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23/Jun/2021

Agronegócio: exportações serão recordes em 2021

Segundo Marcos Jank, coordenador do centro Agro Global do Insper, as exportações do agronegócio brasileiro devem alcançar US$ 120 bilhões neste ano, 20% a mais do que em 2020 e recorde histórico, e contribuir com saldo positivo de pelo menos US$ 100 bilhões na balança comercial. O recorde pode e deve ser festejado. Mas, é bom lembrar que está entre os fatores de aumento da inflação de alimentos no País, algo que deve ser contornado com maior produção e/ou abertura para os produtos agrícolas importados. Essa onda favorável é resultado de uma “combinação de astros”: o Real desvalorizado, que torna os produtos menos caros para o importador, e a demanda aquecida na China e em outros países asiáticos. Outro astro importante é a disparada dos preços das commodities agropecuárias no mercado internacional. “Estamos vivendo um boom nos preços com duração em aberto, mas que irá até 2023, pelo menos. Dali para a frente, a demanda continuará aquecida, até por causa da recuperação das economias.

Se a oferta não acompanhar a demanda, teremos um boom mais longo, como nos anos 1970 e 2000”, afirmou Jank. Ele criticou especialmente o elevado grau de protecionismo do Brasil, inclusive na área agrícola. Ele concorda com o corte unilateral de tarifas de importação do Mercosul, como propôs o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas lembra que o benefício dessa medida estará na maior integração da produção do bloco com as cadeias internacionais e não nas futuras negociação de acordos comerciais, como argumenta Guedes. “Está é uma agenda perdida neste governo, como foi nos governos do PT. Vamos ser sinceros: a gente não faz nada desde 2002. A gente perdeu a onda dos acordos comerciais”, afirmou, reforçando que os Estados Unidos, Europa e Ásia se moveram de forma ambiciosa nessa direção. “Nós ficamos a ver navios.” Para o especialista em agronegócios, as chances de o Brasil (com ou sem os seus sócios do Mercosul) correr atrás do atraso nessa agenda não são nada factíveis. O obstáculo está no protecionismo em escalada no mundo todo.

“Depois da pandemia, haverá tendência protecionista”, afirma Jank. Ele explica que muitos países estão se valendo das expressões “soberania alimentar” e “autossuficiência”, que na prática significam proteção aos seus setores agropecuários. A adoção de barreiras técnicas sanitárias e fitossanitárias deve ser outro instrumento à mão. E uma nova carga de subsídios que distorcem o comércio começa a ser liderada por governos ao setor. “A China hoje subsidia mais a sua agricultura do que a União Europeia inteira”, afirmou, referindo-se ao bloco que, há décadas, distribui volumosa subvenção a seus produtores agrícolas. Marcos Jank diz que solução para a inflação é aumento de oferta, com a expansão das lavouras para os pastos. A esse contexto negativo, soma-se o fato de o agronegócio brasileiro ter se transformado em vilão mundial do desmatamento. Jank explica que o Brasil desmata menos atualmente (cerca de 1 milhão de hectares ao ano) do que em 2004 (3 milhões de hectares ao ano).

Mas, hoje em dia, não adianta mais valer-se desse argumento.

O atual governo não foi capaz de trazer a média anual de desmatamento para o nível registrado de 2005 a 2012, de 500 mil hectares ao ano. Hoje, derrubar 1 milhão de hectares, com as cenas dos incêndios e dados precisos que alcançam o mundo inteiro, é a receita perfeita para os ataques à agropecuária brasileira. “A Amazônia é tema de maior visibilidade do Brasil do que samba e futebol. Está nas escolas do mundo todo”, afirmou. “Por 8 anos, o governo reduziu o desmatamento em 80%. Temos esse exemplo há 15 anos. Por que não conseguiríamos fazer o mesmo no espaço de dois governos?” Jank assina que, se o agronegócio brasileiro é apontado como vilão, de fato pode se tornar vítima e solução. Vítima porque os efeitos do desmatamento na Amazônia já são sentidos em regiões produtoras que dependem da unidade vinda da floresta. Os veranicos e as secas estão entre eles. E solução porque é o único grande produtor com duas safras ao ano e um dos raros com amplo uso de energia limpa. Além disso, o Brasil tem um Código Florestal pronto há quase 10 anos, mas ainda à espera de aprovação pela maioria dos Estados. A opção por ser apenas a vilã, entretanto, já começa a trazer efeitos no financiamento de exportações e nos investimentos do setor. Autor: Marcos Jank.