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28/Mar/2023

Riscos para sistema financeiro global permanecem

O súbito colapso do Silicon Valley Bank foi provocado em parte por ativos que perderam valor com a alta das taxas de juros, que antes estavam perto de zero. Juros mais altos continuarão exercendo pressão nos balanços dos bancos. Também devem causar problemas em outros setores da economia. Os bancos perderam dinheiro com títulos sensíveis às taxas de juros, como títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas. Essas perdas devem aumentar se as taxas continuarem subindo. Se, como espera o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), as taxas desacelerarem a economia para aliviar a inflação, os bancos ainda podem enfrentar outras perdas. Um dos riscos está no segmento de imóveis comerciais. Os proprietários de prédios de escritórios com baixa ocupação podem ter dificuldades para pagar dívidas. Isso pode prejudicar os títulos lastreados em hipotecas comerciais já em queda. Cada vez mais, os depósitos bancários estão sem seguro. Outro risco são os depósitos inconstantes.

Os bancos aproveitaram uma enxurrada de depósitos durante a pandemia, quando as famílias dos Estados Unidos acumularam cerca de US$ 2,3 trilhões em poupanças em 2020 e 2021, segundo o Fed. As empresas também optaram por fazer depósitos bancários porque não havia alternativa para obter rendimentos razoáveis e seguros. Mas, uma parcela crescente dos fundos depositados em bancos ultrapassava o limite segurado da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), de US$ 250 mil. Quase US$ 8 trilhões em depósitos no fim de 2022 não tinham seguro, um aumento de quase 41% em relação ao fim de 2019, de acordo com relatórios registrados na FDIC aos quais o The Wall Street Journal teve acesso. Quase 200 bancos estariam em risco de quebrar se metade dos depositantes não segurados retirasse seus recursos do sistema bancário, segundo artigo publicado por economistas da University of Southern California, Northwestern University, Columbia University e Stanford University.

Os bancos aproveitaram os depósitos e investiram em títulos lastreados em hipotecas avaliados em US$ 2,8 trilhões no fim de 2022, ou cerca de 53% dos investimentos securitizados, ajudando a sustentar um boom imobiliário durante a pandemia. Os proprietários de imóveis residenciais ganharam US$ 1,5 trilhão em patrimônio em 2020 em relação ao ano anterior, com a alta dos preços, segundo a CoreLogic. As vendas de casas já existentes caíram 22,6% em fevereiro em relação ao ano anterior, enquanto o preço médio desses imóveis caiu pela primeira vez em 11 anos. Pelas regras contábeis, os bancos não precisam reconhecer perdas na maioria de seus ativos, a menos que os vendam. As perdas não realizadas nos títulos lastreados em hipotecas dos bancos foram de US$ 368 bilhões no fim de 2022, de acordo com dados da FDIC. Muitos temem que a alta das taxas de juros obrigue outros bancos regionais a vender ativos com prejuízo, derrubando os preços. Para lidar com esse risco, o Fed oferecerá empréstimos sem descontos a bancos que ofereçam como garantia ativos como títulos do Tesouro que perderam valor.

As perdas não realizadas em títulos de dívida imobiliária comercial atingiram US$ 43 bilhões no último trimestre, segundo dados da FDIC. Os bancos tinham em mãos US$ 444 bilhões desses títulos no final de 2022. Mas, os proprietários estão sob pressão porque as empresas reduziram o espaço, com os funcionários trabalhando remotamente. A previsão é de que as taxas de vacância de escritórios continuem aumentando até 2024, segundo a empresa de pesquisa e serviços imobiliários comerciais CBRE. Os proprietários também fazem empréstimos para comprar imóveis, e os bancos pequenos detêm US$ 2,3 trilhões em dívidas imobiliárias comerciais, segundo a Trepp, ou cerca de 80% das hipotecas comerciais em poder dos bancos. A combinação de menor receita operacional gerada com escritórios e um custo mais alto de financiamento, se persistir, deve reduzir as avaliações desses imóveis ao longo do tempo. No fim do ano passado, os bancos tinham em mãos US$ 17,5 trilhões em empréstimos e títulos, enquanto o patrimônio no sistema bancário era de mais de US$ 2 trilhões, como mostram os dados da FDIC.

O total de perdas não realizadas estimadas nos empréstimos bancários chegou a US$ 1,7 trilhão, de acordo com a Universidade de Nova York. Os problemas nos segmentos de private equity e de dívida privada são difíceis de quantificar. Pode haver riscos ocultos em outros segmentos do sistema financeiro. As empresas de private equity captam recursos ou tomam empréstimos para comprar ativos como empresas e imóveis. Elas oferecem retornos mais altos aos investidores, muitas vezes fazendo apostas arriscadas que podem acabar custando mais caro. O lado positivo disso é que ninguém confunde tais investimentos com depósitos bancários segurados. O negativo é que o private equity e o segmento de dívida privada são buracos negros no sistema financeiro. O total de ativos administrados no mercado de private equity atingiu US$ 11,7 trilhões em junho passado, segundo a McKinsey. Empresas de private equity levantaram volumes recordes de dinheiro nos últimos anos e anunciaram quase US$ 730 bilhões em investimentos, segundo a Ernst & Young. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.