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20/Mai/2021

Argentina: nova crise entre governo e ruralistas

O veto da Argentina às exportações de carne por 30 dias deflagrou uma nova crise entre o governo e o setor rural. No dia 17 de maio, o presidente Alberto Fernández anunciou a suspensão da venda de carne bovina para o exterior com o objetivo de reduzir o preço no mercado interno. Os produtores anunciaram que deixarão de vender carne. A proibição tem eficácia questionável e pode ter motivações eleitorais. As relações entre o campo e o governo Fernández nunca foram boas, porque o setor rural vê o kirchnerismo com desconfiança. Mas, esse é, sem dúvida, o pior momento da relação entre as partes. Entre abril de 2020 e abril de 2021, o preço da carne subiu 100%, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, enquanto a inflação ao consumidor foi de 46,3%. Mesmo assim, o veto às exportações é questionável como ferramenta para reduzir o preço no mercado interno.

O veto não terá impacto significativo. Na lógica do governo, proibir as exportações aumentará a oferta no mercado local e fará os preços caírem. Mas, os produtores vão paralisar as atividades. Representantes da Mesa de Enlace, grupo que reúne as principais entidades do agronegócio argentino, decidiram paralisar atividades por nove dias. A decisão de associações como Sociedade Rural Argentina (SRA) e Confederações Rurais Argentinas (CRA) deve reduzir a oferta e, consequentemente, pode elevar os preços. Esta não é a primeira vez que a Argentina proíbe exportações de carne. Em 2006, o governo da então presidente Cristina Kirchner vetou vendas ao exterior, o que levou à perda de mais de 10 milhões de cabeças de gado e elevou o preço no médio prazo. Diante da medida, os produtores liquidaram estoques (as matrizes de reprodução) e passaram a se dedicar a outras produções, como soja e milho.

A Sociedade Rural de Rosário lembrou que à época houve não somente perda do estoque bovino, mas escassez de carne no mercado doméstico, o que fez o preço da carne subir novamente. Isso é explicado por que o processo de produção de carne leva cerca de dois anos. Representantes do setor agropecuário compararam a decisão do governo à resolução 125, de 2008, que estabelecia imposto às exportações de soja que variavam conforme o preço da commodity no mercado internacional. A medida resultou em quatro meses de enfrentamento entre Cristina Kirchner e o setor. O setor não quer que a situação chegue a esse ponto. O veto do governo às exportações de carne pode ter motivação eleitoral. Com a inflação superando em muito a expectativa do governo, há risco de a aprovação de Fernández ser impactada, em um ano em que ele precisa de apoio nas eleições legislativas, em outubro.

Mas, esse mecanismo não resolve a questão estrutural da inflação e terá custos políticos para o presidente junto aos governadores. Os governadores de Córdoba e de Santa Fé criticaram a medida e afirmaram que mudar as regras prejudicam a produção no longo prazo. A proibição mostra que sempre que a situação fica difícil, o governo se fecha. Indica ainda a preferência que Fernández tem dado a políticas heterodoxas. Essa abordagem econômica encabeçada pelo ministro de Produção tem se sobressaído em relação a alternativas mais moderadas, representadas pelo ministro da Economia. Ao observar os principais eventos de política econômica dos últimos dois anos, na maioria deles, Fernández optou por medidas menos favoráveis aos negócios do que se acreditava que ele faria quando era candidato. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.