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23/Jun/2021

Crise hídrica deve limitar o PIB Agrícola em 2021

Principal motor do crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre, o setor agropecuário poderá perder dinamismo e encerrar 2021 com Produto Interno Bruto (PIB) estável depois de quatro anos consecutivos de crescimento. Diante da consolidação das estimativas de quebras de safra em lavouras como milho, café, cana-de-açúcar e laranja, devido ao baixo volume de chuvas, a previsão é de estabilidade neste ano, e não de expansão do PIB do campo. O cenário poderá se agravar caso restrições para o uso da água, em estudo pelo governo, devido à crise hídrica, de fato sejam adotadas e afetem a produção de frutas e hortifrutigranjeiros. A soja, responsável por mais da metade da safra recorde de grãos neste ciclo 2020/2021, já teve sua colheita concluída e não corre riscos, o que minimiza o impacto. Mas, os riscos para a agricultura estão claros e mapeados por especialistas e produtores, que alertam, ainda, para a alta dos custos de produção nas culturas irrigadas em função da alta dos preços da energia elétrica, usada para captar a água.

Com o cenário de escassez de água se consolidando, principalmente em junho, há revisão no cenário para o PIB agropecuário em 2021 para estabilidade. O Brasil vem de quatro anos de crescimento do PIB Agro, então uma estabilidade é relevante. Até porque o PIB Agro tem sustentado o PIB como um todo. As quebras da 2ª safra de 2021 de milho e safra da cana-de-açúcar são as principais influências negativas. A possibilidade de reflexo do problema para os preços também não é descartada. No caso do milho, o efeito da falta de chuvas já apareceu no preço, embora acompanhada por outros fatores, como o aumento da demanda e a valorização do cereal no mercado internacional. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera a chance de que a restrição de água para culturas irrigadas tenha impacto posterior sobre oferta e preços em alguns segmentos, como hortifrútis, lavouras de ciclo curto de pronto consumo nas cidades.

O impacto da crise hídrica no setor é acompanhado de perto. Um dos principais impactos da falta de chuvas no setor agrícola aparece no milho, segundo grão mais cultivado no País. As estimativas mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas no início deste mês, sinalizaram que a produção total de milho (1ª, 2ª e 3ª safras) em 2021 será de 99,2 milhões de toneladas, 3,9% inferior à de 2020, apesar de aumentos de 6% na área plantada e de 6,2% na colhida, incentivados pelos preços altos. Sem chuva já em setembro e outubro, os produtores atrasaram o plantio de soja nesta safra 2020/2021. Com isso, a 2ª safra de milho 2021 (cerca de 74% dela plantado na sequência da colheita de soja) perdeu a janela climática ideal e enfrenta as consequências do clima seco. O milho 2ª safra de 2021 ainda está se desenvolvendo. É possível que haja novas avaliações de produção nos próximos meses.

A estimativa atual do IBGE para a 2ª safra de milho de 2021 é de 73,3 milhões de toneladas, mas o volume ficará mais perto de 65 milhões. Se o clima estivesse melhor, era para termos uma colheita entre 85 milhões e 90 milhões de toneladas, diante do tamanho da área plantada e do nível de tecnologia investido nesta safra. O governo estuda uma Medida Provisória para ampliar os poderes do Ministério de Minas e Energia (MME) na gestão dos recursos hídricos do País, incluindo os reservatórios das hidrelétricas, e privilegiar a oferta de água necessária para geração de energia, em detrimento de outros usos em agricultura e irrigação, transporte fluvial e turismo. Neste contexto, é grande a preocupação com possíveis limitações para o uso de água para a irrigação, a qual é usada para entre 3% e 4% da área plantada no Brasil, 8,2 milhões de hectares, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA).

Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apesar de ocupar uma pequena parcela do território, o impacto seria relevante, especialmente para pequenos e médios produtores, que lidam mais com hortifrútis de ciclo curto. Será a classe mais pobre na agricultura que vai sofrer mais. Porém, não há mais muito o que fazer, em termos de prevenção, para minimizar o impacto da atual crise hídrica na cultura irrigada. Já há relatos de que produtores no Rio Grande do Sul limitaram a área plantada de arroz, por exemplo, por perceberem baixo nível de água nos reservatórios. Cerca de 80% do arroz cultivado no País está concentrada no Rio Grande do Sul (70%) e em Santa Catarina (10%), onde a maior parte das plantações é irrigada. O custo maior da energia elétrica, que compromete a rentabilidade do produtor, já é uma realidade. Ainda que o governo não decida por restrições, não se pode descartar o risco de faltar água para irrigação. Existe essa preocupação em algumas regiões. E só o aumento da energia elétrica já complica a situação do produtor de áreas irrigadas.

Pela legislação, a oferta de água para irrigação é a primeira a ser cortada em caso de crise hídrica (lei 9433 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos). Na regulamentação, a prioridade no uso da água é a população. Depois vêm os animais e, em seguida, outras atividades como irrigação. É lamentável que as culturas irrigadas não tenham mais importância em termos de estratégia governamental. A irrigação ajudou a elevar a produtividade agrícola brasileira nos últimos 40 anos. Ela permite acelerar período de cultivo e garante segurança contra riscos climáticos. O problema atual não pode ser considerado apenas como de “falta de água” nos reservatórios, e sim de ausência de ações de preservação de água, com políticas voltadas para estimular estocagem em propriedades rurais, com uso de barragens. O Código Florestal do País não permite essa prática. A estiagem que atinge os reservatórios é a mesma que atinge a agricultura. Água para produzir energia tem substitutos, como térmica e solar. Água para produzir comida não tem substituto. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.