ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

10/Set/2021

Mudanças na China poderão afetar o agronegócio

O crescimento chinês na casa dos dois dígitos pode ter ficado no passado. Pelo menos é o que indicam dados do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (Mara) e a Academia de Ciências do Agronegócio da China (CAAS). Eles apontam para um crescimento que deve cair à metade do que foi registrado nas últimas décadas, com uma média de 4,9% até 2030. Os números levantaram dúvidas sobre a capacidade de a China absorver a produção brasileira como faz hoje. O gigante asiático, maior parceiro comercial do Brasil, comprou 32,3% de tudo que o país exportou em 2020. Especialistas não acreditam que a China vá reduzir sua demanda por produtos importados. A principal preocupação para os produtores brasileiros deve ser o aumento da concorrência por um pedaço do mercado chinês. Alguns produtos devem enfrentar uma concorrência da produção interna da China, especialmente a carne suína. Por conta da peste suína africana (PSA), houve uma redução de produção chinesa e aumento de importação do Brasil.

Essa produção vai ser reposta nos próximos anos. Ainda que a demanda por carne suína ao final de 2021 aumente 16,5%, como espera a China, a importação dessa proteína deve cair 13,4% por conta da retomada da produção interna. O mesmo vale para a carne de frango, com 35,5% de redução nas importações ao fim deste ano, segundo o relatório China Agricultural Outlook da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a InvestSP. A expectativa é que a queda na dependência desse tipo de importação seja estrutural, o que deve reduzir as exportações de proteína animal para a China, não só do Brasil, mas de qualquer lugar do mundo. A soja, produto mais vendido hoje do Brasil para a China, também pode enfrentar concorrência. Em 2020, mesmo com a pandemia, a produção anual de grãos da China alcançou 669,5 milhões de toneladas, um aumento de 0,9% em comparação à produção de 2019. Em paralelo, o consumo de milho e soja, ainda vai crescer 2,4% e 0,7%, respectivamente.

Além disso, é possível que parte dessa demanda seja absorvida por um produtor inesperado, a África, que tem recebido investimentos da China para que o país asiático não fique nas mãos de poucos fornecedores. Hoje, os maiores produtores do mundo de quem a China compra são Brasil, Estados Unidos e Argentina. Ainda há limitações logísticas e até climáticas para plantar soja na África, mas é visível que o Brasil terá mais concorrência no futuro do que tem hoje. Para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Brasil pode vir a perder volume de exportação para a China, mas não por conta de uma eventual redução no crescimento do país asiático, mas pelo desvio de mercados, com outros países desenvolvendo produtos que o Brasil exporta. Se forem feitos acordos entre os Estados Unidos e China, justamente para lidar com a guerra comercial, pode ser que comprem mais soja dos Estados Unidos do que do Brasil.

Por mais que a China desenvolva tecnologia, vai continuar dependendo da produção externa em níveis semelhantes aos atuais. A China é um país muito grande, mas com uma área agricultável ainda muito pequena, em torno de 10%. Mesmo que essa área cresça com o uso de novas tecnologias, ainda será uma área proporcionalmente pequena. A expectativa é que a dependência possa até ser maior por conta de um crescimento importante de uma classe média urbana com uma dinâmica de consumo mais voraz e diversa. A perspectiva para os próximos anos é que continue havendo um êxodo do campo para a cidade. As projeções variam, mas algo como 30 milhões de pessoas todo ano devem migrar para as cidades. E essa população vai precisar ser abastecida por uma produção agrícola feita na China, mas também fora. As exportações para a China, hoje, são muito concentradas em poucos produtos, como a soja e o minério de ferro. Mas, há uma mudança da cultura alimentar que pode oferecer novas possibilidades ao agronegócio brasileiro.

A China não era um grande consumidor de café, e hoje está se tornando um. O aumento da demanda por açúcar na China também pode vir a ser um novo mercado a ser explorado pelos produtores brasileiros. As importações de açúcar continuarão crescendo, com previsão de que alcancem 5,52 milhões de toneladas em 2030, avalia a Confederação Nacional de Agricultura (CNA) no estudo com base em dados do governo chinês. Mesmo com uma redução do crescimento chinês a patamar próximo de 5%, metade do que a China registrou nas últimas décadas, a demanda por produtos estrangeiros vai continuar aquecida. Além disso, a Ásia passa por um processo conhecido como spillover, que é um transbordamento do crescimento da principal economia da região para as vizinhas. Por isso, o agronegócio brasileiro deve voltar sua atenção também para o crescimento da demanda nos países que circundam a China.

A Ásia como um todo está se tornando um destino importante. É por isso que Tailândia e Malásia já importam mais produtos brasileiros que parceiros tradicionais, como é o caso de França e Alemanha. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a estimativa é que a China dobre sua população de renda média na próxima década e, portanto, tenha uma capacidade de consumo muito maior. A manutenção da produtividade brasileira em níveis atuais ou próximo disso pode significar um problema para atender a demanda chinesa crescente ou para abastecer o mercado interno. Se o mercado interno for relegado a um segundo plano, pode haver desabastecimento, caso produtores brasileiros prefiram alimentar outras nações por questão do preço. Neste caso, entra a questão de políticas públicas e cabe ao governo entender como fazer para não desequilibrar esse jogo. Fonte: CNN Brasil. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.