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15/Abr/2021

Queda na renda mudando os hábitos de consumo

A situação de maior aperto das famílias brasileiras alcançou as prateleiras dos supermercados. Além de uma desaceleração nas vendas, as redes observam mudanças de hábitos do consumidor, com o cliente mais sensível a preços, voltado às marcas próprias (mais baratas) e a trocas na cesta de consumo, como a substituição da carne vermelha por frango. Analistas avaliam, porém, um efeito limitado ao setor. Fatores como o aumento do consumo por grupos de maior poder aquisitivo, que têm passado mais tempo dentro de casa, ajudam a diminuir o impacto negativo. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) apurou uma queda de 6,7% nas vendas em fevereiro em relação a janeiro, segundo o Índice Nacional de Consumo (INC), da própria entidade. Os meses de fevereiro e março mostram uma situação mais desafiadora ao setor, uma vez que os dados de janeiro ainda foram influenciados pelos resquícios do auxílio emergencial.

O dado de fevereiro também foi impactado pela ausência do Carnaval e os três dias a menos em relação em relação a janeiro. O efeito mais visível da piora condição dos brasileiros é a troca que os consumidores passam a fazer para gastar menos. O que está sendo observado em relação à queda de renda da população é um movimento de substituição dos produtos. O novo auxílio emergencial do governo, que começou a ser pago em abril, deve destinar montantes menores para o consumo nos supermercados do que o observado na primeira fase de ajuda, no ano passado. Apesar disso, a associação mantém, por enquanto, a previsão de crescimento de 4,5% em 2021. A meta costuma ser revista no segundo semestre. A desaceleração no ritmo das vendas nos supermercados também aparece nos dados oficiais de comércio. A categoria teve uma das maiores quedas na pesquisa de varejo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com retração de 4,6% em fevereiro, na comparação com igual mês de 2020.

O varejo como um todo apresentou um aumento de 0,6% no consumo em relação a janeiro, e queda de 3,8% em relação a fevereiro do ano passado. Segundo a XP, apesar da desaceleração (e queda) da categoria de supermercados, isso ainda não é uma com preocupação, pois essa queda pode ser explicada por um efeito de base, uma vez que fevereiro de 2020 contou com um dia a mais (ano bissexto) além de ter tido o Carnaval, que é um evento bastante relevante para a demanda do setor. O fato de a população ainda não poder comer fora e passar mais tempo em casa segue como fator positivo nas vendas. Porém, a sensibilidade maior dos clientes a preços é um tema comentado pelas redes. Isso explica a preferência por ações de redes de atacarejo, com o papel do Grupo Mateus como preferido. A avaliação é de que esse segmento é mais resiliente em tempos de menor renda da população. Para a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) há ainda outros fatores que justificam os grandes supermercados não sentirem de maneira mais intensa em seus números a fome que atinge a população.

A inflação de alimentos faz com que os números de receita do setor continuem crescendo mesmo quando o volume de mercadorias vendido cai. Inflação é o imposto do pobre. Isso faz com que as pessoas comprem menos, mas o faturamento continua. Em razão da pandemia, uma parte da população continua com demanda mais alta por alimentos nos supermercados. As classes mais altas têm passado mais tempo em casa e, portanto, consomem mais alimentos. Elas não têm saído para comer fora ou gastado com outros serviços. Esse fenômeno aumenta as condições das redes para repassar aos consumidores os aumentos dos produtores e fornecedores sem perder margens. Na prática, a receita cresce em razão da inflação e as margens de lucro não diminuem. Assim, mesmo que uma parcela importante da população consuma menos alimentos, as contas das grandes redes de supermercados seguem positivas.

Um ponto de atenção para o setor, porém, é exatamente a alta continuada da inflação. Os níveis do IPCA (índice oficial de preços) começam a preocupar os gestores. Até agora, os supermercados viram o aumento de preços impulsionar seus balanços, mas isso tem limite. Depois de um certo nível de alta de preços, a demanda é afetada. A inflação muito alta impede esse repasse de preços ao consumidor e espreme as margens do varejo alimentar. Há dúvidas sobre o desempenho das redes populares no atual momento de piora da renda. Os atacarejos cresceram no início da crise porque a perda do público de autônomos e transformadores foi compensada por novos clientes pessoas físicas que migraram para esse modelo mais barato. Agora, na segunda onda, esse modelo pode sofrer mais, bem como redes que atendem os principais beneficiários do auxílio emergencial. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.