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12/Jul/2021

Crédito Rural privado deverá seguir em expansão

A recente alta das taxas de juros no Brasil, tanto a Selic, referência para empréstimos de curto prazo, quanto as futuras, não deve inibir a procura dos produtores rurais brasileiros por recursos privados. Executivos dos três maiores bancos privados com atuação no setor agropecuário, Bradesco, Santander e Itaú BBA, concordam que a alta rentabilidade obtida pelos agricultores na safra 2020/2021 - decorrente da grande produção, da desvalorização do real ante o dólar e da alta das commodities agrícolas - deve manter os planos de produzir e investir mais no campo. O apetite pode ser menor, contudo, por linhas de longo prazo, voltadas a investimentos, que envolvem valores maiores e enfrentam a concorrência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Selic a 2% de certa forma era irreal, muito mais fruto da pandemia. Agora vai voltar no fim do ano para 6,5% a 7,0% ao ano, com uma inflação de 4,0% a 4,5%, o que daria um juro real de 2% a 3% ao ano.

Esses patamares ainda dão viabilidade a vários setores, em especial o agronegócio, segundo o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França. Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic de 3,5% para 4,25% ao ano e o Relatório de Mercado Focus aponta para 6,5% até o fim do ano. O diretor de Agronegócio do Santander, Carlos Aguiar, também vê perspectiva positiva para a demanda por crédito privado. Com a margem atual de lucro dos produtores, o custo do empréstimo não é proibitivo e não haverá problemas para a concessão de crédito com juros livres como complemento ao Plano Safra. A procura por crédito privado deverá ficar mais aquecida principalmente para suprir as necessidades de curto prazo, ou seja, compra de sementes, defensivos, fertilizantes e outros custos recorrentes. No caso de Bradesco e Santander, a maior parte da demanda deve ser atendida por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) financeiras, títulos emitidos com promessa de pagamento na colheita.

O Itaú BBA já tem em torno de 90% de sua carteira agro ligada a produtos comerciais, diferentes das linhas que integram o Plano Safra do governo federal, como CPRs financeiras em dólar. No Santander, a carteira de varejo (atendimento a produtores que trabalham como pessoas físicas), que representa 60% de um total de R$ 25 bilhões hoje, deve crescer em torno de 30% neste ano. Como a oferta de recursos provenientes de depósitos à vista, liberados com taxas pré-fixadas, vai aumentar em 20% nesta safra, em comparação com o que foi ofertado em 2020/2021, o restante será concedido com juros de mercado. No Bradesco, a perspectiva é semelhante: a previsão é de que a carteira rural cresça 30% ao longo da safra 2021/2022 sobre os R$ 37 bilhões contabilizados ao fim do ciclo 2020/2021. Neste banco, o montante de crédito vindo dos depósitos à vista também cresceu ao redor de 20% e o resto deve ser complementado com recursos de títulos. O produtor não vai tomar menos recurso, e sim mais, até porque os custos de produção subiram acompanhando o dólar valorizado ante o Real e o valor das commodities.

Mesmo com o aumento nominal das taxas de juros nas linhas livres sem subsídio, não deverá haver um arrefecimento da demanda porque a atividade continua sendo bastante lucrativa, olhando mais para frente. O produtor pagará juros mais altos na safra 2021/2022, mas não deverá haver diminuição da procura, segundo o diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes. Segundo Fernandes, um produtor rural com um bom rating, ou seja, bom histórico de crédito, conseguia tomar recursos por meio de CPR com taxas de 6% a 8% ao ano no início da safra 2020/2021, que começou em julho do ano passado. Agora, essas taxas variam entre 9% e 11%. Como comparação, grandes produtores que obtiverem crédito de linhas do Plano Safra 2021/2022 com taxas controladas pagarão no máximo 7,5% ao ano. Na busca por mais recursos para cobrir o aumento dos custos e elevar a produtividade, médios produtores tendem a precisar mais do crédito privado, na avaliação do Itaú BBA.

Primeiro, pela falta de enquadramento de produtores da categoria médios do governo, já que o quesito é o faturamento e muitos antes considerados médios passaram a ser classificados como grandes, em função do crescimento acentuado dos preços das commodities agrícolas, que elevou a receita. Em um segundo momento da safra, quando houver limitação dos recursos do Pronamp (programa com condições especiais para médios agricultores), os médios também tendem a recorrer aos recursos livres. O governo federal elevou em 20% o teto da renda bruta anual de produtores para enquadramento no Pronamp, de R$ 2 milhões para R$ 2,4 milhões, mas o setor queria um ajuste maior. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) havia pedido aumento de 32%, para R$ 2,65 milhões. A concorrência entre os bancos, em contrapartida, deve favorecer um recuo das taxas de juros de mercado. Nos últimos anos, diversas instituições financeiras, entre bancos regionais, de investimento e cooperativas de crédito, fortaleceram seu atendimento e ampliaram a oferta ao setor.

Além disso, na safra 2021/2022, cinco novos bancos vão oferecer crédito com taxas equalizadas pelo Tesouro Nacional (o próprio Bradesco e também BDMG, Caixa Econômica Federal, CNH Industrial e Credicoamo), além de Banco do Brasil, Sicredi, Banrisul, BNDES, BRDE, Cresol, Sicoob, que já atuaram com equalização em 2020/2021. As margens de lucro dos bancos já são bem apertadas, mas a vontade de crescer em share também é grande. Para os empréstimos destinados a investimentos do setor, que trabalham com prazos de amortização de mais de cinco anos e tomam por base os juros futuros, a procura por linhas de mercado pode não ser tão aquecida. Isso porque enquanto as taxas futuras vêm aumentando, o BNDES continua trabalhando com alíquotas finais de um dígito, utilizando recursos do Tesouro. A taxa DI para julho de 2026, hoje, está próxima de 8,5%, o que significa que, para conceder crédito com um prazo de cinco anos, os bancos teriam de cobrar porcentual semelhante mais o spread.

Para prazos mais longos, as taxas sobem ainda mais: o DI para janeiro de 2029 atualmente está em 9,03% ao ano. Já no BNDES, a taxa mais alta em 2021/2022 será de 8,5% ao ano, cobrada nos empréstimos via Moderfrota, para compra de máquinas e equipamentos agrícolas com prazo de amortização de sete anos. O banco tem ainda outras linhas com prazos de amortização diferentes - oito, dez e até doze anos -, com taxas mais baixas. O Itaú BBA avalia que a taxa de juros, hoje, de uma linha de longo prazo de mercado está entre 11,5% e 14,5% ao ano, para clientes com bom histórico de crédito, ante uma faixa de 8,5% a 10,5% há cerca de um ano. O produtor vai fazer a comparação com o BNDES. A taxa do BNDES teria de ser ao menos 10% ao ano para as linhas privadas terem alguma competitividade, segundo o Santander. O Bradesco enfatiza que não há falta de recursos para linhas de investimentos. Oferta há, mas como o custo de captação no longo prazo sobe, quando o produtor vê a taxa final, a procura arrefece. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.