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10/Ago/2021

Mudanças climáticas afetam agronegócio do Brasil

Diante do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado nesta segunda-feira (09/08), especialistas concordam que o papel que o Brasil precisa assumir diante do cenário de crise ambiental inclui mudanças na maneira como é conduzido o agronegócio. As razões não são apenas ecológicas, são também econômicas. Segundo a Universidade de São Paulo (USP), o relatório indica que no Brasil Central o aumento da temperatura pode chegar a 4°C ou 5°C nas próximas décadas. São mudanças muito fortes que podem inviabilizar o agronegócio. O Brasil precisa olhar com muito cuidado as conclusões do relatório do IPCC. Estudos recém-publicados já vinham sugerindo isso. Trabalho realizado pela Universidade Tufts, nos Estados Unidos e publicado pela revista World Development estimou em mais de 3,5 bilhões de dólares por ano os prejuízos da indústria da soja por conta do calor elevado. A produtividade do grão cai 5% a cada dia com temperatura acima de 30ºC.

Em maio, a revista Nature publicou outro trabalho que seguia a mesma toada. De acordo com os pesquisadores, a estiagem decorrente do desmatamento já implica em gastos anuais adicionais de 1 bilhão de dólares por ano para a agropecuária realizada na região sul da chamada Amazônia Legal. A questão principal é a Amazônia. Com o avanço descontrolado da agropecuária para terras antes ocupadas pelo bioma, a floresta brasileira gradativamente deixa de ser um grande sumidouro de dióxido de carbono e se torna um emissor do gás. Segundo o Instituto Ambiental de Estocolmo, no caso brasileiro não é tanto negacionismo climático, como se vê em outros países grandes como Estados Unidos e Austrália, mas sobretudo desconhecimento. As coisas muitas vezes são apresentadas como ocorrendo dentro da sua variabilidade natural, como sendo fruto do El Niño ou de alguma outra dinâmica que se tenta explicar, mas o que este relatório do IPCC reafirma é precisamente que o clima do planeta não está dentro da sua variabilidade normal.

Talvez haja menos um negacionismo e mais um receio em contar ao público brasileiro que mais de 70% das emissões brasileiras provêm da agropecuária ou do desmatamento. O relatório mais recente do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, mostra que em 2019 quase a metade de todas as emissões brasileiras vieram do desmatamento. Esses dados haviam caído de 2004 e 2010, e voltaram a subir a partir de 2012. A agropecuária, por si só, mesmo excluindo as emissões pelo desmatamento, ainda emite mais do que toda a indústria brasileira e transportes somados. O relatório IPCC apresenta o risco dos chamados “eventos de alto risco e baixa previsibilidade”. Um deles está na Amazônia. É onde o desmate reduz a evapotranspiração, que por sua vez compromete ainda mais as chuvas. Isso pode fazer com que a floresta entre num ciclo autodestrutivo. Menos árvores, menos chuva, e se transformar numa savana.

É o chamado ‘forest dieback’, que este relatório pela primeira vez explicitamente reconhece. Segundo o WWF-Brasil, para o País já não basta zerar emissões, mas remover o que está na atmosfera. E, a Floresta Amazônica precisa ser protegida urgentemente, pois ela é um dos grandes sumidouros naturais de carbono do planeta. É necessário zerar o desmatamento e favorecer os serviços ecossistêmicos para reduzir nossa vulnerabilidade diante das mudanças climáticas. Se passar do ponto de não-retorno no qual esse processo tem início, as consequências são gravíssimas. A Amazônia está diretamente envolvida no chamado Sistema de Monção da América do Sul, que gera as chuvas, das quais dependem muito da agricultura e das hidrelétricas brasileiras, das Regiões Sudeste e Centro-Oeste do País de novembro a março. O relatório do IPCC aponta que esta região pode experimentar um aumento de temperatura até duas vezes maior que a média global.

