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27/Abr/2021

Projeção é de aumento nas captações sustentáveis

A retomada do compromisso dos Estados Unidos com a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030 deve potencializar um tipo de investimento que tem crescido forte nos últimos anos: os títulos de dívida corporativa com compromissos sustentáveis. A expectativa é de que o engajamento dos Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo, puxe outros países para a causa e incentive investidores e empresas a colocar a sustentabilidade na lista de prioridades nas captações de recursos. Companhias brasileiras de diferentes setores já fizeram emissões internacionais com esse tipo de compromisso, e começam a testar o apetite do investidor local por esses investimentos. Até o ano passado, haviam sido emitidos, a nível global, US$ 500 bilhões em títulos corporativos relacionados a compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG), de acordo com levantamento do Bank of America (BofA).

A maior demanda do mercado financeiro por investimentos sustentáveis ajuda a explicar esse montante. O compromisso do governo norte-americano, agora, tende a criar um efeito cascata. Em ESG as iniciativas podem ser voluntárias, quando os provedores de capital demandam das empresas a transição de economia sustentável, ou impositivas. Segundo o Itaú BBA, os Estados Unidos vão assinar o compromisso e levá-lo para a economia, por meio de incentivo ou penalização. Esse movimento demandará o envolvimento das companhias. Para o Bradesco BBI, o compromisso dos Estados Unidos é um impulso importante para toda a indústria financeira. Os fundos norte-americanos devem ganhar maior relevância nesse mercado como compradores, o que é benéfico para as companhias emissoras. Até aqui, a Europa sempre teve o maior "bolso" para as emissões de títulos sustentáveis por empresas. Entre os tipos de estrutura utilizados nas captações de títulos sustentáveis, os greenbonds (títulos verdes) são os mais antigos e representam 60% do estoque de US$ 500 bilhões do levantamento do BofA.

Nesse tipo de emissão, o recurso captado é "carimbado", porque a empresa tem de utilizar o dinheiro em projetos que tenham comprovadamente um compromisso ambiental, social ou ambos. Mas, é uma outra estrutura que tem ganhado espaço desde 2019: a dos sustentability linked bonds (SLB), ou títulos ligados a sustentabilidade, em que o juro anualmente pago para os investidores que compraram o título pode aumentar se não forem cumpridas pela empresa promessas relacionadas a metas sustentáveis, como a de redução das emissões de suas atividades. A Enel foi a primeira companhia a emitir esse título, em 2019, levantando US$ 4,9 bilhões. Até o final do ano passado, os SLB somavam US$ 15,8 bilhões. Nos últimos dias, Natura e Iochpe-Maxion informaram que pretendem emitir SLBs no exterior. Em janeiro, das 14 captações externas feitas por empresas brasileiras, quatro foram via SLB, e três via greenbonds. A primeira companhia do País a emitir um SLB foi a Suzano, no ano passado.

A empresa de papel e celulose se tornou também a primeira de seu setor a adotar a estrutura. Nos SLBs, a estratégia de negócio da empresa converge com uma de sustentabilidade, e a partir disso são definidas metas de longo prazo. É uma estrutura mais avançada do que aquelas em que o dinheiro é carimbado, porque integra a sustentabilidade a todo o negócio da companhia. Os SLBs oferecem ao investidor uma visão mais palpável do impacto positivo no meio ambiente ou em termos sociais, enquanto nos greenbonds, embora o recurso seja direcionado a um projeto sustentável específico, não há medida do impacto real que esse projeto possui. As empresas brasileiras começam a testar o apetite para títulos de dívida na estrutura SLB também no mercado local. O Boticário emitiu no ano passado títulos SLB no mercado brasileiro, com metas relacionadas ao maior uso de energia renovável em sua operação. Nessa mesma linha, a Via Varejo está nesse momento apresentando seus SLBs ao investidor local, e pretende levantar R$ 1 bilhão com os papéis.

A consolidação no mercado internacional está sendo um importante driver para o mercado local acelerar e acompanhar esse movimento. O Itaú BBA destaca que o investidor brasileiro ainda está amadurecendo, e que o pequeno número de fundos dedicados a sustentabilidade no País ainda não permite o benefício da queda no custo da emissão para as empresas, algo que acontece em outros países. No exterior, os fundos dedicados competem pelos papéis SLB, o que ainda não acontece no Brasil porque não existem tantos fundos. Essa disputa pelos papéis normalmente leva a uma queda na taxa de remuneração que oferecem ao investidor, e que representa o custo da captação para a empresa. Nesse sentido, o Itaú BBA tem ancorado operações e sinalizado para as companhias sua preferência de participar como estruturador em emissões sustentáveis. O banco está disposto a incentivar essa prática como investidor. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.