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30/Jun/2021

Câmbio amortece pressão altista sobre alimentos

A pressão sobre os preços dos alimentos foi mais intensa na segunda metade de 2020, mas continuou a gerar inflação ao longo deste ano, afetando, sobretudo, a renda das famílias de renda mais baixa. O aumento dos custos da alimentação foi observado em todo o mundo desde a chegada da pandemia, que recolocou na agenda global o tema da segurança alimentar. O subsídio à agricultura tem sido mal compreendido, porque ele não se destina ao produtor, mas ao consumidor, operando como um instrumento de uma política mais ampla de segurança na alimentação das famílias. No ano passado, o grupo alimentação foi responsável por 65,6% na composição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subindo 14,09% diante de uma inflação de 4,52%.

O peso do grupo no cálculo da inflação girou em torno de 21,04%. No acumulado entre janeiro e maio deste ano, com o IPCA registrando 3,22% no período, a contribuição dos alimentos foi reduzida para menos de 15,0%, variando 2,28%. O IPCA passou a ser puxado principalmente pelos combustíveis e pela energia elétrica nos últimos meses. A acomodação do câmbio entre março e as duas primeiras semanas de junho ajudou a amenizar os focos altistas. A quebra na produção global de grãos nos últimos dois anos veio acompanhada de um aumento da demanda no mundo todo, resultando em estoques mais baixos e preços em elevação. Os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) registram quedas de 13% e 23,2% nos estoques de passagem de milho e soja entre os ciclos 2018/2019 e 2020/2021 em todo o globo.

As reservas de milho saíram de 322,52 milhões para 280,6 milhões de toneladas, passando a representar menos de três meses de consumo. Os estoques finais de soja em grão baixaram de 114,58 milhões para 88,0 milhões de toneladas, algo equivalente a 87 dias de consumo. Na safra 2019/2020, em ambos os casos, o mundo acumulava estoques suficientes para fazer frente aproximadamente ao consumo de 98 dias. No Brasil, a opção por uma agenda macroeconômica liberalizante levou o governo a abandonar virtualmente a política de estoques reguladores. A escolha trouxe complicações na área do combate à inflação ao retirar do governo a opção de manejar aqueles estoques de forma a limitar o estrago produzido aqui dentro pela elevação dos preços externos.

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os estoques públicos foram praticamente zerados para os principais grãos. Em agosto de 1988, já em plena entressafra, por meio de Aquisições do Governo Federal (AGF), os estoques públicos de arroz e feijão somavam, respectivamente, 5,272 milhões e 178,76 mil toneladas. Em maio deste ano, restavam 21,556 mil toneladas de arroz nos estoques públicos. As reservas de feijão encontram-se zeradas pelo menos desde 2017 e permanecem assim neste ano. Componente estratégico na alimentação animal, o milho chegou a somar estoques de 7,354 milhões de toneladas em julho de 1987. Mas desde 2017 o governo não registra um único grão de milho em seus armazéns.

A falta de estoques reduziu a capacidade de reação do governo a pressões altistas. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) reconhece que o novo ciclo de alta nos preços das commodities agrícolas, inaugurado por volta do começo do segundo semestre do ano passado, trouxe de fato impactos negativos sobre a inflação brasileira, num efeito potencializado pela forte desvalorização do Real diante do dólar. Em contrapartida, o aumento das exportações do agronegócio, impulsionado principalmente pelos preços médios muito mais elevados neste ano e pela maior competitividade da produção brasileira em função do dólar mais caro, contribuiu para gerar um resultado mais favorável na balança comercial do País. O saldo positivo entre exportações e importações abre um espaço maior de manobra, em termos macroeconômicos, para que o governo possa mitigar parcialmente a pressão inflacionária doméstica.

O dólar médio neste ano tende a registrar níveis inferiores àqueles observados no segundo semestre do ano passado, quando a cotação da moeda chegou a superar R$ 5,90 em alguns momentos, o que deverá se refletir sobre os preços dos grãos. Esse fator não deverá impedir que os preços das commodities mantenham-se elevados. Mas, tenderá a amortecer as pressões altistas. Os preços médios da soja e do milho na Bolsa de Chicago subiram 75,5% e 106,2% entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano, mas registravam baixas pouco acima de 3,0% na comparação entre maio e as cotações médias registradas nos primeiros 17 dias de junho deste ano. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.