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21/Jun/2021

‘Imposto inflacionário’ pressiona as classes baixas

Estigma ainda recente da economia nacional, a inflação voltou a pressionar o orçamento das famílias no Brasil, em especial as de menor poder aquisitivo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a alta de preços atinge de maneira diferente ricos e pobres. Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, em março do ano passado, a inflação oficial acumulada medida pelo IPCA foi de 7,39%. Para as famílias com renda de até cinco salários-mínimos, porém, o índice medido pelo INPC foi maior, de 8,57%. No início da pandemia, os índices chegaram a registrar deflação nos meses de abril e maio de 2020, em meio à retração da atividade econômica e à onda de lockdowns em todo o País. Mas nos meses seguintes os indicadores voltaram a subir, puxados por questões específicas. O primeiro grande choque foi a alta do preço dos alimentos. Base da alimentação do brasileiro, o arroz disparou 76,01% no ano passado e o feijão preto subiu 45,38%. A alimentação em domicílio ficou 18,15% mais cara.

Embora a inflação atinja todas as famílias, o impacto maior recai sobre as classes mais baixas. Isso ocorre justamente porque produtos básicos, como alimentos, gás e serviços de energia elétrica, têm um peso maior na cesta de consumo destas famílias. Em outras palavras, os pobres gastam uma parcela maior da renda com comida, na comparação com os ricos. Quando o preço do arroz sobe muito, são os pobres os mais prejudicados. A inflação não é igual para todo mundo e incide mais desastrosamente sobre os mais pobres. As classes mais baixas estão tendo uma queda real no consumo enquanto as classes mais altas, que acumularam poupança durante a pandemia, se preparam para um aumento no consumo de serviços, que tem uma demanda represada. É por este motivo que, no Brasil, economistas costumam repetir que a inflação é o principal encargo sobre a população mais pobre. Era assim no período de hiperinflação, entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990, e continua sendo assim agora. É um 'imposto inflacionário', resume o Insper.

Com o mercado de trabalho fragilizado, o espaço para recomposição salarial é muito reduzido. Boa parcela da população está tendo perda de renda real (descontada a inflação). Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, em meio à crise provocada pela pandemia de Covid-19, apenas 38,5% dos reajustes salariais em 2020 resultaram em ganhos reais, ou seja, em aumentos acima da inflação. Outros 34,3% dos reajustes foram equivalentes à inflação e 27,2% ficaram abaixo do índice de preços. As classes mais baixas estão sofrendo um duplo efeito na renda. Primeiro pela pandemia, que afetou de forma mais séria o mercado informal, onde estão os mais pobres. Segundo porque isso é agravado pela inflação mais elevada. A inflação é sempre uma espécie de "imposto inflacionário". Claro que isso é tolerável em níveis baixos, de 2% a 3%. Mas, sempre que o índice sai disso, o imposto inflacionário se acentua, como está acontecendo agora. Quando a inflação aumenta, os preços ficam mais caros e o governo arrecada mais sem aumentar a alíquota de imposto.

A inflação produz um aumento de receita sem o governo fazer esforço nenhum. O efeito é ainda maior sobre os mais pobres, que consomem bens e serviços que são mais tributados do que a renda. Assim, as camadas mais vulneráveis bancam a maior parte do "imposto inflacionário". O aumento da inflação tem um efeito de melhora artificial das contas públicas, mas que não se sustenta no longo prazo. A inflação faz com que suba o valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Isso ocorre porque o preço dos bens produzidos na economia está mais alto, e não porque há aumento da atividade econômica propriamente dita. Crescendo o PIB, a relação entre dívida e PIB também fica menor em um primeiro momento. O problema é que não é sustentável. Não tem nada de estrutural acontecendo. O PIB potencial não aumentou, a produtividade está caindo, não aprovamos reformas para valer desde a Reforma da Previdência. Há risco de aumento de juros, de políticas externas afetarem a dinâmica da economia brasileira e o não avanço nas agendas que importam. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.