um dos exemplos. Não se trata de defender uma dieta vegetariana, até porque não é possível imaginar que 7,5 bilhões de pessoas no mundo serão vegetarianas ou veganas. Há outras formas de fazer essa substituição e obter um bom resultado para a saúde do planeta. Trocar a farinha de trigo convencional por farinha de ervilha em um cereal matinal pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40% e a perda de biodiversidade em 5%. O trigo é um dos alimentos mais presentes na dieta humana. Aproveitar os produtos secundários de uma cultura é outra medida a ser ampliada. Isso evitaria o descarte de parte importante da produção para ser transformada e aplicada em outras culturas, para a adubação, por exemplo. Para além de ser uma medida ambientalmente correta, é dinheiro.

O mercado de alimentos reciclados de US$46 bilhões deve crescer 5% ao ano, possibilitado por novas tecnologias. Por fim, o documento aponta a adoção de medidas regenerativas durante a produção de alimentos. O plantio direto e o uso de vegetação de cobertura, por exemplo, são técnicas que já são aplicadas em diversas cadeias e que protegem e podem restaurar a composição do solo. Outro benefício é que essas práticas reduzem as emissões de gases de efeito estufa e o escoamento de nutrientes levados pela chuva quando o solo é mantido nu. Por mais que essas medias possam parecer distantes do consumidor é deles que essa mudança deve partir. O crescimento e a geração de escala em produções feitas a partir do modelo de economia circular ajudará a responder à questão do preço desses alimentos. O foco são as grandes companhias que influenciam essa cadeia. É necessário que haja uma mudança sistêmica. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.