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08/Jul/2021

Crédito Rural: cresce demanda de recursos privados

A recente alta das taxas de juros no Brasil, tanto a Selic, referência para empréstimos de curto prazo, quanto as futuras, não deve inibir a procura dos produtores rurais brasileiros por recursos privados. Executivos dos três maiores bancos privados com atuação no setor agropecuário, Bradesco, Santander e Itaú BBA, concordam que a alta rentabilidade obtida pelos agricultores na safra 2020/2021, decorrente da grande produção, da desvalorização do Real ante o dólar e da alta das commodities agrícolas, deve manter os planos de produzir e investir mais no campo. O apetite pode ser menor, contudo, por linhas de longo prazo, voltadas a investimentos, que envolvem valores maiores e enfrentam a concorrência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A Selic a 2% de certa forma era irreal, muito mais fruto da pandemia. Agora, vai voltar no fim do ano a algo entre 6,5% e 7% ao ano, com uma inflação de 4% a 4,5%, o que daria um juro real de 2% a 3% ao ano. Esses patamares ainda dão viabilidade a vários setores, em especial o agronegócio.

Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic de 3,5% para 4,25% ao ano e o Relatório de Mercado Focus aponta para 6,5% até o fim do ano. O Santander também vê perspectiva positiva para a demanda por crédito privado. Com a margem atual (de lucro dos produtores), o custo (do empréstimo) não é proibitivo e não há problemas para a concessão de crédito com juros livres como complemento ao Plano Safra. A procura por crédito privado deve ficar mais aquecida principalmente para suprir as necessidades de curto prazo, ou seja, compra de sementes, defensivos, fertilizantes e outros custos recorrentes. No caso de Bradesco e Santander, a maior parte da demanda deve ser atendida por meio de Cédulas de Produto Rural (CPR) financeiras, títulos emitidos com promessa de pagamento na colheita. O Itaú BBA já tem em torno de 90% de sua carteira agro ligada a produtos comerciais, diferentes das linhas que integram o Plano Safra do governo federal, como CPRs financeiras em dólar.

No Santander, a carteira de varejo (atendimento a produtores que trabalham como pessoas físicas), que representa 60% de um total aproximado de R$ 25 bilhões hoje, deve crescer em torno de 30% neste ano. Como a oferta de recursos provenientes de depósitos à vista, liberados com taxas pré-fixadas, vai aumentar em 20% nesta safra, em comparação com o que foi ofertado em 2020/2021, o restante será concedido com juros de mercado. No Bradesco, a perspectiva é semelhante: a previsão é de que a carteira rural cresça 30% ao longo da safra 2021/2022 sobre os R$ 37 bilhões contabilizados ao fim do ciclo 2020/2021. Neste banco, o montante de crédito vindo dos depósitos à vista também cresceu ao redor de 20% e o resto deve ser complementado com recursos de títulos. O produtor não vai tomar menos recurso, e sim mais, até porque os custos de produção subiram acompanhando o dólar (valorizado ante o Real) e o valor das commodities. Mesmo com o aumento nominal das taxas de juros nas linhas livres (sem subsídio), não se espera um arrefecimento da demanda porque a atividade continua sendo bastante lucrativa.

O produtor pagará juros mais altos na safra 2021/2022, mas a procura não deve diminuir. Um produtor rural com um "bom rating", ou seja, bom histórico de crédito, conseguia tomar recursos por meio de CPR com taxas de 6% a 8% ao ano no início da safra 2020/2021, que começou em julho do ano passado. Agora, essas taxas variam entre 9% e 11%. Como comparação, grandes produtores que obtiverem crédito de linhas do Plano Safra 2021/2022 com taxas controladas pagarão no máximo 7,5% ao ano. Na busca por mais recursos para cobrir o aumento dos custos e elevar a produtividade, médios produtores tendem a precisar mais do crédito privado, na avaliação do Itaú BBA. Primeiro, pela falta de enquadramento de produtores da categoria 'médios' do governo, já que o quesito é o faturamento e muitos antes considerados médios passaram a ser classificados como grandes, pois houve um crescimento acentuado dos preços das commodities agrícolas, que elevou a receita.

Em um segundo momento da safra, quando houver limitação dos recursos do Pronamp (programa com condições especiais para médios agricultores), os médios também tendem a recorrer aos recursos livres. O governo federal elevou em 20% o teto da renda bruta anual de produtores para enquadramento no Pronamp, de R$ 2 milhões para R$ 2,4 milhões, mas o setor queria um ajuste maior. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) havia pedido aumento de 32%, para R$ 2,65 milhões. Segundo o Bradesco, a concorrência entre os bancos, em contrapartida, deve favorecer um recuo das taxas de juros de mercado. Nos últimos anos, diversas instituições financeiras, entre bancos regionais, de investimento e cooperativas de crédito, fortaleceram seu atendimento e ampliaram a oferta ao setor. Além disso, na safra 2021/2022, cinco novos bancos vão oferecer crédito com taxas equalizadas pelo Tesouro Nacional (Bradesco, BDMG, Caixa Econômica Federal, CNH Industrial e Credicoamo), além de Banco do Brasil, Sicredi, Banrisul, BNDES, BRDE, Cresol, Sicoob, que já atuaram com equalização em 2020/2021.

As margens de lucro dos bancos já são bem apertadas, mas a vontade de crescer em share (participação de mercado) também é grande. Para os empréstimos destinados a investimentos do setor, que trabalham com prazos de amortização de mais de cinco anos e tomam por base os juros futuros, a procura por linhas de mercado pode não ser tão aquecida. Isso porque enquanto as taxas futuras vêm aumentando, o BNDES continua trabalhando com alíquotas finais de um dígito, utilizando recursos do Tesouro. A taxa DI para julho de 2026, hoje, está próxima de 8,5%, o que significa que, para conceder crédito com um prazo de cinco anos, os bancos teriam de cobrar porcentual semelhante mais o spread. Para prazos mais longos, as taxas sobem ainda mais: o DI para janeiro de 2029 atualmente está em 9,03% ao ano.

No BNDES, a taxa mais alta em 2021/2022 será de 8,5% ao ano, cobrada nos empréstimos via Moderfrota, para compra de máquinas e equipamentos agrícolas com prazo de amortização de sete anos. O banco tem ainda outras linhas com prazos de amortização diferentes (oito, dez e até doze anos), com taxas mais baixas. O Itaú BBA, avalia que a taxa de juros, hoje, de uma linha de longo prazo de mercado está entre 11,5% e 14,5% ao ano, para clientes com bom histórico de crédito, ante uma faixa de 8,5% a 10,5% há cerca de um ano. O produtor vai fazer a comparação com o BNDES. A taxa do BNDES teria de ser ao menos 10% ao ano para as linhas privadas terem alguma competitividade. Não há falta de recursos para linhas de investimentos. Oferta tem, mas como o custo de captação no longo prazo sobe, quando o produtor vê a taxa final, a procura arrefece. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.