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14/Mai/2021

Alta de commodities deverá seguir no curto prazo

Em meio à recuperação da economia global da crise do coronavírus, os preços de commodities têm registrado alta generalizada e consistente. Fatores localizados e temporários também impulsionam os contratos no mercado futuro (para recordes históricos, em alguns casos) e criam um cenário de incertezas. Analistas preveem a continuidade deste movimento a curto prazo, mas riscos à demanda e a normalização gradual dos suprimentos devem frear o impulso das commodities no decorrer do ano. Se a perspectiva geral provoca mais dúvidas do que respostas, o setor de energia tem tido trajetória mais consistente com a evolução da crise sanitária, o que deve se manter. Ainda que o recrudescimento da pandemia de Covid-19 na Índia, terceiro principal importador global de petróleo, provoque certa cautela, é esperado que a demanda mundial pelo óleo cresça no segundo semestre do ano, enquanto a oferta deve ficar contida no curto prazo, dando suporte aos preços.

Em seu relatório de expectativas para o segundo trimestre de 2021, a Capital Economics avalia que o petróleo deve subir um pouco mais nos próximos seis meses, com o consumo nos Estados Unidos puxando a alta. Cerca de 58% dos adultos no país já receberam ao menos uma dose dos imunizantes contra a Covid-19, e a meta do governo norte-americano é atingir a taxa de 70% da população vacinada até o dia 4 de julho, dia em que os Estados Unidos comemoram a sua independência. A retomada das atividades no país aumentará o consumo de combustíveis, à medida que mais viagens de carro e aviões sejam feitas. O petróleo já atingiu um equilíbrio após o choque da demanda no ano passado, e agora parece ter eliminado boa parte do excesso de estoque e os sinais de um possível déficit de oferta na segunda metade do ano. Antes uma preocupação do mercado em relação à demanda, a tendência pelo trabalho remoto após a pandemia de Covid-19 pode ser mais um fator a impulsionar o consumo de combustíveis, ao menos nos Estados Unidos, segundo o Bank of America (BofA).

Estudos indicam que no período anterior à pandemia, a parcela dos norte-americanos em home office dirigia cerca de 20% a mais em relação àqueles que se deslocavam para ir ao trabalho. Este dado desafia a crença de que o trabalho remoto diminui a demanda por combustível, e levanta questões sobre até que ponto a demanda por gasolina em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se recuperará. Segundo o Rabobank, a trajetória de pressão inflacionária nos Estados Unidos também deve dar suporte ao petróleo. Observa-se um aumento na demanda por contratos de petróleo futuro em fundos de investimento negociados em bolsa (ETF), com investidores institucionais em busca de ativos para fazer hedge em meio à esperada alta nos índices de preços nos Estados Unidos. Com a provável manutenção da política monetária acomodatícia pelo Federal Reserve (Fed), esta tendência não deve desaparecer tão cedo.

Segundo a Capital Economics, a alta do petróleo não deve se sustentar para além do terceiro trimestre deste ano. A maior oferta da commodity energética, o avanço nos preços e o aumento gradual da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) devem fazer com que a oferta ultrapasse a demanda nos três últimos meses do ano, levando o mercado a um nível excedente em 2022. A Capital Economics também associa a possível queda do petróleo no fim do ano ao esperado avanço do dólar e à desaceleração da economia da China, com a retirada de estímulos adotados por Pequim em meio à crise. Esses dois fatores têm potencial para afetar toda a cadeia de commodities, principalmente a dos metais industriais, como o cobre, que recentemente saltou ao seu maior nível da história na London Metal Exchange (LME), sob apoio da divulgação da balança comercial chinesa de abril. Apesar do saldo comercial ter superado as expectativas do mercado, a China registrou menor volume de importações de commodities em abril, em tendência que deve continuar com o menor crescimento do país e a elevação dos preços.

Diante disso, o rally dos metais industriais está desassociado dos fundamentos da economia global, e uma correção deve ocorrer até o fim do ano. O Commerzbank afirma que o fato de os preços terem se descolado dos dados indica que há um excesso de oferta dos metais industriais no mercado. A instituição espera uma correção, que pode ser íngreme e pouco duradoura, a partir da segunda metade do ano, mas não descarta a possibilidade de os preços subirem ainda mais no segundo trimestre por conta do impulso atual. O ING, por outro lado, crê que a retomada da economia dos Estados Unidos irá suportar a demanda por commodities metálicas por um período mais longo. O forte apoio fiscal no país elevou em US$ 3 trilhões o volume das poupanças de norte-americanos, em relação ao terceiro trimestre de 2019, o que deve dar fôlego à demanda de consumidores à medida que as restrições sanitárias forem relaxadas, diz a instituição.

Uma vez que os estoques de metais nos Estados Unidos estão em níveis historicamente baixos, a maior demanda por produtos físicos puxará as importações no país, oferecendo novo impulso às commodities metálicas. O mercado imobiliário é outro setor da economia norte-americana que pode elevar as importações de metais básicos. Taxas baixas de hipotecas estimularam uma demanda mais robusta por residências, enquanto o número de casas à venda no país registra recorde em baixa, Estes dois fatores estimulam uma alta nas construções. Para os metais preciosos, há três fatores que devem influenciar os preços este ano: dólar, juros dos Treasuries e a trajetória inflacionária nos Estados Unidos. A aceleração econômica americana deve fazer com que a moeda suba, assim como os retornos dos títulos da dívida pública, o que deve pesar sobre o contrato do ouro. A perspectiva de alta na inflação do país, no entanto, tem aumentado a demanda de investidores por ouro, considerado um ativo seguro para fazer hedge em períodos de pressão nos índices de preços.

Ainda assim, este movimento não deve se sustentar ao longo do ano. Embora a questão da inflação esteja ganhando destaque por várias razões, nenhuma delas deve elevar os preços do ouro e da prata de forma duradoura, já que enfrentamos uma inflação boa, resultante da recuperação econômica, e não uma inflação ruim, sinalizando uma perda de confiança nas principais moedas do mundo. Iniciativas como a reunião da Cúpula do Clima, organizada no mês passado pelos Estados Unidos tem mostrado que algumas das principais economias globais estão se movendo em direção à descarbonização. Neste cenário, é difícil acreditar em uma perspectiva positiva para o petróleo nesta década. O preço do óleo atingirá seu nível máximo por volta de 2025, antes do consumo da commodity energética recuar nos anos seguintes. Metais industriais, alguns essenciais para a economia verde, tomarão o lugar do petróleo e devem se beneficiar nos próximos anos. Os ganhos serão gerais.

Não só o preço do cobre (considerado um bom condutor de energia para sistemas de captação que utilizam fontes renováveis) deve aumentar, como também de metais ligados a baterias, como o cobalto e o lítio, para suprir a demanda por veículos movidos a energia elétrica. Os planos de investimento em infraestrutura do governo Biden podem impulsionar commodities ligadas a setores mais tradicionais da economia, como o aço. No entanto, há cautela em relação à previsão de que a maior demanda por metais dará início a um novo superciclo de commodities. Com a China se movendo para uma economia mais voltada aos serviços, o mesmo impulso que o país asiático deu ao mercado na primeira década do século XXI deverá vir de outras regiões para que o mesmo ocorra. É possível que isso ocorra diante dos esforços por uma economia mais sustentável, mas esse movimento parece uma "elevação cíclica". Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.