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12/Ago/2021

Mudanças climáticas estão no foco do agronegócio

Nos últimos seis anos, eventos climáticos extremos causaram frustrações nas lavouras dos produtores brasileiros de grãos em ao menos três safras e reduziram o volume colhido em relação à temporada anterior. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é o caso do ciclo atual, que registra fortes perdas nas plantações de milho, além dos problemas nas de café e cana-de-açúcar. Ciente do desafio, evidenciado pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), o setor produtivo defende investimentos em pesquisa, tecnologia e assistência técnica para fazer a adaptação dos sistemas produtivos e dar escala a modelos mais sustentáveis de produção, como os do Programa ABC. Os dados compilados pelos cientistas na ONU reforçam a urgência do fim do desmatamento ilegal no País, que suja a imagem do agronegócio, afeta oferta de chuvas na Região Centro-Oeste (principal região produtora de grãos) e eleva as emissões de gases de efeito estufa (GEE), creditadas na conta dos agropecuaristas.

Segundo a Embrapa Informática Agropecuária, não adianta qualquer esforço do agronegócio para reduzir emissões se o desmatamento continuar. Ele neutraliza e deixa negativas as emissões do País. Ou o agro se posiciona claramente contra o desmatamento ou perderá mercado. De 2010 a 2016, as emissões de GEE da pecuária subiram 6%, e as provenientes da derrubada de árvores e mudanças no solo, 54%. Soja, milho, café e as pastagens da pecuária são as culturas mais vulneráveis e fragilizadas com as mudanças climáticas. A saída é parar o desmatamento e recuperar áreas de preservação permanente, como matas ciliares, para garantir a oferta de água para irrigação, primordial para suportar longos períodos de seca e chuvas irregulares. São 12 milhões de hectares de Área de Preservação Permanente (APPs) na Amazônia e no Cerrado que precisam ser replantados. Um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), publicado no “European Journal of Agronomy”, ressalta que as mudanças climáticas vão aumentar os riscos de quebras nas safras de soja no Brasil nos próximos anos.

A oleaginosa é um dos grãos mais resilientes ao clima, o que reforça a preocupação com outras culturas importantes, como o milho, mais sensível. Com menos chuva e temperaturas mais elevadas, o ciclo da soja também deve ficar mais curto, mas o aproveitamento da água pelas plantas pode ser melhor e mais econômico. Segundo o estudo, a tendência é de aumento entre 1,5ºC e 3ºC de 2049 a 2060, com alta média de 2,2ºC. Já o volume de chuvas deve ser entre 4,5% e 7,9% menor no período. Para a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) ainda faltam um movimento setorial e uma política de governo contra as ilegalidades que golpeiam o ambiente. O setor agro precisa ser frontalmente contrário a qualquer processo de desmatamento e dar escala nacional a técnicas sustentáveis. Com a representatividade que tem, o Brasil colocaria sobre outros países a pressão que sofre. Segundo a Sociedade Rural Brasileira (SRB), o Brasil está chegando fragilizado aos fóruns internacionais. Perder essa condição de liderança mundial por não pressionar criminosos, extração madeireira, garimpo, grilagem e o consequente desmatamento, é um gravíssimo erro de elevado custo.

Para reverter a imagem de vilão ambiental, é preciso abandonar as “bravatas” e investir na disseminação das práticas de produção sustentáveis. A Embrapa elogiou o aumento de 106% no volume de recursos para financiar projeto via programa ABC, que é de R$ 5,05 bilhões na safra 2021/2022. O Ministério da Agricultura disse que o relatório sinaliza impactos alarmantes para o setor agropecuário e traz cenários preocupantes de mudanças do clima, mas argumentou que as técnicas fomentadas pelo governo, como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, plantio direto e recuperação de pastagens degradadas, ajudam o setor no processo de adaptação e permitem ao Brasil multiplicar a produção sem a abertura de novas áreas. Para tentar remediar os danos, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) está criando o Sistema de Informação Meteorológica (SIN Inmet) para redefinir modelos de seguro e combate a riscos climáticos, e quer melhorar o monitoramento do impacto do clima no campo. O escopo do instituto está sendo ampliado para lidar com o aquecimento global, que já está tendo consequências no Brasil, como a crise hídrica.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) lembrou que a atividade agropecuária se mostrou resiliente às mudanças climáticas que ocorreram ao longo dos anos, com aumento de produtividade e cumprimento de metas de redução de emissões. A entidade defende investimentos, inclusive estrangeiros e com acordos internacionais, para fomentar a pesquisa e a orientação técnica a pequenos e médios produtores rurais. Outra cobrança é pelo aperfeiçoamento dos mecanismos de comprovação, verificação e monitoramento, para desvincular a produção do desmate ilegal. Em meio às discussões, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) disse não encontra relação entre o plantio de soja e as mudanças climáticas nem relação entre a produção brasileira e possíveis prejuízos aos sojicultores decorrentes de alterações no clima do planeta. A entidade realçou resultados de práticas limpas e afirmou que a soja do País é sustentável, por avançar em áreas de pastagens desmatadas. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.