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15/Set/2021

Economia circular vem ganhando força no Brasil

Iniciativas para promover a economia circular têm ganhado força entre empresas no Brasil nos últimos anos, ao mesmo tempo em que as preocupações com o impacto da atividade humana no meio ambiente crescem e a agenda ESG (relacionada às boas práticas ambientais, sociais e de governança) se torna obrigatória. É verdade que falar em economia circular em um País no qual a coleta seletiva de lixo está longe de ser universal e a taxa de reciclagem de resíduos é irrisória pode até parecer ambição demasiada. Ainda há um longo caminho a seguir para que medidas que garantam o retorno de insumos a serem descartados às cadeias produtivas não sejam casos isolados. Nem a logística reversa, um dos pilares da circularidade, é disseminada no País, apesar de obrigatória desde 2017. Mas, para especialistas, a questão deve ter mais espaço nas empresas. Segundo a Fundação Vanzolini/Poli-USP, especialista em economia circular, seja por estímulo ou pressão, as empresas vão ter de se adequar.

Uma das companhias que há anos olha a questão da circularidade é a Natura. Um de seus programas mais recentes na área começou em maio do ano passado, quando criou uma estrutura para receber embalagens vazias nas lojas físicas Natura e The Body Shop, do grupo Natura &CO. A cada cinco embalagens entregues, o consumidor recebe um produto como brinde. O material recolhido é reciclado e transformado em vasos, cones de trânsito, caixas para vegetais, entre outros utensílios. Mesmo com a pandemia, o volume coletado nas 60 lojas no Brasil superou as expectativas e chegou a 10 toneladas, do início do programa até julho. A Natura foi a primeira empresa a lançar refil (de embalagens) ainda em 1983, quando a circularidade ainda não era uma questão.

A companhia participa de outras iniciativas de logística reversa. O programa "Dê a Mão para o Futuro", do qual fazem parte todas as empresas do grupo Natura &CO (Natura, Avon, The Body Shop e Aesop), é uma ação coordenada pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), para que as empresas cumpram a política nacional de gestão de resíduos e dá suporte técnico e financiamento a cooperativas de catadores para a aquisição de equipamentos. Já o "Natura Elos" fomenta cadeias de suprimento de material reciclado e envolve a Natura e fornecedores de embalagens (fabricantes, cooperativas e catadores). Em 2020, o programa recuperou 10,2 mil toneladas de material reciclado pós-consumo no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Peru. Até 2030, a meta da empresa é ter 100% dos materiais das embalagens provenientes de insumos reaproveitados, recicláveis ou compostáveis. Atualmente, são 81%.

Um dos principais desafios para viabilizar a circularidade total é que esse é um movimento coletivo. À empresa, cabe buscar processos inovadores, não só para desenvolvimento de produtos e de embalagens, mas também que permitam ao consumidor fazer mais escolhas. O grupo Natura & Co, investiu, no último ano, US$ 4,9 milhões em soluções "regenerativas", como tecnologias para produção de plástico verde, biodegradável e mudanças no design de embalagens para que contenham menos plástico. As iniciativas para promover a logística reversa no País têm avançado. No segmento de embalagens, entre as mais relevantes estão a Coalizão Embalagens, a Dê a Mão para o Futuro (que também tem como parceiros a Abipla - Associação Brasileira das Indústria de Produtos de Limpeza e a Abimapi - Associação Brasileira da Indústria de Massas Alimentícias), e o Prolata (iniciativa da Associação Brasileira de Embalagem de Aço).

Estima-se que as três iniciativas somadas ainda representem menos de 50% do mercado de embalagens no Brasil. As empresas que adotam programas têm conseguido cumprir a meta de "desviar" de aterros sanitários 22% das embalagens pós-consumo, como previsto em acordo setorial de logística reversa assinado com o Ministério do Meio Ambiente. Quem faz consegue, o problema é que várias não fazem. A Fundação Vanzolini afirma que há hoje muita preocupação com o tema da economia circular nas corporações, principalmente nas grandes. Mas, na maior parte dos casos, até mesmo nas empresas maiores, a transição de um modelo de produção linear para o modelo de economia circular, ainda está em estágio inicial. É preciso "separar o joio do trigo" porque há muito discurso e uma parcela de práticas que não são de fato tão alinhadas com a questão de sustentabilidade, agora com esse novo rótulo da economia circular, muita prática de greenwashing.

