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21/Set/2021

Brasil: indústria despenca em importância global

Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), nos últimos 15 anos, a indústria brasileira foi da 9ª posição, entre as maiores do mundo, para a 14ª. No mesmo período, a participação do País na manufatura global foi cortada quase pela metade: foi de 2,2% para 1,3%. Entre outros problemas, duas crises fortes e sequenciais: a de 2015/2016 (do governo Dilma) e a de 2020 (da pandemia), ceifaram empregos, lançamentos, inovação e investimentos, que de tão pequenos foram incapazes de repor a depreciação das fábricas. Com menos força, o valor que adicionam à economia encolheu 1,5% ano após ano, entre 2005 e 2020. Parte considerável dos países emergentes foi na direção oposta. Agora, o pós-pandemia tende a agravar a situação, com as nações desenvolvidas trabalhando para levar a indústria de volta a seus territórios. Segundo o Centro de Inteligência Artificial da Universidade de São Paulo (USP), em poucos meses, a pandemia criou um ‘pandemônio’ em toda a cadeia global de produção, logística e comércio.

As grandes economias perceberam a importância de ter fábricas perto dos consumidores, entre outras coisas para depender menos da logística globalizada. A resposta das grandes potências foi rápida. A estruturação dos planos de Biden nos Estados Unidos, o de recuperação da União Europeia e o quinquenal de crescimento da China, com ações práticas, detalhadas, e um volume gigantesco de recursos, reforçou o dinamismo econômico do Hemisfério Norte, que tende a ganhar ainda mais musculatura e a dar um novo salto. Longe geograficamente desse eixo econômico dinâmico do Norte, todo o resto do mundo é coadjuvante, inclusive o Brasil e toda a América Latina. Nessa nova realidade, ser um mercado potencial não basta: é preciso concretizar e tornar realidade a promessa. O Brasil cresce muito menos do que qualquer país comparável. O fechamento de fábricas de multinacionais no País em plena pandemia é um dos sinais dessa mudança de eixo e dessa espécie de "cansaço" com miragens, e o reposicionamento das cadeias globais.

Para ficar em apenas alguns exemplos, encerraram linhas de montagem no Brasil Ford, Mercedes-Benz, LG e Sony. A pandemia só reforçou um movimento dos últimos dez anos, de recalibragem do processo tecnológico, que é a essência da indústria 4.0, com a modernização de todas as atividades econômicas. Com essa mudança estrutural, o risco é a manufatura brasileira passar de pequena para totalmente irrelevante. Ao se tornar ainda mais suscetível às instabilidades das commodities, o País tende a manter o crescimento pífio e a criar vagas mal remuneradas. Não menos honrosos, os empregos de baixa qualificação têm salários condizentes com o que produzem. No final, essa situação condena o Brasil a ser um País de renda média, e a profunda desigualdade ser mantida. Apesar de parte dos fabricantes locais se esforçarem para acompanhar o movimento de digitalização e da indústria 4.0, é algo que não depende exclusivamente da iniciativa privada.

Como em várias outras frentes, faltam políticas de Estado que deem condições mínimas de infraestrutura para a execução de estratégias. Qual o sentido de enfiar sensores, robôs e inteligência artificial na produção, se a internet ou a energia caem quando chove? Como é possível avançar em direção à sustentabilidade, se é preciso ligar um gerador movido a óleo com a ameaça de falta de energia? Na prática, além dos problemas de infraestrutura, a agenda do governo voltada à inovação, produtividade, competitividade e integração internacional também tem tido pouca efetividade. A Câmara Indústria 4.0, por exemplo, não teve ações efetivas de impacto. O programa Brasil Mais, para melhorar a produtividade de micro, pequenas e médias empresas, é tímido e não deslancha. O ambiente de negócios e a redução do custo Brasil continuam travados, como sempre. Ou até mesmo com perspectivas de piora, como acontece com a atual versão da reforma tributária, de acordo com diferentes setores.

Também não há uma estratégia clara e ordenada para a integração internacional. Esses programas sempre têm muito marketing, mas poderiam oferecer alguma ajuda. Mas, com o governo em situação de paralisia e preocupado com a reeleição, o aparato público é desmobilizado e o setor empresarial, que cresceu sob as asas do Estado, mas tem um ambiente de negócios difícil, sofre. Se deixa de ajudar por um lado, o governo prejudica até mesmo em uma das áreas nas quais o setor produtivo nacional se modernizou: no financiamento privado. Com a mudança de direcionamento dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deixaram de priorizar empréstimos a grandes grupos, as corporações brasileiras tiveram de aprender a captar recursos via mercado. Foi um literalmente um aprendizado, possível quando os juros entraram no lugar e o BNDES saiu: muitas empresas passaram a entender o mercado de dívidas, quem são os agentes, os procedimentos e critérios econômico-financeiros a serem considerados.

Não é algo que acontece da noite para o dia, principalmente quando vem uma pandemia que atrapalha o processo. Após seis anos de ambiente adverso intenso, quando as empresas começaram a avançar, a volatilidade causada pelos ruídos políticos e o maior risco fiscal, mais uma vez provocados pelo governo, ameaça esse caminho. No próximo ano, as empresas devem fazer menos ofertas de ações e emitir mais títulos de dívida, mas sem crescimento da demanda por recursos, por conta do crescimento do PIB quase nulo. Além disso, com a Selic e os riscos mais altos, o dinheiro fica mais caro. É uma trajetória de fôlego curto porque o setor financeiro, para investir e liberar crédito, precisa ter garantia de retorno e previsibilidade, nada que esteja no radar. O Brasil tem exceções, mas suas empresas têm pouco músculo e não conseguem quebrar esse ciclo para recuperação da confiança sozinhas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.