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24/Ago/2021

Crise hídrica: falta de transparência é preocupante

O Brasil atravessa a pior crise hídrica em mais de um século de medições meteorológicas no País. A estiagem afeta, principalmente, a Bacia do Rio Paraná, em cuja região hidrográfica estão os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Grandes usinas hidrelétricas estão concentradas nesta região, como as usinas de Jupiá, Ilha Solteira, Porto Primavera e Itaipu. Atualmente, o País tem 83% de sua matriz elétrica produzida por fontes renováveis, de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME). A participação das hidrelétricas representa 64% do total destas fontes, seguida de muito longe pelas usinas eólicas (9,3%). Logo, uma crise hídrica da magnitude da que ora afeta o Brasil traz a reboque, é evidente, o risco de racionamento e apagões, a menos que se gere energia a partir de fontes muito mais caras e mais poluentes, como as termoelétricas. É espantoso que, diante de um quadro que inspira extrema preocupação, o governo federal aja com pouca ou nenhuma transparência ao lidar com a crise.

O MME não divulga um indicador que determine quando é o momento de adotar o racionamento de energia no País. Na realidade, a pasta confirmou que nem sequer há este indicador, mas, sim, uma análise multifatorial que leva em consideração a perspectiva de consumo e de chuvas para os próximos meses. O que é isto não se sabe. Famílias e empresas ficam às escuras, sem trocadilho, privadas que estão de informações claras sobre a probabilidade de terem de enfrentar uma falta de eletricidade no futuro próximo. Até a posse do presidente Jair Bolsonaro, as análises do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), coordenado pelo MME, eram publicadas mensalmente. A partir de janeiro de 2019, no entanto, os dados simplesmente deixaram de ser divulgados. O mundo busca parametrizações para a tomada de decisão. O Brasil tem não tem um índice de monitoramento da situação de abastecimento energético, isso é preocupante.

Não faltam metodologias para adoção de um indicador mais transparente para a sociedade, e sim boa vontade e um pouco de organização institucional. O ministro Bento Albuquerque afirma que o governo federal não trabalha com a hipótese de racionamento de energia no País, mas a situação é muito menos confortável do que sua fala quer fazer parecer. A PSR, maior consultoria do setor energético em atividade no Brasil, estima entre 10% e 40% o risco de haver racionamento de energia entre os meses de setembro e novembro deste ano, a depender da demanda. Não é um risco desprezível. Em meio a tantas intempéries de ordem moral, sanitária, política, social e econômica em sua campanha pela reeleição, é provável que Bolsonaro tenha desenvolvido alergia à simples menção das palavras "apagão" e "racionamento". Porém, por mais poderoso que julgue ser, a vontade do presidente não tem o condão de fazer um problema simplesmente desaparecer.

É seu dever enfrentar a crise e agir com absoluta transparência. A servir-lhe de exemplo, há a experiência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante a crise energética de 2001. Aquela crise não foi trivial, como bem lembram os brasileiros que sofreram seus efeitos, mas em momento algum faltou comunicação com a sociedade. Governo e sociedade devem agir em coordenação para mitigar os efeitos desta crise hídrica sem precedentes, cada um em suas esferas de responsabilidade. Sem conhecer plenamente a extensão da crise e os riscos envolvidos, a sociedade pouco pode fazer. Uma comunicação transparente deve prevalecer sobre os interesses eleiçoeiros de Bolsonaro. Os problemas da Nação são muito mais importantes do que os problemas de Bolsonaro. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.