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22/Jul/2021

Países das Américas defendem suas exportações

Diante das exigências "verdes" dos importadores, mais de 30 nações defendem sua produção agropecuária. As exigências "verdes" de grandes importadores de alimentos e as mudanças nos hábitos de consumo da população mundial, sobretudo na Europa, acenderam o sinal de alerta dos exportadores das Américas. Pela primeira vez, 31 nações, incluindo Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai, México, Guatemala, Canadá e Chile, assinaram um documento com posição unificada em defesa dos sistemas agroalimentares locais, com ênfase para a sustentabilidade da produção agropecuária do continente. A preocupação mais latente é com uma possível "responsabilização" desses países pela emissão de gases de efeito estufa, principalmente pela pecuária, e com a indesejada imposição de novas barreiras comerciais no futuro devido a uma suposta "guerra de narrativas". Os países das Américas do Sul, Central e do Norte e do Caribe, também querem evitar a consolidação de uma orientação global contra o consumo de carnes.

As nações alegam que a posição dos produtores não é considerada e que a discussão omite a falta de acesso a proteínas animais por parcela considerável da população mais pobre do mundo. Também avançam os debates para coibir o uso de agrotóxicos e produtos químicos na cadeia agrícola. Uma carta com 16 mensagens elaboradas em consenso pelos países americanos será levada à Cúpula das Nações Unidas sobre os Sistemas Alimentares. Os ministros de Agricultura dessas nações se sentem sub-representados no foro global e à mercê da tomada de decisões que podem impor riscos e dificuldades à produção e à comercialização dos produtos do campo. Grande parte da pauta, dizem, é conduzida por ONGs e traduz os apontamentos feitos pelo recém-anunciado Pacto Verde Europeu. As decisões sobre o que consumir devem ser deixadas ao consumidor, que as toma com base em fatores históricos, culturais, de acesso e de disponibilidade, entre outros, os quais devem ser respeitados.

Ao Estado cabe educar e informar sobre dietas saudáveis e desenvolver campanhas de prevenção da saúde pública, fundamentadas em informações atualizadas e evidências científicas, diz a carta, que defende o consumo de proteínas de alta qualidade, carboidratos (cereais e açúcares), gorduras e alimentos fortificados e biofortificados para se ter uma dieta equilibrada e nutritiva que contribua para a saúde humana. O grupo, reunido no âmbito do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), deverá formar, ainda, uma coalizão sobre pecuária sustentável. Um documento específico sobre a atividade foi redigido pelos ministros. Para eles, o combate à "demonização" da produção pecuária é um ponto central no debate atual. A região quer ver a sua realidade refletida nas discussões. Ministros de Agricultura como Tereza Cristina, do Brasil, e Luis Basterra, da Argentina, vão a Roma para fortalecer essa posição na reunião pré-cúpula, que ocorrerá na próxima semana.

A cúpula será em setembro, durante a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, e vai propor ações da comunidade internacional para a obtenção de sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e equitativos. As diretrizes não serão obrigatórias, mas poderão influenciar outros fóruns de discussões, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro de Agricultura do Paraguai, Moisés Santiago Bertoni, presidente do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), afirmou que está convencido de que o bloco americano é responsável por muito pouco da emissão de gases de efeito estufa, mas a debilidade corresponde à comunicação sobre o que a região faz a favor dos ecossistemas. O mais importante é demonstrar que esses países, com todos os setores produtivos, são parte da captura das emissões, e que não sejam os primeiros obrigados a mudar os sistemas de produção. Para o Ministério da Agricultura da Argentina, os países das Américas não são responsáveis pela situação da emissão e estariam assumindo um problema sobre o qual não têm responsabilidade.

Um dos desafios, no entanto, é transformar essa argumentação em dados. Para tanto, as mensagens reforçam a necessidade de proteger e apoiar as pesquisas científicas. O documento assinado pelos ministros propõe que as decisões e as políticas a serem adotadas devem basear-se na ciência e diz que a agricultura é parte da solução dos principais desafios enfrentados pela humanidade. As mensagens também tratam da nova relação entre produtor e meio ambiente, com fortalecimento da digitalização e bioeconomia, e defendem o comércio internacional transparente, aberto e previsível. Segundo o IICA, os países americanos querem ser os garantidores da segurança alimentar e nutricional em nível global e da sustentabilidade ambiental do planeta. As Américas contribuem para a segurança alimentar e nutricional global, sendo a principal região exportadora de alimentos e a maior fornecedora de serviços ecossistêmicos, além de ser reserva de biodiversidade.

Além disso, desempenham um papel fundamental na sustentabilidade ambiental e na mitigação dos efeitos da mudança do clima. A desvantagem no conflito de narrativas é associada à disseminação de informações erradas sobre a produção. É um desafio que já está sendo enfrentado, há muita informação errada sobre o setor e é preciso que sair em defesa do sistema produtivo a nível local. A melhor estratégia é a melhor informação científica, que vai ajudar a defender o consumo de proteína animal, sobretudo carne bovina. É necessário investir em ciência para mostrar como será possível reduzir as emissões da pecuária, contribuir para a adaptação e os aspectos positivos do consumo de proteína. O que se vê são visões unilaterais para reduzir o consumo de proteína animal, sendo que muitas regiões do mundo não consomem níveis satisfatórios dessas proteínas. Estados Unidos e Brasil estão entre os maiores exportadores globais de produtos agropecuários, inclusive de carne bovina, que tem em Argentina e Uruguai outros produtores importantes. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.