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20/Ago/2021

África: potencial para ser o novo celeiro do mundo

Quando falamos do mercado de grãos, sempre surgem temas ligados aos Estados Unidos, à China e à América do Sul, o que é natural, já que essas localidades concentram a produção de soja e milho, além de serem grandes consumidoras. Mesmo quando são feitos cenários e projeções para o futuro, essas regiões se destacam e muito pouco se fala sobre o continente africano. Com um território de mais de 30 milhões de quilômetros quadrados, a África é o terceiro maior continente em extensão territorial, ocupando 20% da toda a área continental do planeta. Além disso, é o segundo continente mais populoso, com uma estimativa de 1,4 bilhão de pessoas em 2019 (Banco Mundial), atrás somente da Ásia. Destaco, ainda, que nas próximas décadas a África deve ser a região do mundo com a maior taxa de crescimento populacional, ampliando sua participação na população mundial. Somente por essas informações já se pode concluir que o continente tem um enorme potencial para a demanda de alimentos e consequentemente de grãos.

A principal forma de consumo de milho e soja pelas pessoas é indireta, por meio da demanda por carnes. Já a inserção de proteínas na alimentação tem uma relação clara com a renda das famílias. Assim, quanto maior a renda, maior tende a ser a participação de alimentos proteicos na dieta. Nesse ponto, de crescimento de renda, a África também tem muito espaço para avançar, destacando que o consumo de carne per capita da população africana está bem abaixo da média mundial e fica muito aquém do observado nos países desenvolvidos. Boa parte da população africana ainda tem como base de sua alimentação as raízes e tubérculos, além dos grãos in natura, com baixa participação da categoria de proteínas, incluindo leite e derivados. Não é a intenção deste artigo discutir como será o desenvolvimento econômico do continente africano e em quanto tempo o consumo de frações maiores de proteínas estará mais disseminado e consolidado entre a população.

Contudo, os avanços econômicos e sociais estão intimamente relacionados à atratividade de uma região quanto a investimentos, o que retroalimenta um ciclo virtuoso de crescimento do PIB, da renda e do consumo. Dessa forma, não somente o consumo de bens e serviços ganha ímpeto, mas também o setor produtivo é cada vez mais incentivado. Quanto à produção agrícola em escala comercial, a África, no futuro, também tem grande potencial para ampliar seu espaço. Atualmente, a área colhida de soja e milho no continente já ultrapassa 40 milhões de hectares, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), contudo, a produtividade média é baixa, com a produção das duas commodities em conjunto ficando entre 80 e 90 milhões de toneladas, com grande predominância do milho, que ainda é cultivado de maneira rudimentar e muito utilizado como uma das bases alimentares da população. Ressalto que quase a totalidade dessa produção ocorre na África Subsaariana, região que também concentra a maior parte da população do continente.

Além dessa área já expressiva, principalmente de milho, as características naturais e de clima também são favoráveis ao cultivo agrícola em muitas regiões. O bioma da savana, por exemplo, guarda muitas similaridades com o cerrado brasileiro. Claro que nem todas as áreas serão ocupadas por lavouras, mas o potencial existe e é significativo. Há quem afirme que a África será o novo celeiro do mundo, fazendo frente à demanda crescente por alimentos. Que o potencial existe realmente é indiscutível, mas essa transição africana para um grande player agrícola mundial ainda é uma perspectiva de longo prazo. Mesmo assim, é sempre bom ter no radar esse potencial, não deixando a África de lado nas tomadas de decisões de investimento. A China, por exemplo, vem ampliando sua presença na agricultura do continente no século atual, gerando inclusive especulações sobre os reais motivos desse maior interesse, que vão desde a segurança alimentar do país mais populoso do mundo a questões geopolíticas. De qualquer forma, independentemente do motivo, esse interesse não é à toa e com certeza não será em vão, mesmo que a agricultura em escala comercial ainda demore uns bons anos para se consolidar na África. Fonte: Ana Luiza Lodi. Agência Estado.