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05/Jul/2021

Amazônia tem alta nos focos de incêndio em junho

A Amazônia registrou 2.308 focos de incêndio em junho, maior número para o mês desde 2007. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Desde 2019, a gestão Jair Bolsonaro tem sido alvo de críticas no Brasil e no exterior, pelos recordes seguidos destruição. Para combater crimes ambientais, o governo tem apostado em operações militares, mas os registros de perda vegetal continuam altos. A maior parte das queimadas (66,5%) foi em Mato Grosso, seguido por Pará (18,4%) e Rondônia (5,7%). As terras indígenas da região, que são áreas protegidas, tiveram 110 ocorrências de incêndio. Um terço desses focos foi no Parque do Xingu (MT). Entre as áreas de conservação federais, houve 30 focos. A região mais afetada foi a do Parque Nacional dos Campos Amazônicos (13). Houve 29 registros em unidades de conservação estaduais, principalmente na Área Ambiental da Chapada Maranhense (13).

Segundo o Observatório do Clima, a alta de incêndios está ligada, principalmente, a três fatores. O primeiro é o tempo seco que começa a predominar na região e dura até setembro. Há também troncos de árvores caídos no chão, como consequência do desmate, que servem de combustível para o fogo. O terceiro elemento é o próprio fogo, que não costuma surgir espontaneamente neste bioma. A percepção dos criminosos é de que estão protegidos pelo presidente. O governo Bolsonaro abriu mão de controlar as queimadas na Amazônia. Há críticas sobre o enfraquecimento institucional de órgãos ambientais, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que ainda sofrem com déficit de servidores e de verba. Atualmente, ser fiscal do Ibama é profissão de risco. Corre o risco de ser intimidado no campo pelos criminosos ou de receber processo administrativo. Já o madeireiro ou grileiro ilegal está tranquilo porque não há ninguém fiscalizando.

Uma análise feita por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Woodwell Climate Research Center mostra que, somadas a mais uma seca intensificada pelo fenômeno La Niña, áreas desmatadas e ainda não queimadas podem aumentar a incidência de queimadas na Amazônia especialmente de julho a setembro deste ano. O levantamento aponta que há quase 5 mil quilômetros quadrados de área nessas condições. O pior ano é aquele em que se tem muito desmatamento e muita queimada para limpeza de área aberta. Ou um ano muito seco. Essa é uma combinação muito explosiva. Aparentemente, é o que vai acontecer agora em 2021. O cenário é crítico especialmente no sul do Amazonas. No dia 29 de junho, Bolsonaro editou decreto que proíbe queimadas para práticas agropastoris em todo o País por 120 dias. No dia anterior, ele havia autorizado nova atuação de militares na Amazônia, com prazo até o fim de agosto.

A medida, no modelo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), vale para terras indígenas, unidades federais de conservação ambiental, em áreas de propriedade ou sob posse da União, e, se pedido pelos governadores, em outras áreas dos Estados de Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Especialistas fazem ressalvas sobre o uso das tropas na região, uma vez que elas não têm a mesma expertise que os agentes ambientais no combate a desmate e queimadas. Ainda segundo especialistas, a crise hídrica que o País enfrenta, e ameaça um novo problema de abastecimento de energia, pode ter origem no alto índice de desmate da Amazônia. Metade da chuva das Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste é gerada pela transpiração da floresta. Quando há desmatamento e queimadas, os mecanismos de controle do clima no País são alterados. O Ministério da Defesa afirmou que as Forças Armadas vão realizar ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais. A Operação Samaúma, com emprego de Marinha, Exército e Aeronáutica, teve início no dia 28 de junho.

As Forças Armadas atuarão de modo coordenado com o Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), buscando a articulação com os órgãos e entidades de proteção ambiental e os órgãos de segurança pública. A operação terá apoio do Grupo Integrado para a Proteção da Amazônia (Gipam), que conta com integrantes de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entre outros órgãos federais. Este grupo, por meio de metodologia científica de sensoriamento remoto de satélites, radares e aerolevantamento, apoiará na seleção de áreas prioritárias para a atuação das Forças Armadas e demais órgãos envolvidos no combate ao desmatamento. O estudo do Ipam fez uma lista com os dez municípios na Amazônia com mais área desmatada e não queimada desde 2019. Entre eles, somente um, Lábrea (AM), também faz parte da lista de 26 municípios que inicialmente receberão as Forças Armadas. É muito importante que os governantes dos Estados e o governo federal se atentem para esse mapeamento de onde estão as áreas críticas.

O número de pontos de incêndio no Cerrado também foi recorde. Foram registrados 4.181 focos em junho, quase 20% a mais do que no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, 9.568 focos de incêndio foram registrados no bioma. São os maiores números desde 2010, tanto para este junho quanto para o semestre inteiro. O Tocantins responde por mais de um quarto desses focos, 1.134. As unidades de conservação estaduais concentram 216 pontos de incêndio e as federais, 182. Outros 645 foram em terras indígenas. Três Estados da região central do Brasil (Minas, Goiás e Mato Grosso do Sul) tiveram alerta de emergência hídrica por falta de chuva. A chegada da temporada de incêndios mobiliza os governos da região. Em Mato Grosso, onde a proibição do uso de fogo na agropecuária foi antecipada em 15 dias, até uma brigada indígena foi criada. O Instituto Chico Mendes (ICMBio) vai contratar 1,2 mil brigadistas para reforçar a proteção das unidades de conservação.

Apesar de o agronegócio ter hoje mais consciência ambiental do que tinha há uma década, o avanço da fronteira agrícola colabora para o avanço das queimadas. Hoje, é senso comum em uma parte do agronegócio que o desmatamento precisa acabar. Mas, na prática, ainda há um alto índice de desmatamento relacionado ao avanço da fronteira agrícola na Amazônia e no Cerrado. No dia 24 de junho, uma brigada de pronto emprego com 100 brigadistas, dividida em 14 esquadrões, se colocou em prontidão em Brasília (DF) para ir a qualquer unidade de conservação do País em caso de incêndio. Na Caatinga, a situação é igualmente preocupante. O bioma registrou 354 focos de queimada em junho, 326% a mais do que em junho de 2020. As queimadas no Pantanal, que aumentaram bastante nos dois primeiros anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, diminuíram. Em junho deste ano houve 98 focos de incêndio, ante 406 no ano passado. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.