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08/Jul/2021

Captura de carbono tem atraído produtor brasileiro

Funcionários do governo, executivos e especialistas em clima dizem que o Brasil, uma potência agrícola, pode lucrar com políticas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis e outros métodos de retirada de dióxido de carbono da atmosfera. Essas iniciativas geram créditos de carbono que os agricultores podem vender para empresas que estão sob pressão para cancelar suas próprias emissões. Atualmente, o Brasil não impõe limites de emissão, mas produtores de alimentos já vendem créditos de carbono nos chamados mercados voluntários para empresas que buscam compensar suas emissões. Os defensores do mercado de carbono dizem que um ambiente mais formal poderia impulsionar a economia do Brasil. Segundo a Cultivo, empresa com sede na Califórnia (EUA) que conecta potenciais compradores das chamadas compensações de carbono com projetos sustentáveis para financiar, o potencial de captura de carbono no Brasil é muito maior do que em muitos outros países, em grande parte devido à vasta biodiversidade encontrada nas florestas tropicais.

A Cultivo identificou 100 mil hectares de terras no Brasil que podem ser adicionados ao seu portfólio de projetos nos próximos meses. A participação do Brasil no potencial mundial de sequestro de carbono é de 15%, nível igualado apenas pelo da Indonésia, segundo relatório publicado em maio pela McKinsey e o Fórum Econômico Mundial. Empresas globais já estão buscando explorar esse potencial do Brasil. A Bayer estabeleceu um programa com o objetivo de estimular agricultores brasileiros a manter o carbono no solo. Os 414 produtores de milho e soja inscritos no programa adotam medidas como a rotação de safras para que a vegetação de captura de carbono esteja sempre presente. A Bayer espera que a iniciativa ajude a expandir sua base de clientes, já que produtores de alimentos enfrentam cada vez mais pressão de consumidores preocupados com a mudança climática.

Ao mesmo tempo, agricultores podem se beneficiar do suporte técnico da Bayer, de maior produtividade e de uma melhor imagem ambiental para seus clientes. Descobrir quais culturas, produtos químicos e métodos agrícolas são melhores para armazenar carbono é um passo fundamental. A Bayer está usando um aparelho da Agrorobótica, entre outros métodos, para medir o progresso dos agricultores. A Agrorobótica, startup com 30 funcionários e 500 clientes em 18 dos 27 Estados brasileiros, usa uma perfuradora instalada em uma caminhonete para extrair amostras de solo do tamanho de uma moeda de 1 dólar de uma profundidade de um metro. As amostras são enviadas a um laboratório em São Carlos (SP), onde a máquina da companhia usa pulsos de laser para medir em minutos a quantidade de dióxido de carbono que o solo contém, método usado pela NASA para analisar amostras de solo marciano.

A Agrorobótica faz parte de um número crescente de empresas de análise de solo no Brasil e seu sistema está entre algumas das tecnologias de medição de carbono aprovadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os agricultores que trabalham com a Bayer ainda não estão vendendo créditos de carbono, mas outros já estão monetizando seu armazenamento de carbono. Segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais, os produtores de café que usam métodos certificados como sustentáveis estão recebendo até 50% mais do que o preço de mercado por meio de contratos privados com torrefadoras estrangeiras que buscam melhorar sua imagem ambiental. Faria sentido mudar do sistema atual de comércio voluntário de carbono para um mercado organizado. Se houvesse um mercado regulado, muito mais gente entraria. Isso seria bom para os produtores e fantástico para o meio ambiente. O estabelecimento de um mercado formal depende de regulamentação global e doméstica.

Autoridades brasileiras e outros observadores esperam que a conferência sobre mudança climática das Nações Unidas, que acontece em novembro em Glasgow, comece a estabelecer padrões para um mercado global de comércio de créditos de carbono. O Ministério do Meio Ambiente do Brasil afirmou que a legislação introduzida nos últimos anos está abrindo caminho para mais acordos geradores de crédito, financiando a agricultura sustentável e a proteção florestal. No entanto, o Brasil dificilmente adotará um mercado de carbono como os da União Europeia e da Califórnia. Em lugares onde existem mercados formais de carbono, as emissões são regulamentadas pelo governo e as companhias que poluem menos podem vender créditos a empresas que ultrapassem as metas. Cerca de 60% da Amazônia, um dos maiores estoques de carbono do mundo, fica no Brasil.

Ambientalistas dizem que os benefícios climáticos de uma agricultura sustentável podem ser ofuscados se o desmatamento, que se acelerou desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, continuar em ritmo acelerado. Neste ano até maio, cerca de 255 mil hectares de floresta foram perdidos, de acordo com dados oficiais preliminares. Isso representa um aumento de 25% em relação ao ano anterior. A Nature Conservancy questionou o que o setor privado fez para realmente mudar suas práticas. Os frigoríficos brasileiros, por exemplo, são frequentemente acusados de não garantir que o gado criado em terras desmatadas ilegalmente não entrará em sua cadeia de suprimento. A Suzano afirmou que os mercados de carbono podem desempenhar um papel na proteção da Amazônia. O Brasil tem uma grande oportunidade de monetizar a redução do desmatamento ilegal e o sequestro de carbono na região. A Suzano afirmou que suas operações retiram cerca de cinco vezes mais dióxido de carbono da atmosfera do que liberam, o que resultou no sequestro líquido de 15 milhões de toneladas do gás de efeito estufa em 2020.

A expectativa é de que o carbono será negociável num futuro próximo em uma escala muito maior. Um projeto de lei em estágio inicial no Congresso brasileiro visa criar um mercado interno para créditos de carbono. O Brasil tem uma imagem ruim no que diz respeito ao meio ambiente. O País precisa mostrar ao mundo que o Brasil não é refém de políticas equivocadas do governo. Agricultores e pecuaristas brasileiros têm sofrido durante anos críticas de que suas vastas plantações, pastagens e animais contribuem para o aquecimento global. Muitos esperam que as compensações de carbono possam melhorar sua reputação, ao mesmo tempo que geram um dinheiro extra. Há muita expectativa entre os produtores de alimentos. Eles querem fazer parte dos mercados de carbono. Alguns porque realmente querem safras mais sustentáveis, e alguns por causa da renda agregada. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.