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01/Jun/2021

Crise hídrica deverá afetar a atividade econômica

O alerta de emergência hídrica, decretado pelo governo na semana passada, não levou apenas os analistas a prever maior pressão sobre a inflação, mas colocou no topo das preocupações a serem monitoradas no curto prazo um possível impacto negativo sobre a atividade econômica no segundo semestre deste ano. Apesar de o Ministério de Minas e Energia descartar um racionamento de energia elétrica, como aconteceu em 2001, e de especialistas do setor também considerarem baixo o risco de uma medida dessa ser adotada, os economistas do mercado financeiro mostram-se preocupados. O tema foi recorrente nos relatórios enviados aos clientes no fim de semana. Mesmo se um racionamento conseguir ser evitado, qual o impacto sobre a confiança dos agentes econômicos que a piora da situação hídrica pode causar no segundo semestre deste ano?

"O noticiário relacionado ao impacto da estiagem deste ano sobre o fornecimento de energia cria uma incerteza adicional sobre o ritmo da recuperação econômica até o fim do ano", escreveram os economistas do banco JPMorgan. "Em nossas estimativas, nós supomos que a maior parte do impacto será sobre os preços, sem restrições de fornecimento, mas reconhecemos que o balanço de riscos está mudando em direção a um entrave potencial a alguns setores, ao menos." Os investidores certamente vão monitorar os próximos dados de precipitação pluviométrica, especialmente na bacia do Rio Paraná, e os níveis dos reservatórios do Centro-Oeste e do Sudeste, que respondem por mais da metade da geração de energia pelas hidrelétricas brasileiras.

Aliás, em relação à bacia do Rio Paraná, que responde por 53% da capacidade de geração de energia do País, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu reter uma maior quantidade de água nas barragens das hidrelétricas de Jupiá - localizada entre as cidades de Andradina, Castilho (SP) e Três Lagoas (MS), e de Porto Primavera, na divisa dos municípios de Rosana (SP) e Batayporã (MS). "A medida pode prejudicar outras atividades que dependem de fluxo fluvial, como a pesca, transporte e captação para irrigação e consumo humano", destacaram os analistas da Guide Investimentos.

Na sexta-feira (28/05), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que, durante o mês de junho, vai vigorar no País o nível 2 da bandeira vermelha, o que acrescentaria às contas de luz dos consumidores um valor adicional de R$ 6,24 para cada 100 KWh de energia consumidos. A consultoria LCA estima uma inflação de 5,5% em 2021, citando como uma das razões para essa alta nos preços "um cenário hídrico mais desafiador". Já os economistas do banco Safra revisaram a projeção do PIB em 2021 para 3,9%, citando um desempenho acima do esperado no primeiro trimestre e melhor perspectiva para o segundo trimestre. "Apesar da visão construtiva do primeiro semestre, a redução do poder de compra, aliada ao risco cada vez mais concreto de uma eventual crise energética indicam um segundo semestre desafiador", disseram os economistas do Safra em nota a clientes.

Como a perspectiva é de pouca chuva durante os meses de inverno para o Centro-Oeste e o Sudeste, é muito provável que o noticiário sobre a crise hídrica possa causar maior ruído no mercado. O Ministério das Minas e Energia já determinou o acionamento de usinas térmicas para diminuir o risco de racionamento. Mas, isso não vai dissipar o crescente nervosismo do mercado, caso o nível dos principais reservatórios do País siga caindo. "A crise hídrica nos faz lembrar que o PIB potencial do País certamente não melhorou e a retomada cíclica é limitada por velhos gargalos econômicos", afirmaram os gestores da BlueLine Asset Management em nota a clientes. Ou seja, o fantasma dos apagões de 2001 poderá voltar a rondar o mercado em breve. Fonte: Fábio Alves. Agência Estado.