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18/Ago/2021

Preocupações com as crises hídrica e energética

A crise hídrica se agravou em julho, com as chuvas abaixo do esperado. Em cinco Estados das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, 53 municípios, entre eles Curitiba (PR), já implementaram racionamento de água. Por ora, o Ministério de Minas e Energia (MME) segue descartando a hipótese de racionamento de energia, e mais ainda de apagão, como em 2001. De lá para cá, a matriz energética se tornou menos dependente das hidrelétricas. Medidas como o aumento da geração pelas usinas termoelétricas, a flexibilização dos limites de armazenamento e vazão das hidrelétricas ou a importação de energia têm dado fôlego à geração energética. O governo também promete, até o fim do mês, um programa para compensar grandes consumidores que se voluntariarem a reduzir o consumo ou evitar períodos longos e horários de pico. A pasta estuda compensar também consumidores residenciais. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), se essas e outras medidas adotadas pelo governo derem certo, o risco de racionamento ficará no patamar que o setor elétrico já trabalha normalmente.

A apreensão, contudo, segue alta, impactando o planejamento do setor produtivo: 62% dos empresários ouvidos acreditam que o racionamento é provável ou certo e 52% acreditam que haverá redução da competitividade, se não pelo racionamento, ainda incerto, pela alta nos custos, já contratada. Também incerto é o alcance do programa de redução voluntária. Para 65% dos empresários, é "difícil" ou "muito difícil" mudar o horário de operação de suas empresas, ainda mais em pleno processo de recuperação. Mas, mais incerto que o futuro próximo é o distante. A depender do período úmido no Centro-Sul, de outubro a abril, o pior ainda pode estar por vir: o risco é de que não seja possível atender à demanda de energia em 2022. Na melhor das hipóteses, os índices pluviométricos superarão os de 2020-2021, restaurando a normalidade. Se forem iguais, O Brasil passa "no talo". Se forem piores, além de faltar luz, pode faltar água. Estratégias preventivas precisam ser tomadas já.

O governo precisa se preparar para comprar nova geração emergencial e implementar o quanto antes seu programa de redução de consumo. Uma ampla campanha de conscientização também é fundamental. Na pior crise hídrica da história do País, o governo não divulga um indicador que determine se e quando um racionamento de energia deve ser iniciado. Cálculos sobre as chances de ocorrer uma falta de eletricidade, que eram publicados mensalmente, deixaram de ser informados no início da gestão Bolsonaro. Esse dado, que avalia a situação de suprimento para vários cenários de chuvas, continua a ser calculado, mas deixou de ser o principal instrumento para a tomada de decisões sobre a necessidade ou não de um racionamento, afirma o Ministério de Minas e Energia. O ministro Bento Albuquerque afirma publicamente que o governo não trabalha com a hipótese de um racionamento de energia, mas o setor privado avalia que a situação não é confortável.

Maior consultoria de energia do País, a PSR vê piora na situação de suprimento de energia e calcula que o risco de haver racionamento no segundo semestre varia de 10% a 40% entre setembro e novembro, dependendo do crescimento da demanda. Historicamente, o governo sempre divulgou o “risco de déficit” após as reuniões mensais do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), grupo coordenado pelo MME. Desde janeiro de 2019, o dado deixou de ser publicado. Esse indicador era separado por regiões e avaliava a situação de suprimento com base na série histórica de informações climáticas utilizadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de 91 anos. O risco também era apresentado para uma amostra de 2 mil cenários artificiais a partir do histórico e que reproduzem secas mais severas que as ocorridas. O mundo busca parametrizações para a tomada de decisão.

É inconcebível o Brasil não ter um índice de monitoramento da situação do abastecimento energético para saber se deve ou não decretar um racionamento. Não faltam metodologias. Bastam boa vontade e um pouco de organização institucional. O MME foi questionado oficialmente sobre qual é a métrica utilizada para decretar um racionamento, já que o risco de déficit, apesar de ainda ser calculado, não serviria mais como parâmetro, de acordo com a própria pasta. A resposta do MME foi de que não existe uma métrica definida. Mas, sim, uma análise multifatorial que leva em consideração a perspectiva de consumo e de chuvas para os próximos meses. Essa análise é realizada mensalmente pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) com base nos cenários apresentados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A ONS afirmou que não há métrica consolidada no setor elétrico brasileiro que possa ser usada para decretar o início e o fim de um racionamento de energia.

A relação entre o aumento do risco de déficit e a ocorrência de apagões é clara. Em janeiro de 2015, um dos piores meses do passado recente devido ao baixo nível dos reservatórios, recordes de consumo de energia e calor intenso, o risco de racionamento chegou a bater em 4,39% nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, considerando a série histórica, e em 7,3% na série feita por simulações. Foi naquele mesmo mês de janeiro de 2015 que o País registrou um pico de consumo às 14h30 do dia 20, que deixou 10 Estados e o Distrito Federal sem energia por mais de uma hora, desligando, inclusive, linhas de metrô de São Paulo capital. O limite na época era de 5%, ou seja, o governo era obrigado a adotar medidas adicionais para assegurar o suprimento se o histórico de chuvas, e os cenários artificiais criados a partir delas, mostrasse chances de faltar energia em mais de 5% deles.

Diversas ações podem diminuir o risco de até 40% de chances de racionamento, como bônus financeiro para quem poupar energia, flexibilização dos usos múltiplos e volumes mínimos dos reservatórios de hidrelétricas, ou seja, usar a água primordialmente para geração de energia, atendendo a ponta do consumo, além da entrada em operação de novas usinas. O maior risco é o de o sistema operar no limite nos horários de maior demanda, no início da tarde. A avaliação é de que as medidas mitigatórias em andamento não resolvem o problema da ponta. A vazão (quantidade de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas) tem piorado de forma acentuada, o que aumenta o risco de faltar energia nas próximas semanas. Se a situação na Região Sul piorar, ele não só deixa de ajudar a Região Sudeste como pode precisar de ajuda, o que piora a situação do abastecimento em todo o País. A estimativa é de um crescimento no consumo de 7,8% neste ano, em relação a 2020 e, mais especificamente, de 9% entre agosto e dezembro. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.