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21/Set/2021

Meio Ambiente: governo e BNDES em rotas opostas

A agência de classificação Vigeo Eiris, associada à Moody's, divulgou o seu ranking ESG (relacionada às boas práticas ambientais, sociais e de governança). O BNDES teve excelente avaliação: com nota A1+, atingiu a faixa de investment grade. A qualificação do banco de fomento se reflete nas negociações com organismos multilaterais. Do início da pandemia para cá, o BNDES garantiu US$ 3,45 bilhões (em torno de R$ 18 bilhões) do BID e do NDB (Banco dos Brics) vinculados a critérios ESG, revelou a diretora de Finanças do banco, Bianca Nasser. Uma rota diametralmente oposta à do governo que, com sua conduta no meio ambiente criticada por diversos países, amarga a suspensão de ajuda financeira internacional para questões ambientais, como a preservação de florestas. "No diálogo com o banco, a gente percebe esse alinhamento com a pauta ESG, que tem repercussão internacional. A atuação do BNDES parece estar mesmo descolada da política governamental", diz a economista Ione Amorim, coordenadora de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

"É um ponto talvez distante para identificar se há um conflito interno de alinhamento da política do BNDES com a pauta governista, mas é importante reconhecer a sensibilidade do banco em acompanhar a importância dos critérios ESG", diz a economista. No início do ano, o Idec também divulgou um ranqueamento socioambiental das instituições financeiras. A lista do Guia de Bancos Responsáveis foi liderada pelo BNDES, seguido pelo Santander. Do pipeline de US$ 3,45 bilhões em financiamentos negociados, US$ 750 milhões foram desembolsados no ano passado pelo BID. "Temos em torno de US$ 1 bilhão em negociação com o BID para serem desembolsados ao longo deste ano e do próximo; mais US$ 500 milhões do NDB para projetos relacionados a impactos climáticos e outra linha com o NDB, de US$ 1,2 bilhão, relacionada a apoio de pequenas e médias empresas", lista Bianca. O banco, que em 2017 fez a primeira emissão brasileira de títulos verdes no mercado internacional, já tem pronto o escopo para a emissão, tanto no mercado internacional quanto local, de bonds sustentáveis.

Não apenas verdes, mas ligados a segmentos reconhecidos no mundo como sustentáveis, como saneamento, saúde e educação. A bilionária liquidez do BNDES, que gira em torno de R$ 140 bilhões, tem mantido na prateleira os projetos de captação. "Temos essa estratégia montada, mas de fato não temos um planejamento no curto prazo de captação em função de nossa elevada liquidez", afirma Bianca, que não descarta uma operação apenas com o objetivo de fomentar novos mercados. Depois da captação de 2017, houve apenas uma outra operação, também no valor de R$ 1 bilhão, a Letra Financeira Verde, emitida no mercado doméstico. Há um mês o banco anunciou uma nova linha de crédito, com dotação também de R$ 1 bilhão. O programa Crédito ASG (ambiental, social e governança) é um projeto-piloto de abertura de crédito livre para empresas que assumam algum compromisso sustentável.

O diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do banco, Bruno Aranha, explica que o custo do empréstimo varia de acordo com o risco de crédito, mas o spread básico da linha é de 1,5% ao ano, com uma contrapartida também básica, como a divulgação de relatório de sustentabilidade, por exemplo. Caso a empresa se comprometa com mais uma meta, a taxa cai para 1,3%; com duas metas, para 1,1%. "Isso reduz em 30% o custo do financiamento. Mas se a empresa não cumprir a meta estipulada, terá também uma penalidade: a taxa sobre para 2,5%", afirma Aranha. É uma tentativa de disseminar a cultura sustentável mesmo que o financiamento não seja destinado a um projeto ESG específico. Tudo muito positivo, e de certo modo surpreendente, num momento de tanto descrédito do governo na agenda da sustentabilidade, mas que precisa de um cuidadoso acompanhamento para não cair no que o mercado convencionou chamar de "greenwashing", que são as iniciativas sustentáveis "para inglês ver", ou seja, que existem mais no marketing do que na prática. Fonte: Irany Tereza. Agência Estado.