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30/Mar/2021

Títulos Verdes: demanda é maior do que a oferta

Reintroduzir espécies extintas ou ameaçadas, reduzir consumo de água e de emissão de poluentes e investir em frotas de veículos com combustível limpo são alguns dos compromissos estabelecidos por companhias brasileiras em emissões de bônus recentes. E a demanda por esses títulos tem sido superior à oferta. Além dos green bonds, ligados à sustentabilidade, começam a aparecer no mercado os chamados SLB (títulos de dívida atrelados a metas de sustentabilidade), que preveem punições à empresa que não cumprir o prometido no prazo, com acréscimo na remuneração aos investidores. Papéis com esse compromisso têm sido muito atraentes para investidores, especialmente internacionais. Nas emissões feitas de meados de 2020 para cá, a demanda superou a oferta em até dez vezes para esse tipo de título. Com maior procura, os juros são inferiores aos de emissões convencionais. Hoje, tem mais dinheiro com esse viés do que oferta de ativos.

A Simpar (holding que controla seis empresas, entre elas JSL e Movida) fez em fevereiro emissão internacional de R$ 450 milhões. Foi uma demanda pensando em 3 investidores, mas 12 foram atraídos e não foi possível atender a todos. A empresa se comprometeu em reduzir emissão de gases de efeito estufa em suas operações até 2025. Uma das ações será substituir a frota de veículos a diesel por elétricos. O grupo já tinha feito em janeiro uma captação internacional com selo sustentável, em dólar. A oferta inicial, de US$ 500 milhões, teve demanda cinco vezes maior, o que levou o grupo a ampliá-la para US$ 625 milhões e ratear o valor com juros mais baixos. Para o banco Morgan Stanley, os produtos disponíveis versus a quantidade de dinheiro investido em fundos ESG (ambiental, social e governança) são claramente desbalanceados. A maioria dos grandes gestores de dinheiro no mundo estão convergindo para a preocupação com o meio ambiente.

Eles perceberam que a população mais jovem se importa em obter retorno com o dinheiro aplicado, mas usado de maneira mais consciente. É com esse pensamento que tem crescido a emissão de bônus sustentáveis pelas empresas mais fortemente na Europa e Estados Unidos, e recentemente no Brasil. Dados da plataforma Sitawi indicam que as emissões de títulos com viés ESG somaram US$ 5,3 bilhões em 2020, o dobro do ano anterior. E só nos dois primeiros meses deste ano já estão em US$ 5 bilhões. Em janeiro, a Klabin fez emissão de US$ 500 milhões em títulos SLB, mas a demanda foi dez vezes maior. Outras emissões também tiveram demanda forte, mas, nesse caso, certamente foi por causa dos compromissos verdes. Isso permitiu espremer a taxa para 3,2% ao ano; se não fosse verde, provavelmente seria 3,6%. As metas propostas pela Klabin até 2025 são redução do consumo de água no processo produtivo, aumento de reúso e reciclagem de resíduo sólido e reintrodução de duas espécies extintas ou ameaçadas de extinção em áreas florestais da empresa.

Apesar de o mercado de capitais brasileiro ser pouco amadurecido, a percepção “verde” é um caminho sem volta. A Suzano emitiu US$ 750 milhões em bônus atrelados a metas de sustentabilidade em setembro e teve demanda dez vezes superior. Diante da oportunidade, reabriu a emissão dois meses depois e captou mais US$ 500 milhões com um diferencial: os juros pelo SLB ficaram em 3,1% ao ano, a menor taxa para uma empresa brasileira nesse tipo de operação. Na anterior, foi de 3,95%. O mercado está muito demandante de papéis com características ESG e a oferta ainda não dá conta. Há cinco anos, a Suzano não tinha nenhuma transação feita dessa forma e hoje 30% da dívida da empresa é ligada a metas de sustentabilidade. A tendência é de aumento de transações em que se possa premiar com menor custo de capital empresas com boas iniciativas. As metas da Suzano são redução de emissão de gases de efeito estufa e de captação industrial de água. A Rumo é outra que fez emissão com foco ESG em junho, de US$ 500 milhões, e teve demanda cinco vezes maior.

A empresa se comprometeu a direcionar recursos para reduzir emissões em 15% até 2025, financiar projetos de substituição e aquisição de material rodante mais moderno e extensão e modernização das vias férreas. A Suzano reclama que surgiram múltiplas agências de classificação de risco de ESG com critérios díspares. Tem agência que diz que, só por estar no Brasil já vai ter um downgrade (rebaixamento). Também não há regulamento específico sobre critérios para um fundo ser considerado ESG. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) constituiu em 2020 um grupo consultivo para discutir o tema e mapear os fundos sustentáveis no Brasil. Ainda é um mercado fragmentado, inclusive no exterior, e precisa de mais transparência nas informações e clareza nos critérios. Embora represente pequena fração do universo de investimentos no Brasil, fundos verdes para pessoas físicas e jurídicas registram alta significativa nos últimos dois anos.

Segundo especialistas, a pandemia colocou uma lente de aumento para problemas estruturais por causa das questões sociais e ambientais. Com demanda em alta, as instituições financeiras ampliaram a oferta de produtos em seus portfólios. A Anbima identificou até o momento 167 fundos com algum foco em ESG (meio ambiente, social e governança), embora nem todos já tenham selo verde. Do total, 44 foram criados no ano passado. Até fevereiro, fundos de ações com viés de sustentabilidade e governança somam patrimônio líquido de R$ 1,07 bilhão, 30% a mais que no fechamento de 2020 e o dobro de 2019. Outra categoria de investimento, a de ETFs ESG (fundos negociados na Bolsa) passou de R$ 105,2 milhões em 2019 para R$ 277 milhões no primeiro bimestre deste ano. A Itaú Asset tem duas opções de ETFs em seu portfólio “verde”, além de quatro fundos que, juntos, somam R$ 173,1 milhões.

A Itaú Asset tem sob sua gestão R$ 770 bilhões em ativos. Independente do selo verde, a gestora analisa todos os ativos de olho nos aspectos sociais e sustentáveis. Europa e Estados Unidos estão muito avançados na jornada dos investimentos sustentáveis, que no Brasil ainda é embrionária. Mas, gestores de fundos começam a enxergar suas vantagens e a criar produtos dedicados, segundo a XP. A corretora entrou no segmento ESG há dez meses e já lançou 20 fundos, atendendo à demanda dos clientes. A linha acumula mais de R$ 800 milhões, ou 5% da carteira total. Há crescimento do universo de investimentos sustentáveis, mas no País ainda é menos de 1% do patrimônio líquido total dos fundos de ações. Eles, porém, se comportam melhor em períodos de crise, oscilam menos e desvalorizam menos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.