19/Mai/2021
Segundo o Rabobank, o mundo não está necessariamente revivendo um novo "superciclo de commodities". Mesmo com a "reviravolta" observada no Commodity Research Bureau (CRB), índice que mede os preços globais de commodities, logo no início da pandemia de coronavírus, há fatores que impulsionam os preços em dólar e que não necessariamente estão atrelados a um novo superciclo. De abril de 2020 até hoje, o CRB subiu 55% e, de 2001 até 2011, 180%. Agora, entretanto, quando se observa o que está acontecendo em relação a políticas fiscais e monetárias no mundo, consegue-se entender de onde está vindo parte da demanda por essas commodities.
Desta forma, não seria um movimento generalizado, mas pontuado em algumas situações. Há por exemplo os planos fiscais de Joe Biden (presidente dos Estados Unidos), que praticamente já têm assegurados quase US$ 6 trilhões, sendo US$ 4 trilhões só em infraestrutura, o que demandará por exemplo mais commodities metálicas. Uma grande dúvida, porém, é se ele consegue passar de fato todos esses programas de seu pacote. Outro fator a impulsionar preços é o crescimento robusto da China e planos fiscais da União Europeia. Mesmo com todos esses fatores, que podem impulsionar a demanda por commodities agrícolas e outras, a percepção é de que mundo não esteja passando por um novo superciclo de commodities.
E uma das razões para isso é que, lá atrás, quando se observou de fato um superciclo, o índice CRB cresceu de 2001 até 2011 na base de 180%. Atualmente, entre abril de 2020 e hoje, o mesmo índice avançou 55%. Mas, também, naquela época, houve a emergência da China, que entrou em peso, comprando grande parte das commodities. Agora, há setores específicos em crescimento, que faz com que o CRB esteja tão pujante neste momento. Assim, chamar a atual alta de preços de commodities em nível global parece exagerado. Em primeiro lugar, há uma grande mudança do mercado global, que é a peste suína africana (PSA) na China.
A PSA começou em 2018 na China, ganhou força em 2019 e reduziu o plantel de suínos à metade no país, que era o maior produtor mundial da proteína, o que foi uma mudança enorme, provocando uma necessidade grande da China de importar carnes. Desta forma, a necessidade da China em recompor o rebanho (em termos menos caseiros e mais modernos a partir de agora) torna o país muito mais dependente de ração e, consequentemente, de grãos como milho e soja. Impactos desse surto de PSA na China podem durar por vários anos. Esta reconstrução do plantel de suínos está puxando a demanda expressiva de grãos, especialmente soja e milho.
Outro fator pontual que mexe nos preços internacionais é a incerteza sobre 2ª safra de 2021 de milho no Brasil, que, além de ter sido plantada fora da janela ideal, enfrenta agora uma seca nas regiões produtoras. Há também dúvidas em relação à safra de milho nos Estados Unidos. A época é de plantio e ainda não se sabe se realmente as perspectivas otimistas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em termos de plantio e produtividade vão se concretizar. Então, por enquanto o momento é próximo de recordes de preço em dólar para soja e milho, mas é preciso estar atento a esses mercados muito mais à frente. Mesmo que as previsões otimistas do USDA se concretizem, a demanda global por grãos deve seguir aquecida. Fonte: Agência Estado.