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07/Jun/2021

Impactos da crise hídrica nas culturas agrícolas

O Itaú BBA divulgou relatório sobre o impacto da crise hídrico na agropecuária. Os danos já vêm sendo observados há meses, desde o atraso no desenvolvimento das culturas perenes até impactos disseminados no milho 2ª safra de 2021 nos Estados. A questão ganha contornos piores pelo fato de que, na maior parte da Bacia do Paraná, as chuvas nos próximos três meses, que já são escassas normalmente, deverão seguir este padrão, o que agravará a condição dos reservatórios representando riscos para o abastecimento de energia e no agronegócio que é uma 'indústria a céu aberto'. Após janeiro de 2021 com boas chuvas, os meses de fevereiro a maio apresentaram volumes muito abaixo da média histórica, o que prejudicou o desenvolvimento de diversas culturas. Setores que já apresentam nítidos prejuízos decorrentes deste quadro:

Café: a safra 2021/2022, sendo colhida neste momento, foi bastante prejudicada pela seca desde o início do ciclo, com as floradas no último trimestre de 2020 seguidas de seca e altas temperaturas, o que levará a uma redução da produção de arábica de mais de 30% frente ao ano anterior. A safra 2022/2023, em tese de bienalidade alta, já tem algum grau de comprometimento, pois o insuficiente desenvolvimento vegetativo durante o primeiro semestre deste ano, se reflete em um menor número de internódios, e isso significará menor espaço para a formação dos botões florais e, consequentemente, menor formação dos grãos.

Laranja: São Paulo, o Estado mais importante para a produção citrícola, e onde a seca vem se mostrando bastante intensa, a perspectiva é de uma recuperação pequena da produção neste ano, da ordem de 9,5% segundo a primeira estimativa da Fundecitrus, isso após ter caído 30% no ano anterior. As áreas irrigadas de café e laranja também carregam preocupação para os próximos meses em função da já baixa disponibilidade de água nos reservatórios.

Cana-de-açúcar: a cultura já apresentava atraso de desenvolvimento causado pelo período seco de 2020 e aguardava as chuvas de verão de 2021 para sua recuperação. O baixo volume das precipitações de fevereiro a abril, porém, além de causar atraso na colheita também provocou impacto na produtividade, reduzindo a expectativa de produção. A estimativa de redução de moagem aliada à grande parte do açúcar já comprometido para exportação tem resultado na priorização da produção de açúcar. Esse cenário contribui para uma baixa oferta de etanol e nos faz projetar um balanço de O&D do biocombustível para a safra 2021/2022 mais apertado, o que deve fazer com que os preços de hidratado na bomba sigam a paridade próxima dos 70% da gasolina C durante toda a safra, e até superior em determinados momentos, por exemplo na entressafra.

Pecuária de corte e de leite: com as pastagens já bastante deterioradas em muitas regiões importantes de produção pecuária (leite e carne), casos de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, por exemplo, o viés é de baixa da produção, com o complicador do elevado custo da alimentação concentrada. No caso dos confinamentos, parte dos animais que poderia entrar na engorda intensiva, caso as margens projetadas para o segundo semestre não estivessem tão apertadas, pode ser mantida no pasto alongando a chegada ao ponto de abate.

Milho 2ª safra de 2021: embora a condição em Mato Grosso, principal estado produtor, não tenha sido tão ruim quanto em outros Estados, também são esperadas reduções no potencial produtivo. As lavouras do Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e São Paulo foram bastante afetadas, com estimativas da safra total circulando no mercado de até 60 milhões de toneladas, frente a um potencial próximo de 90 milhões de toneladas. Além de 35% da área da cultura no País ter sido instalada fora da janela ideal, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prejudicada pelo atraso no ciclo da soja, a falta de chuvas atingiu em cheio a cultura já na fase vegetativa. Além dos confinamentos de bovinos e na pecuária leiteira, a quebra do milho 2ª safra tem impacto direto nos setores de aves, suínos e ovos, que são intensivos em ração e já vêm pressionados pelos altos custos. Com isso, um possível alívio do preço do cereal para os elos demandantes ficará mais difícil, o que em última instância aumenta a necessidade de repasse dos preços das proteínas animais para os consumidores finais.

Trigo: embora a preocupação com as condições climáticas ainda persista sobre o produtor, o clima mais seco e as chuvas espaçadas ajudaram no momento de plantio do trigo nas últimas semanas. O ritmo de plantio, no entanto, segue abaixo do verificado no ano passado e, até o final de maio, a área plantada do cereal no Brasil chegou a 32,4% ante 37,4% na safra anterior. No Paraná, principal Estado produtor, até o último dia de maio a área plantada correspondia a 71%, enquanto a média dos últimos 5 anos no período foi de 67%. A condição da lavoura, que se encontra entre a fase de germinação e desenvolvimento, correspondeu a 91% em condições excelentes. O trigo é cultura rústica em relação à necessidade de chuvas, contudo, caso haja falta de umidade em momentos críticos do ciclo, como floração e enchimento de grãos, perdas significativas poderão ocorrer. Para as lavouras irrigadas na Região Centro-Oeste e em São Paulo, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios locais pois a baixa capacidade poderá comprometer o potencial de irrigação.

Arroz: a preocupação ainda é pequena para a cultura visto que a colheita da safra 2020/2021 encerrou há algumas semanas e apresentou bons índices de produtividade. Olhando para a próxima safra, cujo plantio inicia-se a partir de setembro, com o arroz sendo uma cultura em que 70% da produção ocorre em áreas alagadas no Rio Grande do Sul, a atenção se volta aos níveis dos reservatórios de água no Estado.

Feijão 2ª safra: a falta de chuvas também tem afetado a produção de feijão. No Paraná, maior Estado produtor, dos 40% de área plantada que ainda precisa ser colhida, 45% encontram-se classificadas como “ruim” influenciada por uma parcela relevante de áreas em frutificação, estágio fenológico muito sensível à redução de precipitações. Em Mato Grosso, segundo maior produtor, a produtividade também foi prejudicada, contudo, o aumento de 10% da área deve sustentar um aumento de produção frente ao ano passado.

Feijão 3ª safra: o plantio ocorre entre e abril e julho e é majoritariamente é irrigado, o risco também está nos baixos níveis dos reservatórios de tal sorte que poderá comprometer substancialmente a produtividade. A produção total do feijão terceira safra na temporada passada representou 27% da oferta nacional do produto.

Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.