Então o problema diz respeito ao Brasil muito diretamente. Outro aspecto trazido pelo IPCC que implicaria diretamente sobre o Brasil, com seus 7,4 mil Km de costa marítima, é o aumento do nível do mar, em decorrência do aquecimento global. Pode chegar a até 1 metro nas próximas décadas. Seria um grande impacto em cidades como Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Florianópolis (SC). O impacto no Brasil é enorme, principalmente pelas maiores vulnerabilidades. O Instituto do Homem e Meio Ambienta da Amazônia (Imazon) atenta para o que o brasileiro já está vendo na conta de luz, mais cara para frear o consumo. O Brasil está mais seco e a tendência é que piorará sem a redução drástica das emissões de poluentes que causam o aquecimento global. As secas mais frequentes, acompanhadas de queimadas, vão empobrecer a Floresta Amazônica. A floresta mais rala terá menos capacidade de modular a quantidade de chuvas em outras regiões do País.

Já é possível ver alguns efeitos do que isso significa: menos chuvas estão reduzindo a produtividade agropecuária no sul da Amazônia, reservatórios das hidrelétricas estão reduzidos e rios mais secos dificultam o transporte de cargas em hidrovias. Segundo o think thank Talanoa, dedicado à política climática, destacam-se outros impactos decorrentes da previsão de aumento generalizado de secas afetando as Regiões Norte e Nordeste do Brasil, mesmo em cenários de baixa emissão. Diversas regiões da América do Sul vão experimentar secas agrícolas e ecológicas. Isso significa impactos em larga escala sobre a produção agrícola, quebras de safra, oque, obviamente, vai impactar em questões como inflação. Isso tem conexão com as preocupações de bancos em tentar regular os riscos climáticos, gerir os riscos climáticos, pois pode afetar a estabilidade financeira e controlar alguns componentes da macroeconomia.

Infelizmente, o poder público brasileiro tem atuado na direção contrária do que seria necessário para reduzir e adaptar ao risco climático. Além de já ter reduzido a proteção ambiental que resultou em aumento de desmatamento, o governo Bolsonaro e Congresso estão aprovando uma lei que tende a aumentar o desmatamento por vários anos: projeto conhecido como ‘PL da grilagem’. A lei beneficia invasores de terras públicas, dando um perdão e possibilitando a compra das áreas por preços muito abaixo do mercado. Esse prêmio aos criminosos estimula novas ocupações e mais desmatamento. Essa postura brasileira pode sair cara economicamente. Há um movimento crescente na Europa que busca impor uma taxa a produtos importados de países com políticas ambientais fracas. O Brasil deveria ser mais ativo na busca das soluções, interna e externamente.

O Brasil poderia conseguir recursos internacionais para ajudar a conservar as florestas nativas e a reflorestar para ajudar a ‘limpar o ar’, ou seja, retirar o carbono da atmosfera pelo crescimento das árvores. O IPCC deu uma “chamada”, indiretamente, ao Brasil ao indicar que o desmatamento impacta na questão das chuvas e, por consequência, prejudica o próprio agronegócio. Na fronteira agropecuária brasileira, ou seja, no limiar da Amazônia Legal, isso é um verdadeiro ciclo vicioso. Não tem como o Brasil continuar com essa narrativa de que desenvolvimento necessita de destruição florestal. É importante entender que é necessária a mudança de paradigma. O relatório fala que haverá um aumento de seca em várias regiões do globo, mas esses efeitos variam, em alguns pontos haverá aumento na precipitação; em outros, secas severas. Na bacia amazônica, a previsão é de secas fortes, a precipitação deve diminuir à medida que o mundo for se aquecendo.

Como grande parte da fronteira agrícola do Brasil avança m direção à Floresta Amazônica, é preciso verificar também o desmatamento. Já há evidências de que a Amazônia emite mais CO2 do que é capaz de absorver, devido ao desmatamento. O WWF-Brasil ressaltou que a Amazônia é um dos grandes sumidouros naturais de carbono do planeta, sua preservação é mais importante que nunca. Estudos indicam que partes da floresta já estão emitindo mais carbono do que capturando, em função de sua degradação que, se persistir nos níveis atuais, poderá pressionar todo o bioma além de seu ponto de equilíbrio, afetando o clima em todo o planeta, mas mais especificamente na América do Sul, colocando em risco a segurança alimentar, hídrica e energética do Brasil. Fonte: CNN Brasil. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.