Mas, há otimismo, mesmo que ainda haja questões básicas a enfrentar para viabilizar a circularidade, como o baixo índice de reciclagem de resíduos sólidos no País. A questão vai emergir em velocidade mais intensa nos próximos anos porque isso afeta os negócios. Além de consumidores mais preocupados, os investidores também têm dado mais atenção aos aspectos ESG nas empresas. A gigante de café Nespresso também tem ações em busca da circularidade e foca os esforços para reduzir o impacto ambiental das cápsulas de alumínio. A meta para o País é fazer com que metade delas tenha, até 2025, destino correto e possa voltar às cadeias produtivas. A empresa tem um programa de reciclagem das cápsulas no Brasil desde 2011, no qual investe R$ 5 milhões ao ano. A taxa de reciclagem hoje está em 17%, era metade disso há cinco anos e o objetivo é alcançar 50% em 2025. Para atingir o objetivo, a empresa terá de oferecer mais opções de reciclagem.

É um número ao qual é possível chegar, com novas opções de reciclagem, novos pontos de coleta e conveniência, mas também engajando o consumidor. Nesse sentido, além de 200 pontos de coleta das cápsulas hoje no País, como as lojas Nespresso, do Pão Açúcar, hotéis e restaurantes, desde março quatro agências também estão recebendo cápsulas, como parte de um projeto-piloto. Outra alternativa foi implantada em quatro capitais, nas quais o consumidor pode comprar online, usando a chamada entrega verde, feita de bicicleta e com a retirada das cápsulas para reciclagem. Uma terceira possibilidade, é enviar as cápsulas usadas pelos Correios, sem taxa. A Nespresso tem parceria com 80 cooperativas de reciclagem, a maior parte em São Paulo e na Grande São Paulo, que separam as cápsulas no processo de seleção dos resíduos e as vendem à empresa de café. É a última chance de pegar a cápsula antes de ela chegar ao aterro sanitário.

Todas as cápsulas recolhidas vão para o centro de reciclagem da Nespresso, em Osasco (SP), no qual ocorre a separação do alumínio e do café. O alumínio é destinado à indústria siderúrgica. A borra do café, desde o ano passado, é usada por agricultores do programa Nespresso Hortas na produção de alimentos orgânicos, na zona sul da capital. Em nível global, a empresa também tem metas para o aumento do uso de materiais reciclados nas cápsulas, produzidas em três fábricas na Suíça. Até o fim deste ano, as cápsulas devem ser produzidas com 80% de alumínio reciclado. Os números levantados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) podem impressionar os desavisados. Entre 2010, quando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi assinada, e 2019, o número de cidades com alguma iniciativa de coleta seletiva passou de 3.152 para 4.070, ou 73% dos 5.570 municípios brasileiros.

Quando se olha no detalhe, porém, ter alguma iniciativa não significa praticar efetivamente a coleta seletiva. Segundo a Abrelpe, em muitas cidades o processo ainda não alcança toda a área urbana. Realizar o sistema também não significa que seja feita a reciclagem. Em 2020, das 79 milhões de toneladas de lixo domiciliar geradas no País, apenas 2% foram recicladas, conforme o Ministério do Meio Ambiente. São vários os motivos para uma taxa tão baixa, pois muitos materiais não são recicláveis. Outro motivo é a falta educação: o lixo muitas vezes é separado de maneira errada, não há parque de reciclagem e nem mercado para uma série de materiais. Também existe, surpreendentemente, imposto alto para quem recicla. A tributação do material reciclado é maior do que a matéria-prima virgem, em muitos casos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), no segmento de plástico, por exemplo, a indústria não consegue receber créditos quando compra resíduo de uma cooperativa de reciclagem porque a cooperativa não paga IPI nem ICMS. Quando vende essa resina reciclada para alguém é custo. Diferente da resina virgem, que dá crédito.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente, à espera de publicação, tem entre suas metas que o País alcance uma taxa de 20% de reciclagem de resíduos em 2040 e acabe com todos os lixões até 2024. Também propõe recuperar, até 2040, 45% das embalagens em geral por meio de logística reversa. Para o Ministério do Meio Ambiente, o caminho para melhorar as taxas de reciclagem no País passa por campanhas de conscientização e de educação ambiental e pela adoção de medidas previstas no Plano Nacional, como o fim dos lixões e o compromisso dos municípios com a destinação adequada dos resíduos. O plano está alinhado com o marco regulatório do saneamento básico que prevê cobrança pelo serviço de coleta e manejo dos resíduos sólidos pelos municípios. A cobrança, a concessão de serviços são caminhos que podem reverter o quadro de baixo índice de reciclagem ao permitir que os sistemas tenham mais continuidade, concomitante com as ações da iniciativa privada. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.