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29/Jul/2021

FIAGRO: cautela no setor quanto às taxas de juros

A B3 vai anunciar em breve a data em que passarão a ser aceitos os pedidos de listagem em bolsa e registro em balcão dos Fundos de Investimentos nas Cadeias Agroindustriais (Fiagro). Mas, embora a expectativa de quem estrutura as primeiras aplicações, e dos investidores em geral, com a novidade seja positiva, ela ainda desperta desconfiança de produtores e do setor financeiro sobre as taxas de juros que serão praticadas, já que, para serem competitivas, elas não poderão ser muito superiores às das linhas oficiais de crédito rural. Inicialmente, o benefício para acesso ao crédito será pequeno. Pouco, para não dizer nenhum. O produtor hoje está atrás do benefício dos juros subsidiados, e o Fiagro é dinheiro do mercado livre. Não deve haver uma debandada dos investidores que aplicam dinheiro nos bancos em títulos do agronegócio, como as Cédulas de Produto Rural (CPRs), para os novos fundos.

O investidor não vai aceitar receber menos do que nos bancos, que são experientes e onde não há risco de contraparte, para emprestar para quem ele não conhece. Nesse mercado, o dinheiro do Fiagro de fato não será mais barato. É um produto bom, há demanda, mas o dinheiro não vai ficar mais barato e acessível. Não é o que pensa o Ministério da Agricultura, que acredita que é preciso facilitar o funding, e os Fiagro, peças importantes nesse processo, aumentando tanto o fluxo de recursos quanto a redução dos custos de captação para o agronegócio. Algumas fintechs apostam que os novos fundos terão juros entre 0,9% e 1,3% ao mês, a depender do prazo do empréstimo e do rating do tomador para custeio e investimentos.

A agtech Agroforte diz que o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) que está estruturando com foco em integrados de indústrias de aves, suínos e leite, deverá se enquadrar como Fiagro, e terá maior capacidade de pulverização do portfólio, tornando o crédito mais acessível a pequenos e médios produtores. Os Fiagro vão forçar ajustes nos modelos de financiamento dos atuais credores do agronegócio e permitir a entrada de novos financiadores. Somente o giro da atividade dentro da porteira demanda R$ 700 bilhões por ano, sem contar investimentos. Haverá um ciclo virtuoso no qual caberá ao credor aprimorar seus modelos e ampliar o volume de suas carteiras. Algumas fintechs apostam que os novos fundos terão juros entre 0,9% e 1,3% ao mês, a depender do prazo do empréstimo e do rating do tomador para custeio e investimentos.

A Agroforte afirma que o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) que está estruturando com foco em integrados de indústrias de aves, suínos e leite, deverá se enquadrar como Fiagro, e terá maior capacidade de pulverização do portfólio, tornando o crédito mais acessível a pequenos e médios produtores. Nada disso reduz as apostas de executivos tarimbados do agro brasileiro, alguns dos quais estão formando empresas para divulgar o Fiagro como mecanismo de investimento também no exterior. O varejo brasileiro deve fomentar os fundos no primeiro momento, mas o dinheiro de fora vai fluir mais facilmente com a nova alternativa. Os juros dos financiamentos dos produtores via Fiagro, mesmo no cenário de taxas altas, dificilmente superarão 12% ao ano. As operações de barter (troca de insumos pela produção) têm juros dos 25%, enquanto nos bancos, mesmo com as taxas oficiais em até 8,5%, o custo chega a 16% com os “penduricalhos”. A explicação está na burocracia menor, no baixo custo, na transparência e na concorrência que os novos fundos terão.

O setor produtivo tem esperança de que os Fiagro deslanchem em alguns anos, mas está convicto de que o crédito subvencionado continuará como alvo principal de disputa dos produtores. Não é no primeiro ano que será possível conseguir uma taxa mais atrativa com o Fiagro. A avaliação é positiva sobre o fluxo de dinheiro que será criado com o instrumento para melhorar a oferta de crédito e a concorrência que o Fiagro pode gerar para baratear o financiamento do agro. As dúvidas giram em torno da operacionalização, dos riscos de integralização de propriedades nos fundos, de quais instrumentos jurídicos serão usados para transformar os imóveis em cotas e das garantias de remuneração do capital. O consenso, por enquanto, é sobre o papel que os fundos vão desempenhar na melhoria da gestão da atividade produtiva, do patrimônio imobiliário rural e do planejamento tributário, fiscal e sucessório. Os fundos vão profissionalizar e dar mais transparência à agricultura. Haverá reflexos positivos até para a imagem do agronegócio brasileiro.

O setor agropecuário precisa entender que é competitivo e que vai ter acesso a recursos. As pessoas vão conhecer melhor o pacote tecnológico e o diferencial competitivo do Brasil. Outros agentes ainda estão relutantes com a reforma tributária, que poderá atacar a isenção da tributação desses fundos, apesar da sinalização da bancada ruralista para a manutenção da desoneração. A Receita Federal também não legislou sobre o assunto, o que deixa os Fiagro vulneráveis a ajustes e progressões tributárias. A B3 informou que os ajustes nos sistemas para negociação dos Fiagro estão em fase final e que nas próximas semanas será divulgada a data de início para aceitação dos pedidos de registro. O potencial de mercado dos fundos de investimentos que investem em ativos ligados ao agronegócio é bastante relevante, não apenas pelo dinamismo do setor, mas também pela possibilidade de maior diversificação para os investidores finais em um contexto de crescente relevância do agronegócio no País. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.