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06/Jul/2021

A importância global para os valores sustentáveis

Há muitas razões pelas quais o ano de 2021 é considerado crucial para a sustentabilidade global, a começar pelo choque econômico e social da pandemia. A presidência de Joe Biden nos Estados Unidos também impulsionará uma agenda mais progressista, e há uma pressão difusa para que a conferência sobre o clima da ONU, a COP-26, avance em pautas que ficaram indefinidas nos últimos anos, como a regulação do mercado de carbono. No Brasil há um complicador: a hostilidade do governo a causas ligadas à sustentabilidade, como a defesa do meio ambiente ou das minorias. Isso coloca ainda mais em pauta a atuação do setor privado. Felizmente, as condições globais são favoráveis, tanto no ecossistema do investimento como no do consumo. Uma pesquisa do UBS BB Global Banking com mais de 5 mil investidores mostrou que 70% gostariam que seus investimentos fossem alinhados a valores sustentáveis.

Segundo o Barômetro de Confiança Edelman, 97% dos consumidores esperam marcas engajadas na solução de problemas sociais. No Brasil, as questões mais apontadas foram a pobreza (58%); o bem-estar (53%); segurança (52%); questões trabalhistas (52%); mudança climática (51%); e racismo estrutural (51%). O movimento é irreversível, ainda mais quando se considera o engajamento das novas gerações. Mas, há desafios a serem vencidos. Um deles é a regulação das “finanças verdes”. O Brasil precisa avançar muito na criação de incentivos à cadeia sustentável. Em contrapartida, não se pode correr o risco de adotar padrões que sufoquem as empresas com exigências descabidas, prejudicando sua competitividade. Outro problema é o chamado greenwashing, o emprego de uma retórica sustentável para efeitos de marketing que não corresponde às reais práticas das empresas. Não faltam boas métricas globais de sustentabilidade. Os especialistas, contudo, também apontam a carência no Brasil de bons sistemas de informações e critérios de adaptação à realidade local.

Mas, além destas externalidades, há desafios intrínsecos à teoria e à prática do ESG. Idealmente, e a longo prazo, é fácil vislumbrar que os interesses ambientais e sociais convergem. Não pode haver prosperidade em um planeta ambientalmente degradado. Mas, na prática e a curto prazo, pode haver conflitos e a necessidade de transacionar perdas e ganhos. Assim como grandes programas de infraestrutura, por exemplo, podem gerar crescimento e empregos, mas com danos ambientais, exigências ambientais excessivas sobre o setor energético ou agrícola podem encarecer demais os preços básicos, onerando os mais pobres e agravando desigualdades. Analogamente, do ponto de vista ideal, os interesses dos acionistas (“shareholders”) podem e devem ser harmonizados aos dos chamados “stakeholders” (“partes interessadas”), como empregados, fornecedores, consumidores ou comunidades locais). Mas, de novo, a curto prazo, as empresas podem ser obrigadas a fazer escolhas em prejuízo da sua lucratividade. Negar esses possíveis conflitos é contraproducente para a causa ESG.

Reconhecê-los implica estabelecer estratégias de curto, médio e longo prazos. Do ponto de vista dos investidores, por exemplo, nem sempre o boicote ou o desinvestimento é a melhor opção. Eles podem também usar seu voto em conselhos e assembleias para orientar o comportamento das empresas rumo a compromissos sustentáveis de longo prazo, mas assumindo que isso pode significar menos lucros no curto prazo. Do ponto de vista da sociedade civil e seus ativistas, é preciso calibrar as exigências feitas às empresas com a clareza de que as melhores ferramentas para garantir a defesa do meio ambiente e o progresso econômico são a ação democrática e o Estado de Direito, que permitem, entre outras coisas, estabelecer redes de proteção social, regras de transparência ou taxas de emissão de carbono. A responsabilidade das empresas e o dever do Estado não são excludentes, ao contrário. Mas, é importante ter claro quais são as respectivas prioridades. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.