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26/Ago/2021

Dólar recua com a diminuição dos temores fiscais

O arrefecimento das preocupações com as contas públicas, após dados fortes da arrecadação em julho, e a perspectiva de alta mais intensa da taxa Selic, na esteira da divulgação do IPCA-15 de agosto acima das expectativas, abriram espaço para queda firme do dólar no pregão desta quarta-feira (24/08). Em terreno negativo já pela manhã, a moeda norte-americana acentuou as perdas e tocou no patamar de R$ 5,20 à tarde, em sintonia com a melhora da performance de outros ativos domésticos, com o Ibovespa virando para o lado positivo e as taxas de juros longas registrando mínimas, movimento atribuído, em parte, aos números positivos da arrecadação federal. Também contribuíram para a arrancada do Real no fim do dia a leve queda do índice DXY, que chegou a operar em alta, e o avanço dos preços do petróleo, em dia marcado por apetite ao risco, com alta das taxas dos Treasuries e das bolsas norte-americanas. Apesar do clima positivo no exterior, as divisas emergentes tiveram desempenho misto, com queda do rand sul-africano e leve alta do peso mexicano, ambos tidos como pares do Real.

No Brasil, após correr entre a máxima a R$ 5,27 e a mínima a R$ 5,20, o dólar encerrou o pregão em queda de 0,97%, a R$ 5,21, o menor valor desde o dia 4 de agosto (R$ 5,18). Foi o segundo dia consecutivo de recuo firme do dólar, o que praticamente apagou a valorização acumulada no mês (+0,03%). A avaliação é que a diminuição das tensões fiscais, desencadeada após a fala firme do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a favor da manutenção do teto dos gastos, reduz o prêmio de risco dos ativos locais. A diminuição da temperatura da crise político-institucional, na ausência de novas desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), também é vista como alavanca para melhora da percepção de risco. Em tal contexto, o Real poderia passar a espelhar com um pouco mais de fidelidade os fundamentos das contas externas e se beneficiar do aperto monetário, que aumenta o diferencial de juros e estimula as operações de arbitragem.

A taxa de câmbio vinha refletindo muito a delicada combinação de crise política e fiscal. E houve um certo alívio com a fala de Arthur Lira na terça-feira (24/08), de respeito ao teto de gastos, apaziguando um pouco os ânimos. Além disso, o IPCA-15, mais alto do que se esperava, chama mais juros, o que, na teoria, ajuda o Real a performar bem. Mas, ainda há muito prêmio de risco embutido na taxa de câmbio. Ainda teria espaço para o Real se apreciar. Mas, a crise política ainda está ativa e o mercado não está com boa vontade com o Brasil. Qualquer estresse no exterior, pode disparar venda do Real. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA-15 acelerou de 0,72% em julho para 0,89% em agosto. O resultado alimenta as expectativas de que o Banco Central possa acelerar o passo e elevar a taxa Selic em 1,25% em setembro. Ganham também mais forças as apostas de que a Selic possa atingir 8% no atual ciclo de aperto monetário. Investidores monitoram também o impacto da crise hídrica sobre a dinâmica inflacionária e a possível reação do Banco Central.

A arrecadação em julho somou R$ 171,270 bilhões, melhor resultado da série. No ano, até julho, a arrecadação tem aumento real de 26,11% em relação a igual período do ano passado. O ministro da economia, Paulo Guedes, aproveitou os números positivos para exaltar a recuperação da atividade econômica. Segundo Guedes, os nossos fundamentos fiscais estão mais fortes e, possivelmente, haveria superávit primário no ano que vem, não fosse a reforma tributária. Além das declarações de Lira a favor do teto de gastos, chama a atenção para o fato do presidente da Câmara ter adiado a votação da reforma do Imposto de Renda e ter dito que vai pautar a reforma administrativa. O Brasil estava descolado do exterior desde que foi enviada a proposta de reforma fiscal para o Congresso, que o mercado entende como populista. O adiamento foi positivo. A alta das commodities, após a informação de que a China conseguiu controlar a variante Delta do coronavírus, também ajudou a dar fôlego ao Real. O cenário de médio prazo continua desafiador. Vai entrar na pauta até o fim do ano com mais força a discussão do orçamento de 2022. Além disso, tem o 7 de setembro. É preciso ver como vai ser o movimento de rua e a implicação disso na relação entre os Poderes.

Do lado das contas externas, o Banco Central divulgou que a conta corrente foi deficitária em US$ 1,584 bilhão em julho, bem acima da mediana das projeções (déficit de US$ 300 milhões), resultado atribuído, sobretudo, à despesa líquida de lucros. Do lado positivo, destaque para a entrada de US$ 6,103 bilhões em julho. Foi também o melhor resultado para o mês desde 2014. O BC também informou que o fluxo cambial em agosto (até o dia 20) foi positivo em US$ 4,607 bilhões, com entrada de US$ 2,171 bilhões pelo lado comercial e US$ 2,436 bilhões no canal financeiro. Em relatório, a Genial Investimentos afirma que os fundamentos da economia brasileira indicariam uma taxa de câmbio de R$ 4,30 no fim deste ano e que o atual patamar da moeda norte-americana é, em grande parte, determinado pela questão fiscal. Sinalizar de forma crível que o teto será respeitado, é o instrumento para que o valor de mercado da taxa de câmbio se aproxime do valor determinado pelos fundamentos, contribuindo para o controle da taxa de inflação. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.