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16/Jul/2021

Brasil: posição privilegiada para cultivo de grãos

Com mais uma safra de grãos se aproximando, começam as especulações sobre qual será o tamanho da área plantada no Brasil. As perspectivas apontam para a continuidade do aumento da área de soja e de milho no País. No caso do cereal, após um ano complicado, com quebra de safra e preços recordes, a área deve crescer também no ciclo de verão. Além da questão interna, ressalto também a importância de se olhar para o balanço de oferta e demanda global das commodities, pois tanto o milho quanto a soja enfrentam um momento de maior aperto. A demanda por grãos segue aquecida, tendo sido impulsionada pela recuperação do rebanho suíno chinês, que em breve deve retornar aos níveis de 2017, antes dos sérios surtos de peste suína africana (PSA), além das medidas de incentivo econômico para se superar os prejuízos trazidos pela pandemia de Covid-19.

Trazendo a demanda por grãos para um contexto mais amplo, como a economia mundial tende a continuar crescendo ao longo dos anos, juntamente com o aumento da população, o potencial para incremento do consumo de proteínas, e consequentemente de grãos, ainda é muito grande. Além disso, tem que se levar em conta a produção de biocombustíveis. Por mais que haja um movimento em direção a se utilizar matérias-primas de rejeito, a dependência de fontes agrícolas, como o óleo soja para biodiesel e milho para etanol, ainda é muito grande. Já o cenário de oferta atual continua indicando um desequilíbrio em relação à demanda, mesmo com as safras do hemisfério norte, com destaque para os Estados Unidos, em desenvolvimento. Além de a produtividade norte-americana ainda poder variar bastante em decorrência do clima, a área plantada ficou aquém do esperado, tanto para a soja quanto para o milho, no relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 30 de junho.

Com isso, mesmo com uma safra norte-americana dentro da normalidade, o balanço de oferta e demanda para os grãos ainda pode continuar mais restrito. Diante desse contexto, o Brasil se destaca por possuir terra disponível para expansão da agricultura, sem necessidade de desmatar áreas de floresta ou ocupar áreas de proteção ambiental, por exemplo, além dos ganhos de produtividade proporcionados pelos avanços tecnológicos. Destaco que praticamente todos os países que produzem grãos em escala comercial, nas Américas, Europa e Ásia, não possuem extensões significativas de terra disponíveis para a expansão agrícola, conseguindo aumentar a produção como resultado dos ganhos de rendimento. Diante dessa limitação de área, um incremento em uma cultura acaba necessariamente reduzindo o espaço disponível para outra.

Os países do continente africano, que contam com área disponível, não têm uma agricultura desenvolvida em escala comercial, e ainda devem levar anos para participar de maneira relevante do mercado mundial de grãos como importantes produtores. Para o ciclo 2021/2022, a tendência é que a área de soja no Brasil vai continuar se expandindo, já que o balanço entre a oferta e a demanda não está exatamente folgado, mesmo com a safra recorde deste ano. No caso do milho, que enfrentou uma temporada complicada, com quebra, atrasos, geadas, os preços muito fortalecidos devem incentivar um crescimento de área mesmo na primeira safra, que pode eventualmente ocupar algumas áreas de soja, principalmente na região Sul, mas que também pode avançar sobre outras culturas e pastagens. De qualquer forma, o maior aumento do cultivo do cereal vai continuar concentrado na 2ª safra, após a colheita da soja.

Gosto sempre de ressaltar que a safra de inverno (2ª safra) de milho é naturalmente mais arriscada, mesmo que plantada dentro da janela ideal, já que seu desenvolvimento tem que ocorrer num curto período antes da estação seca em grande parte do País. Um ponto de atenção para a nova safra, mesmo para o cultivo de primavera/verão, é o clima. O Brasil enfrenta um momento de crise hídrica, entre outros motivos pelos volumes de precipitação abaixo do normal nos últimos meses, e há preocupação de que uma demora na regularização das chuvas a partir de setembro, a exemplo do observado em 2020, possa se repetir. Assim, a safra 2021/2022 é promissora, mesmo sem se considerar as mudanças que também podem ocorrer pelo lado da demanda, como o esforço chinês para reduzir a dependência da importação de grãos. Fonte: Ana Luiza Lodi. Agência Estado.