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18/Ago/2021

Os impactos das mudanças climáticas para o Brasil

Em 9 de agosto, após oito anos da última revisão, foi divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) o relatório sobre os esperados impactos da ação do homem na elevação da temperatura e nos fenômenos climáticos extremos. O relatório aponta que, por motivação principal e inequivocamente antropogênica, a temperatura do planeta já subiu 1,09°C quando comparada ao período pré-revolução industrial, e invariavelmente chegará a 1,5°C nas próximas duas décadas, o que aumenta ainda mais a pressão sobre as emissões de gases do efeito estufa (GEE) que serão discutidas na COP-26 em Glasgow, Escócia, em novembro.

Para evitar que a temperatura aumente ainda mais há a necessidade de cortar significativamente as emissões de GEEs nas próximas décadas, caso contrário o planeta aumentará 2°C antes mesmo de 2050. Em relação aos fenômenos climáticos extremos, o relatório aponta os seguintes impactos: (I) atualmente as ondas de calor estão ocorrendo cinco vezes mais do que o normal com o aumento de 1,09°C, e caso aumente para 2°C a frequência será quatorze vezes maior; (II) as secas que ocorrem em média uma vez por década estão ocorrendo com uma frequência cerca de 70% maior, e caso a temperatura aumente 2°C ocorrerão até três vezes mais do que atualmente; (III) as mudanças climáticas também afetam o regime das chuvas, pois mais vapor de água gera mais chuvas extremas.

A ocorrência de inundações já aumentou em 30%, e com um volume 7% maior de água; (IV) há um porcentual maior de furacões atingindo categorias mais altas; (V) o nível do mar irá aumentar entre 2 e 3 metros caso o aquecimento fique limitado a 1,5°C, entre 2 e 6 metros se limitado a 2°C, e entre 19 e 22 metros com um aquecimento de 5°C. O relatório simula cinco cenários distintos para os próximos anos em relação às emissões de CO2, partindo da diminuição drástica das emissões e ficando negativa a partir de 2050 (cenário muito baixo), até o aumento das emissões (muito alta). Essas emissões foram relacionadas com o aumento da temperatura mostrando que é necessário que as emissões reduzam a zero, caso contrário o mundo aquecerá +4,0°C a partir de 2080.

O novo relatório do IPCC, diferentemente dos anteriores, traz as projeções mais regionalizadas sobre os impactos das mudanças climáticas no planeta, indicando os comportamentos das temperaturas, chuvas, armazenamento de água no solo, e os extremos climáticos. De acordo com as projeções do IPCC, a Região Sul do Brasil é a menos sensível ao aquecimento global. Caso a temperatura global aumente 1,5°C, a temperatura nessa região aumentará de 0,0 a 1,5°C, as chuvas aumentarão em até 10% e a umidade no solo será 0,5% acima do normal. O mesmo ocorre em relação aos extremos climáticos, apresentando um impacto menor em relação às demais regiões do Brasil, podendo beneficiar as culturas de grãos. Na Região Centro-Sul, com o globo aumentando 1,5°C, a temperatura aumentará de 2,0 a 2,5°C, as precipitações diminuirão em até 10% e a umidade do solo ficará 0,5% abaixo do normal.

As ondas de calor aumentarão e as chuvas extremas devem aumentar de 5% a 10% em todo o Brasil. Nesse cenário, a redução nas chuvas e o aumento das ondas de calor, principalmente na região Centro-Oeste, afetarão negativamente as culturas da cana, grãos e café, como ocorreu nos últimos dois anos na região. As recentes inundações observadas na Alemanha e Bélgica, as ondas de calor e os incêndios na Península Ibérica, Norte da África, Califórnia e região do Pantanal no Brasil, têm sido atribuídas a alterações do clima causadas pelo aquecimento global. Temos pouco tempo para as adaptações necessárias, e estratégias para controlar a emissão de GEEs com investimentos viáveis são fundamentais para que os danos sejam controlados e se possível evitados. A contribuição das energias renováveis e sua avaliação pelo conceito integral "berço-ao-túmulo" serão de importância primordial para que esses objetivos sejam atingidos de forma rápida e eficiente. Fonte: Plinio Nastari. Agência Estado.